A CRIANÇA E
A ORAÇÃO
Em “ Mistérios de Fafe”, Camilo, o maior prosador
de língua portuguesa, descreve magistralmente o diálogo travado entre Rosa,
filha de rendeiro de terras, mas educada, desde menina, por fidalga, sua
madrinha, e o marido, rústico espingardeiro de Guimarães.
Escreve Camilo, que Rosa, lamentava-se que a sogra,
muito beata, obrigava-a a permanecer horas afio diante do santuário de
pau-preto, tonta de sono, em continuas rezas, que lhe deixavam os joelhos numa
lástima.
O marido, ouvia-a atentamente, e no íntimo dava-lhe
razão, mas não era capaz de advertir a velha, sua mãe.
Muitos, mormente na minha juventude, encaminhavam
as crianças, para missas enfadonhas, que nada lhes diziam, e obrigavam-nas a
rezarem o rosário ou terço, seguidos de litanias infindáveis.
Ora a oração não é um dever, e menos ainda
obrigação, mas conversa com Deus, que deve ser franca, simples e alegre.
Não devem ser obrigadas a rezarem orações
estereotipadas, que contêm palavras, cujo significado desconhecem.
Basta que saibam o Pai-Nosso e a Avé- Maria e pouco
mais, e que as recitem ao deitar e levantar.
Dizia e bem, a filha do Conde Drost Zu Vischering,
Clemente Haidenreich, a beata Irmã Maria, que viveu e faleceu na cidade do
Porto, que cantar e andar sempre com o pensamento em Deus, já é rezar.
Cantemos com os jovens cânticos alegres, que os
incitem a procurar o Senhor.
O bom costume, atualmente em desuso, de ler
passagens bíblicas, ao serão, em família, era hábito salutar.
Ofertar aos filhos Bíblia adaptada às crianças é,
também, de grande proveito.
Falo da Bíblia, porque é a Palavra de Deus; mas
livros devotos ou que apresentam vida de santos, são excelentes para a formação
espiritual e moral da mocidade.
Pretende-se que os jovens reconheçam que orar não é
repetir orações enfadonhas, como se castigo fosse.
Jacinta, vidente de Fátima, disse que antes das
visões, abreviavam a reza do terço, dizendo apenas “Ave-Marias” e “ Pai-Nosso”.
Deste jeito o tempo de oração era curtíssimo, e tinham, assim, mais horas de
brincadeira.
Para os pastorzinhos, antes de terem contacto com
Nossa Senhora, rezar não era diálogo, mas obrigação, que consideravam
desnecessária.
Ajudemos os nossos filhos a amadurecerem
espiritualmente, lendo as passagens mais interessantes da Bíblia, e entoando,
com eles, formosos e edificantes hinos.
Rezar é cantar. Orar pelos doentes, pelos amigos
por infelizes e pela paz do mundo e da alma.
Se assim se fizer, por certo, seguirão o caminho
certo.
E se “desgarrarem”, afastando-se da Verdade, a
culpa não será nossa.
Então resta-nos rezar para que o filho pródigo
volte a buscar e reconciliar-se com o Pai.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila
Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu
Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade
e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança,
o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem
colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã,
argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o
coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ
Página na Internet:http://solpaz.blogs.sapo.pt/
E-mail: humbertopinhosilva@sapo.pt
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Um comentário
Gostei muito.Tudo que é encarado como obrigação, não tem o devido valor. Há que ser espontâneo, só assim terá o verdadeiro sentido.
Abraços.
Dolores Jardim
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