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Helenice Maria Reis Rocha [Poeta e Especialista em Música - Brasileira]


Helenice Maria Reis Rocha. Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e mestrado em LETRAS: ESTUDOS LITERÁRIOS pela Faculdade de Letras (2000), atuando principalmente no seguinte tema: Amazônia, Vida. Especialista em Música, área de Concentração: Educação Musical.


Formação acadêmica/Titulação

1996 - 2000 Mestrado em LETRAS:ESTUDOS LITERÁRIOS .

Faculdade de Letras.







Título: Sinais de Oralidade:A Transfiguração da Voz em Cobra Norato, Ano de Obtenção: 2000.

Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Martiniano Marques.
Bolsista do(a): Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais .

Palavras-chave: oralidade literatura.

Grande área: Lingüística, Letras e Artes / Área: Letras.

Setores de atividade: Edição, Impressão, Reprodução e Gravação Industriais de Jornais, Revistas, Livros, Discos, Fitas, Vídeos e Filmes; Educação; Organismos Internacionais e Outras Instituições Extraterritoriais.

2006 - 2008 Especialização em Escola de Musica da UFMG . Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Brasil.
Título: Educação Musical, sentidos e paradigmas.

Orientador: Eduardo Campolina Viana Loureiro
1975 - 1997 Graduação em Letras .

Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Brasil.

Formação complementar

2006 - 2006 Harmonia e Improvisação. Minueto Centro Musical.

1998 - 1999 Extensão universitária em Inglês Instrumental. Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Brasil.



Atuação profissional

Colégio Promove, CP, Brasil.


Vínculo institucional

1978 - 1979 Vínculo: Empregatício, Enquadramento Funcional: Professora,

Colégio Nossa Senhora da Piedade, CNSP, Brasil.



Vínculo institucional

1978 - 1979 Vínculo: Colégio Promove, Enquadramento Funcional: Professora Substituta de Língua Portuguesa, Carga

Vínculo institucional

  • 1977 - 1979 Vínculo: FUMP - Fund. Un. Mendes Piment, Enquadramento Funcional: Aulas Particulares

Vínculo institucional

  • 1977 - 1978 Vínculo: Empregatício, Enquadramento Funcional: Professora Substituta de Língua Portuguesa.
  • Fundação Universitária Mendes Pimentel, FUMP, Brasil.

Vínculo institucional

1977 - 1978 Vínculo: Aulas Particulares, Enquadramento Funcional: Professora.

Idiomas

Inglês Compreende Bem, Fala Bem, Lê Bem, Escreve Bem.
Espanhol Compreende Bem, Fala Bem, Lê Bem, Escreve Bem.


Prêmios e títulos 
  • 2002 Trabalho intitulado: Marcas da oralidade : Estudo comparativo entre Cobra Norato, Macunaíma e Martim Cererê, FALE/UFMG;
  • 1998 3º Lugar no Concurso para Professor Substituto, Departamento de Semiótica - Faculdade de Letras da UFMG.

Produção em C,T & A

Textos em jornais de notícias/revistas
  •  1. ROCHA, H. M. R. . As Marcas da Alteridade em Cobra Norato. Revista da Pós-Graduação em Letras da UFPA, Belém, p. 95 - 102,10 jun. 2006.

Trabalhos completos publicados em anais de congressos

  • 1. ROCHA, H. M. R. . Em nome da vida por Raad. In: I Congresso de Poesia de Poetas del Mundo em Natal, 2008, Natal. Em nome da vida por Raad, 2008.
  • 2. ROCHA, H. M. R. . As Veredas da Palavra: uma tautologia do sertão. In: Encontro Regional da ABRALIC, 2005, Rio de Janeiro. As Veredas da Palavra: uma tautologia do sertão, 2005. 
  • 3. ROCHA, H. M. R. . Os Arquétipos Femininos na Poesia de Ana Miranda. In: XI Seminário Nacional Mulher e Literatura II SeminárioInternacional Mulher e Literatura ANPOLL, 2005, Rio de Janeiro. Os Arquétipos Femininos na Poesia de Ana Miranda, 2005
    4.
    ROCHA, H. M. R. . Comunicação Riobaldo Tatarana entre o Ser e o Nada. In: III Seminário Internacional Guimarães Rosa, 2004, Belo Horizonte. Comunicação Riobaldo Tatarana entre o Ser e o Nada, 2004.

Apresentações de Trabalho

1. ROCHA, H. M. R. . 8º Salão Minastenista de Pintura. 2004. (Apresentação de Trabalho/Comunicação).

2. ROCHA, H. M. R. . 1ª Exposição Minas Tênis. 1991. (Apresentação de Trabalho/Comunicação).

Produção artística/cultural

1. ROCHA, H. M. R. . Sinfonia dos Elementais. 2004. (Apresentação de obra artística/Musical).

2. ROCHA, H. M. R. . Cameratinha Dissonante para Cordas. 2005 (Musical).


Eventos

1. I Encontro sobre a diversidade linguística de Minas Gerais: Cultura e Memória.As Construções Lexicais em Guimarães Rosa: Grande Sertão. 2010. (Encontro).

2. Primeiro Encontro de Poetas del Mundo em Belo Horizonte - Capital das Alterosas e da Minas Gerais. 2009. (Encontro).
3. XI Seminário Nacional Mulher e Literatura II Seminário Internacional Mulher e Literatura ANPOLL.Os Arquétipos Femininos na Poesia de Ana Miranda. 2005. (Seminário).

4. Encontro Regional da ABRALIC.As Veredas da Palavra: uma tautologia do sertão. 2005. (Encontro).

5. III Seminário Internacional Guimarães Rosa.Comunicação Riobaldo Tatarana entre o Ser e o Nada. 2004. (Seminário).

6. IX Congresso Internacional da ABRALIC.O Herói Sertanejo em a gruta do ubajara. 2004. (Simpósio).

7. II Simpósio Internacional Sobre Análise do Discurso:Discurso, Ação e Sociedade.Sinais da Oralidade: a Transfiguração do Discurso em Cobra Norato. 2002. (Simpósio).

8. VIII Congresso Internacional da ABRALIC.Marcas da oralidade : Estudo comparativo entre Cobra Norato, Macunaíma e Martim Cererê. 2002. (Simpósio).

9. IX Seminário Nacional Mulher e Literatura.A Travessia entre a escrita e o desejo nos fragmentos conhecidos da poesia de Safo. 2001. (Seminário).

10. 17º Encontro de Professores de Literatura.A Comunicação Utopia e Distopia em Lobo Antunes. 1999. (Encontro).

11. I Colóquio de Literatura e Psicanálise.A Travessia da Escrita: Estilo e Representação. 1998. (Outra).

12. Conferência.Que reste-t-il- de nos amours?. 1998. (Outra).

13. Colóquio Trinacional (Argentina, Brasil, Uruguai.A Posição da Literatura no Âmbito dos Estudos Culturais. 1998. (Outra).

14. Seminário de Crítica Literária Comparada.Teoria Crítica Espanoamericana: La renovación de fin de siglo. 1997. (Seminário).

15. Simpósio Internacional de Análise do Discurso.Controvérsias e Perspectivas. 1997. (Simpósio).


Outras informações relevantes

  • Coordenadora do II Simpósio Internacional Sobre Análise do Discurso:Discurso, Ação e Sociedade naFaculdade de Letras da UFMG - Belo Horizonte, 10 de maio de 2002;

  • 5 poemas publicados na antologia Imersão Latina na Bienal do Rio de Janeiro de 2009 (Nós da Poesia)

Bibliotecas:

  • Os Sósias Paródicos de Lobo Antunes - Fundação Calouste Gulbenkian, Bibliothek des Ibero- Amerikanischen Intstituts, Biblioteca da UFMG;
  • Construção e descontrução no discurso de alguns estrangeiros do século XIX - Universidade Estadual de Maringá, Biblioteca da UFMG.

Diplomas adicionais e títulos honoríficos:

  • Consul de Poetas del Mundo em Belo Horizonte - Z-C-MG;
  • Membro do Cercle Univ. Ambassadeurs de la Pax;
  • Honra ao Mérito de participação do "Primeiro Encontro de Poetas del Mundo em Belo Horizonte".

Referenciada:

  • Sobre as Naus de Lobo Antunes - Departamento de Literatura Românica - Maria das Graças Moreiras de Sá;
  • Cultura Portuguesa Contemporânea InglêsxPortuguês: Impasses de Tradução em um Relato de Viagem o Séc. XIX - Lisa Carvalho de Vasconscellos;
  • Centro Universitário do Sul de Minas
  • Biblioteca da Faculdade de Letras de Lisboa
  • Em nome da vida por Raad - Academia de Letras Francesas em Paris.

Obra  de Helenice Maria Reis Rocha

A Barca da Noite (texto completo)


O GRITO DO NADA

Sobre o nada regateio os
meios dias
sapateando nos espinhos
das valas
Quando calas, me desvaneço
Tu, rosto sem face que
me espreita
Sou esse rosto sem rosto
que me observa
Indigno ser errante de
um erro sem nome
Batizo as estradas
com meus pé voantes
revolvendo terra
beijando o pó da
minha espera.


A RIMA

 

Joana não tem dentes
Maria espera um noivo
Clarinha está doente
Joaquina não tem parentes
Julinha baila nas avenidas
e João ficou demente
Entre tantos desatinos
o que mais me assombra
também me desafia
Entre tantos rumos só
um me desatina:
como atravessar o
trapézio equilibrando
         a rima?


O ÓCIO

Despetalar o ócio
esse o ofício de
quem cria
informando o rumo de
um trabalho sem preço
Desmascarar o ofício
esse o rumo de quem
oferta sua cria no
altar da consumição
Desamarrar os rumos
esse o gosto de
quem sentencia o
doce exercício de
vaticinar as horas
Desarmar a verve
esse o dever de quem
arruma palavras em
verso
explicitando a vida.


A FUGA

De outro tanto a outrossim
escapei da lábia de Caim
Não caí no poço fundo
da amargura
Arquitetei bem a fuga
No lado obscuro
da armadilha finquei minha geração
plantei meus dias vazios
dormi sem preocupação.
Na cova do desenredo
enterrei as sementes do
medo e gritei por
precaução.


A PASSAGEM

O adro da igreja se desmancha
no ar
As reuniões de família
são trituradas no pó da
lembrança
Dança minha intacta intuição
do fim na garganta
A poesia toda me consome
Sem nome, perambulo pelas ruelas
do tempo.
Onde, os talheres do almoço
O passo miúdo de Belinha?
O canto da mãe?
No âmago do esquecimento
que tudo passa
Até as risadas dos colegiais.


TIA EDITH

A voz da prima me comove
A Maria do Carmo veio visitar
Edith Reis e ela morreu
A vida vai e vem como as
gangorras nos parques
Nem o câncer permanece
A voz da prima me demove.
Não vou mais chorar os meus
mortos
elas não voltam
mas espreitam o meu fim.


O ESCARRO

Eu queria uma doença
venérea
não posso, sou moça casta
Nem o pó dos espelhos
me deseja.
Só a tosse me namora
Eu queria a vida em tempo
record, com toda a sua nudez
descarada.
Entre a benção e a
maldição escolho a
longa ausência que me
bendiz e o escarro.


A GRIPE

A gripe, a gripe, a gripe
que não é espanhola e
vem sem adereço me
sucumbe
Sou toda abismos e
catarro
As praças e as ruas
me expulsam
ao coro da minha tosse
Me afundo, me abundo
numa cama de colossos
esperando passar a gripe
Uma ausência de síntese
me constrange.


O VERSO

Cada porção de verso
é uma sentença e
isso me aborrece
Me inunda a falta de
juízo correndo solta
nas ruas
Tenho o vício de contar
as pandorgas e de
sentar de cócoras
Sou uma poeta cerebrina
e vejo a cidade com
palavras escolhidas
mas a cidade não me vê
e isso é bom.


A CIDADELA

No meio de uma praça
invisível armei a minha
cidadela
Nela não entravam os
funcionários do rei ou
as damas da corte
Ninguém via as flores ao
redor do muro invisível
indizível teorema de
paz indecifrado
cilada de lobos
refúgio de mansos.


O VAZIO

O vazio que habita em
mim é visitado por
um passarinho
cantante parcela de vida
e sol desdenhando meu
rumo sem ninho
essa falta de jeito esculpindo
mazelas em nesgas de nada
O vazio que habita em
mim é rasgado de valas
onde caem os cadáveres dos
meus sonhos.


O AVISO

Vim de algures sem trazer
bagagem
tateando alhures os portos
da viagem.
Quem tem sono tem
sombra cobrindo a carne
adormecendo a medula
em colo manso
Tenho do meu sonho a memória
de um grito
e da passagem, um aviso.


A FALTA

Neguei, neguei a esmola
adormeci a memória e
mastiguei a carne em
dentes mansos
Não sou a ferida do mundo
espero a muito tempo um
beijo e não tenho.
Deus sabe a falta que
me falta e ainda me
lança fardos.
Neguei, mas um dia eu
dou,
com calma e honrarias
aquilo que te falta.


SENTENÇAS

De onde vem o grito que
me batiza a pele
Quem é o cordeiro que
me banha as vísceras
O que é o susto que me
deixa alerta
Espero respostas, encontro
sentenças.


VIDA NUA

Lendo a rua descreio da
aventura de viver
As pedras escrevem o
barulho seco de passos nus
assinando os paralelepípedos
de rumos.
Os bons e os maus humores
batizam essas ruas
Viver é algo mais que rasgá-las
compassos de vida nua.


A BOBA
 
Um branco vertical
molha o meu verbo
Verve! Verve! Para que
serves diante da loucura
das crianças?
Um branco horizontal atravessa
o meu verso
Verve! Verve! a quem serves
senão aos loucos?
Sou a horizontal e a vertical
dos bobos.


O RISO E O GRITO

O riso que o meu gesto
esconde não anuncia as
manhãs
riso tímido de quem
galga montes a passo
miúdo
Desconfio do vendaval
das espécies
A redistribuição de
rendas? Duvido
Mas amo o latido dos cães
e o grito dos meninos.


VENERANDA FACE

Endereço ao certo e
ao já sabido o meu
escárnio
enquanto as religiões
me consomem
Sei da dúvida
da solidez do verso
da fome
Comando meu escarro e
beijo minhas fontes
na face dos que
me antecederam.


NATAL

Meu olhar desata rios
nutrindo carícias
Desamarro a respiração dos
dias amando o tempo
lento, voando sobre o
carmim das horas
Oro, é natal
Isabela exulta
o natal foi na casa dela
o cristal das falas me embala
O alecrim do verbo
batiza as salas
e as crianças nas
ruas gemem
como Belinha quando
está só.


CHUVA

Enfim a chuva declarando
água
lavando as pedras
Afirmo a minha profissão
de fé na chuva abençoando
os charcos
Batizo os sapatos de
pura água
e o dia transcorre
sem nome
A terra lança cheiros
de pós abissais
por quase nada.


LA LUNA

A lua engole a noite
A noite se deita
sobre a rua acariciando
a pele dos amantes
A língua da noite
lambe os passantes
e grita o silêncio do
açoite
murmurando mel nas
alcovas
Minas conspira.


AS ÁGUAS

Uma procissão de águas
desaba nos desbarrancados
soterrando gritos
açoitando os negócios
imobiliários

Água, barro e carne batizam
a terra
fecundando o fim

As pedras gritam especulando
o olhar agudo da dor
A Litania dos mortos
se cala gemendo

A cidade acolhe.


PALAVRAS

De todas as palavras
malditas a que mais
me acolhe mobiliza
o verbo
O verso não canta, corta
gritando sentidos
O verbo não fala, cala
amarrando gemidos.


AS HORAS
 
Amo a doçura dos loucos
a mansidão dos velhos
o tecido das falas
Amo o lado obscuro das salas
os acordos inconfessáveis
o absurdo das valas
Amo o impossível de amar
nas encruzilhadas dos rumos
Amo o desvairado rumor das horas.


O PÓ

Transpirar o pó como
quem sabe do barro a face
construindo sobre a terra
o andar dessa morada
de carne que habito
Hei de voltar ao pó
exalando o tempo
mascarando o fim
Hoje as ruas me fecundam
a pele em ventres novos
Com pássaros na garganta
grito os começos
e sigo.

A CENA

A sentença que esse verso
encena não anuncia o fim
Trapézio de silêncios ao
rumor das falas olha calada
as arestas do verbo
Sou um manso teorema de
um começo sem nome
Batizo os pássaros
e tenho fome.


A MINHA CARNE

A carne que me batiza
não desatavia as manhãs
Antes anuncia enigmas
proferindo alto os nomes
das profanações
Difamei o sagrado rumo
das horas
Informei o sacro ofício
dos rumos
Prossigo, selvagem.


LADEIRAS

As ladeiras clamam músculos
para a alegria das subidas
Na descida todo santo ajuda
Declino das ruas como quem
profere avisos
e sigo
Quem não tem nada, tem
ruas
e o mudo olor das tardes.


BEM-TE-VI

Cansei das vozes e
das falas
Prefiro o mudo augúrio
dos meus cantos
e prefiguro a sorte, calada
Nada me anuncia alvíssaras
além do pio do bem-te-vi
no meio do dia.


PASSOS

Não sei quem me alinha
os passos
Só ando em caminhos
estranhos
tirando das vísceras meus
dardos
lançando ao vento meus
gritos
Não sei quem me embala os
abalos
Só sei que clamo.

A ORIGEM


Na origem o balanço
dos começos declara o
silêncio

Vejo o ondulado das
ruas, namoro o desenho
das pedras sobre os
pés
Não tenho nada
Só o início e o fim
dos meus dias.


INTRÓITO

Danço com o meu verso
triste uma valsa
e esse par insólito
me consola
Sinto através dos dias
uma falta e essa
ausência me denuncia
Os dias seguem esse
mudo intróito.


O ARSENAL


Um arsenal de silêncio
invade minhas entranhas
A paz vem das
vísceras onde o mudo
caminho do grito se instala
Um desfile de avisos se
cala na minha garganta
Tenho a palavra e o
presságio.


O FIM

Trafego ruínas como quem
dobra sinos
O que foi, foi
sabendo ao silêncio e
ao fim
Tão consoladores os fins
O que não tem fim
não dá descanso.


A TRAVESSIA DAS FALAS

Fala Aparecida!
Amo sua voz e seu gemido
Fala Maria!
Amo seu riso proscrito
Fala Luísa!
Amo seu grito
Fala Joana!
Amo sua gana
Fala mulher!
Procura quem te quer
que a vida urge!


O BATISMO DAS FALAS

Os rios que correm nas
falas não deságuam no mar
antes sussurram mansos
nos sulcos da palavra
ou gritam nos cernes das
pedras furando o duro
equilíbrio pétreo
O batismo das falas
não tem nome.


FESTA

Esqueci as asperezas
e proclamei o meu
dia de festa
Nas janelas, flores
nas ruas, amores
Não conheço as dores do
parto e já abençôo a
agonia
No dia do juízo estarei
alerta.


O CONVITE

Assombrei o tempo
com fantasmas simpáticos
Desvelei o outro lado
da sombra dançando
no umbral dos vivos
Os mortos nos sorriem
desdenhosos nos cantos
esquivos da lembrança
Canto o dia fatal
que virá como um
convite.


SACRO OFÍCIO

Me escondi no altar
das feras em dia de
sacro ofício
Ninguém me achou,
nem parentes nem amigos
O dia e a hora da devoração
despetalam o futuro proscrevendo
ritos
A hora do vôo nem sempre
desvela o grito.


O GRITO DO SILÊNCIO

Um cordeiro desesperado
urra o sacro ofício dos
santos
e essa dor calada
dos sacrificados
ecoa pelos quatro
cantos.

OFERTÓRIO


Construindo a voz dos
famintos de toda espécie
esculpo parcelas de gritos
Nas entrelinhas do meu
verso livre
gritam os que nunca tiveram
amor
gritam os que nunca tiveram
parentes
gritam também os que
               tiveram
e os que têm fome
Eis o meu ofertório de gritos.


AS CRIANÇAS


A aragem do cio frutifica
os campos
Os quintais cantam nas
quimeras imaginadas
Hoje, o urro mudo das
crianças batiza as ruas

O inominado permanece
irreconhecível no cimento
cru. Não tem certidão de
nascimento
É natal.


O REAL E O NADA

O eu lírico é um
mentiroso que finge
delicadezas
Quem é e não é baila
em ásperas estradas
descaminhando entre
o real e o nada.


MEU RISO

Quero da calma a medula
o matiz mesmo do silêncio
mas amo o grito das
ruas
o gemido solitário dos
sinos
os risos

Vejo o dia como quem
planta gritos
e rio o meu riso
sereno de loba.


AGORA

Tudo está para amadurecer
O verde dos tempos planta
raízes nas ruas
tudo está por acontecer
O que não veio, virá nú
revivendo as manhãs
tudo é agora
quando a vida nem batizou
as horas
e os minutos não têm nome.


O SILÊNCIO DO TEMPO

Vejo as raízes das
horas
olho
O tempo molha as
avenidas mudo
sempre mudo porque
nós é que falamos
O tempo fecunda os
destinos e
olha, calado.


OS DESCAMINHOS DO TEMPO

Aquela rua era como
um vão sem rumo
Os velhos abençoavam mansos
suas pedras
As crianças acreditavam
nela
Aquela rua era como uma
vala sem bruma
As mulheres caminhavam nela
Os homens as acompanhavam
Aquela rua corre perdida
os descaminhos do tempo.


UM VERSO MANSO

Esculpi um verso manso
nas curvas das estradas
Nem os fortes derrotam
a mansidão de um verso
Enganei o perigo e me
entreguei inerme ao pacto
inocente com as manhãs
A calma viração das manhãs
abençoa o desfile dos dias.


PETRÔNIO E O MAR

O mar mora dentro de
mim
Nas minhas veias navegam
peixes e dançam piabas
Atravesso as montanhas de
Minas cheia de mar
como o Petrônio Bax
e rezo.


O SONO DAS CRIANÇAS

O lírico despertar dos
meus gritos acorda
o sono das crianças
Grito como as mães
cantam
A epiderme desse canto
desliza pelos cantos
da minha ausência.


MARIA !

Maria, porque te fizestes
tão mansa dentre as
mulheres!
Pari com dor, ofendi aos
santos, pequei!
É tanto o meu amor
que a santidade não
cabe nele
Perdoa Maria.


GLÓRIAS PASSADAS

Lavei as pedras da
rua do meu amado
Benzi seus beijos inflamados
Bendisse suas mazelas
Hoje, calço minhas chinelas
e danço na soleira da
porta as glórias do
amor que vivi
em sonho.


O GOZO

O gozo não tem hora
nem pressa
Quem tem dos dias a
memória do gozo
tem também a glória de
ser livre
Mastigo os minutos como quem
bendiz as horas
e bendigo também
a assinatura dos segundos.


MAZELAS

Tatuei minhas mazelas
de santas aspirações
O riso do meu desejo visitou
minhas entranhas
Minhas vísceras apontam
para o nada onde nem o
punhal ou a carícia
se encontram
A vida apunha-la
minhas relíquias
ferindo fantasmas
que encontrei.
 

A TATUAGEM DA ESPERANÇA

Insisto inclemente
na esperança
Entrego ao pó
das ruas o gemido
dos loucos
exijo respostas
A gargalhada do destino
me espreita
e me deita na cama
dos desesperados
Levanto
e rio mais alto.


ANCESTRALIDADE

Meus ancestrais gozam
de boa lembrança
só não saem das tumbas
porque não têm hábito
O balé dos mortos ainda
não despedaçou meus
ritos
Brinco o despetalar dos
dias como quem
inventa gritos.
Meus ancestrais, sólidos na
lembrança, riem.


A ARQUEOLOGIA DO VERBO

A arqueologia de
um verbo mutante
atravessa meus ossos
como um catavento
movimenta sentidos
Assim perfurada reviro
meu siso
Vejo
clarividente mutação dos
começos em chuvas de
radicais
As palavras e seus fins
inventam malícias.


MEUS OSSOS

Os ossos que a minha
carne sustenta balançam
os chamados da paz
agüentam as provas que
essa carne exige
engendram passos
sobrevivem.


A SEIVA DOS DIAS

Rabiscando nadas no tempo
a poesia finge sentido
Eu queria mesmo é ver
os primos
comer pão recheado
enganar o juízo
Escrevendo cicatrizes em
valas a poesia vive
ao abrigo
e a vida escorre na
seiva dos dias.


DEUSES

O diabo não me engana
porque tenho parentes e
amigos que me enganam
mais
Uns dizem: Tens talento
outros; nem tanto
mas o meu secreto
poder de confundir
meus fardos
enfurece os deuses que
bendigo.

O PIVETE

Sou poeta, quem há
de negar?
O lírico rumor das
esquinas me chama
Vou, sou poeta
e o pivete me assalta.


AMOR DELIRANTE

O suor fino da chuva
transborda a secura
da tarde
Antes só a saudade
apunhalava a dor
Hoje, deliro as folhas
de uma ausência
O amor não veio
amo, sem resposta.


OS PASSOS

Os passos do silêncio
caminham sobre meu
entendimento
deixam pegadas limpas,
mas cruéis
Sou esse longo momento
de espera
quando alguém diz não
e eu ouço, sim.


DESAFIO

Lanço aos céus um
desafio
saber o que há de
mim em ti e o
que há de ti em mim
Lanço aos milênios
uma provocação
saber o que há de amor
em nós
além do fim anunciado.


O SENTIMENTO DAS HORAS

Estou livre e não
sinto as horas
As pandorgas sujam
o céu e me consolam
Tenho pena de mim,
de ti, dessa distância
que nos condena ao fim
e deploro
Nada sei de amor
e às vezes, imploro.


LINHA DO HORIZONTE

Dançando sobre a linha
do horizonte vejo os dois
lados do mundo
Posso cair a qualquer
instante num abismo
bem fundo
Esse, o engenho do
artista
Se erguer do abismo
num trapézio
      imaginário.


O SUL DO CORPO

Seivar a urgência de carícias
alimentando a paisagem
da ternura
A usura dos amantes é
a economia da ternura
A seiva subindo a
paisagem do corpo como
mãos que beijam
O sul do corpo em
festa.


O ESCONDERIJO DO ANJO

Uma esperança suada
dança nas avenidas
canta no grito dos pregões
chove no choro das crianças
O ano se esconde no fim
ao longe os aviões
arranham o céu
alvíssaras.


A FALA DO SILÊNCIO

A paz das ruelas
atravessa meus cernes
Sou aquela que espera
o companheiro na noite
espreitando o rumor da
madrugada
Sou a fala do silêncio
beijando o murmúrio das
estradas.


A CARNE DO GRITO

A carne do grito apodrece
nas trincheiras
Onde descansa a pele
da criança nua atravessando
meus rins?
No olhar das ruas
Excruciantes ruas de
espasmos cruéis.


A PALMA

A palma da alma
bóia na trilha dos
caudais
Um caudal de
avisos risca a palma
Um caudal de risos
rabisca a alma.


A UTOPIA

Desornada face de
uma idade sem lugar
a utopia sussurra
saídas dos túneis
da esperança
O balanço dos fins
não tem preço
O sorriso dos pássaros
guarda as entradas.


GRITOS DE VÉSPERAS

Viscerais gritos das
vésperas
clamando os mansos
para o festim das bodas
pedindo aos fortes para
deporem as armas
Vesperais gritos de
ontem
os que vão nascer
vos saúdam.


O SALÁRIO

O salário dessa parca
vida me constrange
Vejo no sono dos esquecidos
a inocência dos anjos
e isso me entorta os
juízos que me restam
Não sou presença na
memória
dor ou riso.

OS ANOS

A realeza dos anos
descansa aqui, na minha
mão
jorrarão pássaros da
minha verve
Terei descanso
porque não dei aos
vermes o festim da devoração
vim de ontem, atesto hoje
meu sinal de presença
amanhã, quem sabe,
as esquinas batizarão
a minha carne
a tarde sussurrará
a minha ausência
a toa.


O POEMA

A carnação do poema
se faz verbo em flor
Toda a dor desse
entreato se consuma
na palavra
Falo do amor
da sua ausência
em mim, em ti
no clamor do tempo
Canto as ruas, nuas
ou bem ou mal
canto
Canto a palavra em
semente e cor
Canto o grito em
semente e dor.


O PÃO

O pão que me acolhe
não floriu o meu sangue,
antes me esvaziou as
veias
Veio do pedido exangue
em dias de horror
As portas que me espreitam
a face me recusam
o abraço
antes se calam, inermes
Conheci o eito e
deito-me ao relento
conheço um lençol negro
de estrelas me
abençoando o peito.


PACTO DE SOL

Os domingos e as praças
comungam a hóstia
do silêncio e não
precisam do cordeiro
O corpo do sacrifício
é uma ausência
Nada grita além dos
chamados dos meninos
Os domingos e as
praças se abraçam
Pacto fatal de sol e tarde.


DESPEDIDA

Adeus poesia
Vou prá bem longe
onde os homens não
rezam ou recitam
só amam.






Helenice Maria Reis Rocha
Todos os direitos autorais reservados a autora

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