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Ah, esses versos teus! [Robson Veiga]

Ah, esses versos teus!

Todos nós sabemos que a net é um mundo meio híbrido, tendo muitas coisas boas e outras ruins, e que num click só, se vai do céu ao inferno, por isso, precisamos garimpar com cuidado a fim de encontrar uma pepita daquelas, e às vezes, quando menos se espera, uau!

Foi assim que aconteceu numa certa madrugada em que o sagrado sono havia tirado uma noite de folga e não me avisara. E como não havia nada de bom na TV, resolvi passar o mouse sem nenhuma pressa, afinal, em noite de insônia os minutos não correm, tartarugam.

Foi assim que me deparei, frente a frente, com aqueles belos versos, estampados numa página do facebook titulado de “Vamos Fazer do Brasil uma Casa de Leitores”.  Logo notei que sentira o cheiro da infância invadir minha’lma, se revelando a cada linha, em curvas a puxar o ponteiro do relógio no seu reverso do tempo, a me chamar a brincar numa manhã de domingo logo depois da missa, “ciranda que roda, que gira no verso da canção de ninar... da roda que gira... que gira e que roda, trazendo o barulho do riso a brincar”.

Nossa! Sabe quando a gente se perde no tempo e no espaço em busca de fôlego! Pois, é! Assim eu me senti ao ler e reler os belíssimos versos da professora de Linguística Cássia Rodrigues, um dos pilares da Academia de Letras de Trindade, com o seu poema “ciranda de roda”. Principalmente quando entrei vagarosamente na segunda estrofe – carregada estava com suas antíteses e aliterações, como um balanço de corda a me levar, “trazendo no vento o canto a cantar”.

Como diria Borges, acreditei na poesia daquelas palavras e fui tragado pelo mundo dos sonhos, envolto pela musicalidade de cada verso que rompia junto com a manhã que nascia por entre prédios, deixando para trás um rastro de saudades.

Aí, de relance, após um filme silenciar o meu presente estado por alguns instantes mágicos, pensei nas atuais brincadeiras de roda. Mas onde estão as rodas, ou para onde foram? Hoje não há mais cirandas, como a “ciranda cirandar, dar meia-volta, meia-volta dar, e de novo rodar e cantar... rodar, girar e voltar a cantar, no ritmo do verso da canção de ninar”.

Hoje a criança é futurista, brinca com o mundo virtual. Elas não sentam mais nas calçadas a conversar, ouvir e contar histórias, tendo como teto o sorriso das estrelas e a graça da lua, nem “O canto do conto, do ponto da história a contar, do balanço que vai... e que vem... Que vem... e que vai... Trazendo no vento o canto a cantar”.

Talvez venha daí o declínio do romance, como diria Borges, o fato de narrar uma história e cantar um verso ao mesmo tempo como nas grandes epopéias, pois não somos nem capazes de ouvir estrelas enquanto as crianças se amontoam ao pé das lendas como se fazia antigamente ou nem mesmo brincar de ciranda de roda. Será que este é o canto da contemporaneidade, ou apenas o retorno do bicho homem à idade das cavernas, só que desta feita, um primata virtual? Creio que minha avó não gostaria nem um pouco desses novos tempos pós-moderno.

Homenagem à professora e poeta Cássia Rodrigues mestre em Linguística pela UFG.



Robson Veiga - Mestrando em Literatura e Crítica Literária pela PUC de Goiania-GO. Página pessoal na internet: Café Literário.
Todos os direitos autorais reservados ao autor.

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