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Francisco Miguel de Moura - [Poeta Brasileiro]

O TODO NOS ESPERA


Por que esta vontade louca

de /ser

.......des

..............es

.....................pe

............................ra

...................................da

..........................................mente

?

se

o TODO é quem me espera?




Será porque amamos

o improvável Deus,

seja o que for, princípio, meio e fim?



Os outros “nós” só nos enxergam

quando estão com fome, sede ou repartidos

e jogados ao frio da partícula fianl.



A esperança determina o mundo

e seus abismos...

Ou nos soverteremos à planície

de ismos e truísmos.



O todo nos aguarda em toda a eternidade

do que somos e não somos.

(Teresina, 16/6/2010)



ENTRE O MAR E A TERRA


O verde-escuro mar-oceano

ora se veste de verde-claro.

E é vero

e me preparo.



Do “eu” profundo me declaro

Amante do mar-esperança

Onde não há fundo.



A terra é o mundo,

Seu verde mais puro,

Seu sol de mais luz,

Seu ventre constante.



Ou o mar é o mundo?



Como chegar-se ao fundo,

Como viver, completa, a cor

Que não vemos e não fomos?



O verde do mar é mais verdade

Que o verde que é o verde mais puro.



DOS ESPELHOS


De manhã, com gosto de vida,

Todos os espelhos são claros.

A graça do dia entra sutilmente

Pelos poros que a noite nos doou.

E algumas caretices

Que o mágico não consegue quebrar.



Pelo meio dia eu vivo e não me importa

Se alguém me abre ou fecha a porta:

Soluciono os meus problemas.



Espelhos, que me dizem à tarde?

O que não sou. É tarde!

Dizem aos outros também

A meu lado e do lado de lá.



Ninguém por isto nos veda

A perfurá-los, na escuridão, até o fim.



INSÔNIA DO POETA

“A noite é um pássaro que vem do fim do mundo”
                                     (Anderson Braga Horta)


A noite não tem alma, nem estrela. É expurgo.

Desconsolado, odeio-a porque os homens dormem.

Dormir, dormir! Por quê? Escuridão enorme em

Campo livre a ser guiado por fero demiurgo.



Poeta de horas insones, traiçoeira é a noite

Entre poema e ânsia – para os outros, sonho;

Viram cinza as imagens dum vésper risonho

Em natimortos versos, ‘té que a luz te açoite.



Caminhar é tropeço, um raio acende os olhos,

Óculos de longo curso obscurecem mentes...

A noite já namora um pobre vagabundo.



Desvairado, anoitece o mundo em meus escolhos,

Um flagelo, uma dor... Purgação dos dementes!

“A noite é um pássaro que vem do fim do mundo”.



NÃO SABEMOS...


Não sabemos das pontes

Não sabemos dos trechos.



Quem saberá do começo

Da grande jornada,

Do fim e do preço?



Há momentos vazios,

Que não esvaziam no endereço,

Sem relógio de tempo.



Não sabemos das contas,

Dos laços e traços do eixo.



Mas, se sabemos de algo,

Onde e como estamos

No mundo, perdidos...

Ganhamos o avesso.







NÃO SER


Escuro – o não-ser ainda sendo.

Não ser o quê? – Nada dizendo.



Ninguém para me ouvir

Ninguém para falar-me



Quem me vai ler (ou declamar)?

Quem vai sentir a pele, o quente/frio?

Quem vai ter o gosto de amar?

Quem vai parir?

Quem vai parar?



“Nada a declarar...”

– A poesia do que não existe.



A palavra sem lugar.



NÊNIA DE AMIZADE
(p/ Damario da Cruz, poeta a Bahia)


Damário Matos da Cruz vive

a plenitude... Não é glória, mas é tudo.

Bem melhor! O que o encantou

na luta p’la arte que mantém

Salvador com seus santos,

inobstante estranhos cantos

de Tio Sam.



Hoje, um pouco solitária, salva a dor!



Aqui deixou amores e linguagem

em poesia, palavras, fotos,

fatos, risos, fulgores.

Amigos, filhos, paixões,

talvez discípulos,

que têm saudades e é tudo que sabem.



Mas saudades se enterram nos dias

que cada um transpõe.

Poemas não se enterram em papéis,

marcas do que ficou... Leve o tempo

na alma, na pele, na língua, na alegria

de ter vivido as terras e o povo da Bahia.



A morte não trouxe outro sofrimento,

além das dores agônicas da carne,

carne que viveu, sentiu, pagou seu carma.



Livre agora está e aliviado dos cansaços,

por isto seguem versos, meus abraços

que voam como asas:

Deus doou-as.

(The. 25 /05/2010)


O INSTANTE
“sob o fio da navalha dança
o vacilante coração dos instante”
(Aricy Curvello)

Inocente, insensível corte

sem sinal (nem gesto)

branco, puro ou impuro,

de sangue não se veste.



Irreverente e fundo,

como quem desnuda,

depois do nada, o tudo,

o instante é um – tiro

ao alvo, perdido, mudo.



O instante não se acaba,

desfeito, é um termporal.

Longe – já vem perto,

chegado, é grito primal.



Na carne, na alma, eis o bruxo,

instantâneo infarto cronúsculo.



A DESORAS


1

Desengonçado e magro de dar dó,

Filho de mãe tão linda como a lenda

Da bela e a fera, o pai fora encomenda.

E por irmão, ninguém... Vivia só.



Mas conseguiu crescer, ficar melhor

Nos seus modos, na fala e no semblante.

Na mocidade, um jovem elegante,

Dominava os salões com seu calor.



A herança do berço era a madrinha,

Que o educou em tudo que convinha,

Tanto era o amor que o cego nem queria.



Querido era das moças, seus tesouros,

Todas vinham queixar-se já em choros,

Por causa das paixões sem companhia.



2



Não pressentiu, da vida, o passar leve

Por entre os olhos, sem lhe ouvir os passos,

Buscando amigos e os melhores laços

Donde o ouro pudesse chegar breve.



Não pressentiu que tal matéria inscreve

Apenas cinzas nos anseios vãos,

Que os poderes sem alma valem “nãos”

Se o corpo pesa, se a cabeça é neve.



Desanimado, o mundo ficou velho,

Os jovens sabem mais e dão conselho

E as ciências desmentem salvação.



Bambas as pernas e crescido o abdômen

Somem as glórias entre os dedos do homem

Porque o amor morreu de inanição.



3



Voltar ao seu passado é um desatino,

Não há vidas passadas, nada muda

Nem reencarnação nenhuma ajuda,

Há de cumprir todo homem seu destino.



Quem já nasceu existirá sem fim,

A criação é eterna, a vida escorre

Como um rio... Que importa que a dor torre

Cabeça e membros, coração e rim?



Ser rico ou pobre, ser bonito ou feio,

Ser negro ou branco, ter melhor esteio

Onde deitar-se e dominar seu “eu”...



Nada muda um milímetro do eterno,

Pode subir ao céu, cair no inferno,

Não passa o homem de outro Prometeu.



SONO ESQUÁLIDO

o sono castigo

ou apenas (penas?!)

agonia do corpo

incorpora roncos

histórias roucas

sem nexo com sexo

às vezes plexo

mas sono do dono

que se prega

contando carneiros

e só se desprega

de manhã para

engulho trabalho

quando o dia entorna

luz e apaga as sombras

dos sonhos imemóricos.


PAZ/CIÊNCIA

Paz! Ciência! Sem palavra.


Diz de ti, sinceramente,

O que nunca ousaste de ninguém,

Do mundo que te pariu,

De mim, de mais alguém.

Meu silêncio é tua voz.



Diz-te integral e una,

Ancorada na voz do meu o silêncio,

Qual uma nau perdida no oceano

Diria aos ventos e às ondas.



Todo silêncio brilha como o ouro

Quando a palavra é prata.

E de tudo restaremos nós

num outro tempo

Do qual julgavas o mesmo caos.



Quero sentir o amor que tanto tens

Desperdiçado entre o mundo e tua hora

Contra ti e nada mais.

Meu silêncio e tua voz.



SENTIR


sentir sem ver

sofrer

sentir sem ser

morrer

sentir sem pele

é só sentir

sonhar

sem el(o)



sentir

é um cair de estrela

em poço fundo.



SILENCIÁRIO


No leito solitário, a dor

multiparte-se em gestos.



E tudo promete em dados

olhares, mãos que leves

vadeiam por um corpo

onde não sobejam luzes

nem tempos imemóreos

de graças que temperam

cicios, narizes, bocas

de deuses que se foram.



Nada mais preciso:

- Leves quais sorrisos,

quedam-se asas cansadas

de monge a descansar de Deus.





SO/NETO DA CASA
(ao poeta Francisco Carvalho)


A casa é fresta e luz em cada vão,

É porta aberta para o bom caminho,

Ouve as vozes da rua em desalinho,

Não se desfaz na dor da solidão.



Altar, a casa é um rosto purpurino,

De festa, de alegria e de ventura,

É santa e mãe que espera e se amargura

Ante o grito de dor do seu menino.



De madrugada, a casa é voz de sino,

Adivinhando o dia e seu destino,

E a noite quando volta a solidão.



Amor, a casa acolhe, mas liberta

Logo que chega o tempo, a hora certa,

E só saudade guarda em cada mão.



VIDA I

Se vi/vida ávida,

a vida – preciosa jóia.

À vida... Não avisa!



Não ficar à porta,

a ladra não duvida.



Seus refúgios vêm do antes

e depois: se infinita.



E onde está o aqui ?

E onde passa o agora?



Nada guardarão espelhos,

gritos nem mordidas.



Nada há de ficar escrito

da avidez da vida.


VIDA II

Não saber é um poço de sonhos

Onde o que é sabido se esconde.

E sob a forma de metáfora

Aparece

E parece estrambótico.



Estranho!

Assim, viver consiste

No não-ser e não ter tido

Saber nenhum.



O real é um beco de sonho

Desmetaforizado.



POST MORTEM

Aqui jaz... Lê-se o prenome,

nascimento, morte e nome,

só faltou o erre gê,

só faltou dizer assim:

- Morreu daquilo... Cuidado!

Mas viveu com um danado..

agora fique tranqüilo,

ninguém vai te achar ruim.



“Não falem tanto por mim!”



Se essa voz de lá soprasse,

talvez de novo o enterrassem

mais fundo, bem lá no fim.

Outro, talvez desse adeus,

correndo, desesperado,

da cova do ente amado,

medo que fosse um “judeu”.



Talvez corresse à Polícia,

ou recorresse à Justiça,

por tamanho despudor.

Não fosse mais queimar vela...

“Outra vida?! Esta é mais bela,

valha-me Nosso Senhor!”“.



“Não pensem tanto de mim!”



Já pensaram? Não pensou!



YO QUISIERA DORMIRME...
(María Angélica Sanjurjo
Argentina)





Para qué despertarme de mi sueño

dandome la belleza que me diste?

Com ímpetu y amor me sacudiste

para decirme: “vem, yo soy tu dueño”.



Sugestionada ante tan dulce empeno

creí todo ló bueno que dijiste...

Pero pienso que entonces me mentiste

y tú interés por mi fue muy pequeño.



Me debato entre dudas y recuerdos,

pues el dolor y el desengano, lerdos,

no dejan que la paz venga em mi ayuda.



Yo quisiera dormirme nuevamente

y aguardar que la muerte, suavemente,

se lleve de mi ser la última duda.


QUISERA DORMIR NOVAMENTE
(Tradução de Francisco Miguel de Moura)


Para que despertar-me do meu sono

dando a mim a beleza que me deste?

Com ímpeto de amante me disseste

me sacudindo: “Amor, vem, sou teu dono!”



Sugestionada ante tão doce empenho,

acreditei no bem, sem um despiste.

Depois, pensei: Mentias! Fiquei triste

com teu desejo e fraco desempenho.



Por duvidar, debato-me em lembranças,

pois minha dor, enganos e vinganças

não me deixam que volte à minha paz.



E eu quisera dormir profundamente

e aguardar té que a morte, suavemente,

leve a incerteza, para nunca mais.



MAIO À PORTA
Tradutor: Francisco Miguel de Moura



Qual se um cervo pegado aos chifres fosse,

à porta Maio aguarda. E vem desnudo

qual menino traquino ou, se num escudo

dançasse Amor por entre argolas doces.



Música pelos joelhos, pelo ventre,

um riso claro num semblante aberto,

o torso resumido, mas esperto,

abrindo portas e janelas... Que entre!



Derretedor de sombras congeladas

chega, canção em luz lançada ao voo,

meu coração se fica apressadinho.



E ao calor desse alento, desatadas,

as asas baixa, com celeste entoo,

e alegria em meu peito faz seu ninho.


MAYO EN PUERTA
(David Hermoso del Juncal)

Con un venado asido por los cuernos,

Mayo aguarda a la puerta. Está desnudo

Como un niño vivo o, en un escudo,

Amor danzante entre zarcillos tiernos.



Música sus rodillas y su vientre,

la clara risa y la mirada alerta,

el escozado torso! Abre la puerta,

abrid balcones y ventanas, que entre!



Derretidor de sombras congeladas,

llegue, canción y luz echado a vuelo,

hasta mi corazón entumecido



y al calor de su aliento, desatadas.

las alas, baje, con tu voz, del cielo

la alegria en mi pecho a hacer su nido.



Francisco Miguel de Moura
Todos os Direitos Autorais Reservados ao Autor.

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