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Pesquisa revela que poucos escritores investem em temática aos excluídos [Nahima Maciel]

Pesquisa revela que poucos escritores investem em temática aos excluídos 


Estudo sobre a literatura contemporânea mostra que há poucos personagens negros e pobres nas narrativas brasileiras

Nos últimos 10 anos, o número de escritores mulheres e negros pode até ter aumentado na literatura brasileira, mas não será tão significativo quanto o foi nos anos 1970. Os personagens de pele escura podem deixar de aparecer como bandidos ou empregados domésticos, mas a cor dos autores dificilmente será equilibrada. Enquanto a educação não mudar o mapa da classe média brasileira, a literatura permanecerá confinada a um quadrado que reflete a organização social do país em que pouco fala sobre a periferia desprivilegiada. O tema é um dos capítulos do livro Literatura brasileira contemporânea: um território contestado, que a pesquisadora Regina Dalcastagnè acaba de lançar pela Editora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Em 2004, Regina, que é professora da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Grupo de Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, deu início a um mapeamento quantitativo dos personagens e autores na produção literária nacional. Na época, os números confirmavam uma suspeita: havia poucos negros e pobres na narrativa brasileira. E isso valia para o universo fictício das histórias e para a cena real na qual circulam diariamente os autores. O grupo leu 258 romances escritos por 165 autores entre 1990 e 2004. Com o auxílio de fichas preenchidas com rigor acadêmico, a equipe chegou à conclusão de que 78,8% dos escritores brasileiros são brancos, e 72,7%, homens.



Luiz Ruffato: "Educação no Brasil é excludente. Dificilmente um filho de classe média baixa vai ascender socialmente"

Vencedor de prêmios como o Jabuti, APCA e Casa de las Américas e organizador de importantes coletâneas de contos de autores gays e de mulheres, o escritor Luiz Ruffato não ficou surpreso com os resultados da pesquisa. “Esse levantamento só vem confirmar o que vejo: quem escreve no Brasil são homens heterossexuais de classe média e brancos. Não é por outro motivo, por exemplo, que os personagens são escritores. É gente de classe média escrevendo para classe média”, aponta Ruffato. O que preocupa o autor de Mamma, son tanto felice é o caminho que leva aos resultados compilados por Regina Dalcastagnè. “A literatura que se faz hoje (no Brasil) é um reflexo transparente do que é nosso país: existe uma classe média que não tem nenhuma relação com o resto do país”, lamenta.

Ruffato lembra que tanto Europa quanto Estados Unidos têm hoje uma literatura feita por descendentes de imigrantes, negros ou representantes de minorias cuja representatividade é consistente graças ao acesso à educação. No Brasil, a realidade é outra. “São filhos de operários ou de classe média baixa que conquistaram um nível de educação suficiente para se tornarem escritores. Aqui isso é impossível. A educação no Brasil é absolutamente excludente. Dificilmente um filho de classe média baixa vai ascender socialmente em uma universidade boa para ter um repertório suficiente para se tornar escritor. Logo, 90% do que é Brasil não aparece na literatura brasileira porque não tem quem represente essa paisagem”, constata o escritor.

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