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A venda de E-books é afetada pelos tablets? [Maurem Kayna]


A venda de E-books é afetada pelos tablets? 

Foi a newsletter do Publishnews que me levou ao texto de Dennis Abrams – na verdade uma análise dos dados apresentados por Nicholas Carr (a adaptação de Chacrinha para os ditos de Lavoiser nunca foram tão apropriados).  A hipótese de que as vendas e-books estariam crescendo menos por culpa dos tablets vem sendo discutida, assim como a “decepção” quanto à participação do formato eletrônico no total das vendas de livros.

A análise apresentada no Rough Type, um blog sobre cultura, tecnologia e economia, examina as possíveis causas do declínio no crescimento das vendas de e-book, uma tendência que começou em 2012 e parece se manter ao longo deste ano. Notem bem, não se fala (ainda) de queda nas vendas, mas de um crescimento cada vez menor. E aqui faço minha primeira intervenção provocativa: porque diabos sempre se parte da premissa que qualquer coisa deve vender cada vez mais e se toma esse desempenho com indicador principal do valor e sucesso dessa “coisa”? E, notem que há diferença entre declínio no crescimento de vendas e queda nas vendas – uma diferença significativa, aliás, especialmente para os bolsos envolvidos.

De acordo com um relatório da Associação de Editores Americanos, as vendas de e-books nos EUA ( primeiro trimestre de 2013) cresceu apenas 5% em relação ao mesmo período de 2012. Isso, segundo Carr, significa que o crescimento explosivo nos anos anteriores se esgotou, embora os dados desse relatório ainda apontem que e-books continuam tomando espaço de livros impressos no marketshare (as vendas de impressos caíram 4,7% no mesmo trimestre). Em resumo, segundo o analista, a chamada revolução digital no negócio do livro parece ter chegado ao fim antes de se efetivar completamente.

Em outro relatório, dessa vez focando o mercado do Reino Unido, as estatísticas da Association of American Publishers se repetem. Os dias de crescimento de dois dígitos nas vendas e as expectativas de triplicar o mercado parecem ser coisa do passado.   Uma hipótese quanto ao estrondoso crescimento de vendas do período anterior seria o lançamento de Jogos Vorazes – tão bem sucedido que teria sido capaz de distorcer os resultados do segmento, puxando as médias para cima. Cenário que não se manteve sem um outro lançamento tão aguardado.

Ao especular sobre as possíveis razões para que o crescimento das vendas de e-books tenha arrefecido, são levantados os seguintes aspectos. 

e-books não servem para qualquer texto nem para qualquer lugar 

Na opinião de Nicholas Carr, e-books seriam um formato adequado somente para alguns tipos de livros (ficção, mais especificamente fantasia) não estando bem adaptados a outros tipos (como não-ficção e ficção literária), e também seriam mais apropriados para determinadas situações de leitura (viagens de avião, foi o exemplo citado por Carr); em suma os e-books seriam muito mais um complemento ao livro impresso, como audiobooks, do que um substituto imediato.

Não disponho de dados para contestá-lo, mas posso discordar com base na minha própria opinião. Acho que, se bem formatado, o e-book é um formato apropriado para qualquer tipo de texto – dos técnicos aos mais variados gêneros literários. Leio em meu e-reader em qualquer situação (aliás, no avião o e-book não é a melhor escolha se considerar que preciso desligar o aparelho na decolagem e aterrissagem), desde que o livro esteja disponível no formato digital (o que não significa que não continue adorando manusear meus impressos e enchê-los de marcas e anotações). 

e-book é coisa para early adopters e leitores vorazes 

Nisso, ao menos pelo que assisto cotidianamente entre amigos e conhecidos, sou obrigada a concordar com o analista. Quem se apaixonou pela ideia de um e-reader e suas facilidades (sempre leitores vorazes) adotou o aparelho antes ou apesar dos tablets e a maioria (todos que conheço, incluindo-me) lotou seus aparelhos com muito mais livros do que seria capaz de ler efetivamente no período de um ano. Assim, o ímpeto de continuar comprando (e mesmo baixando gratuitamente) não se sustenta ileso ao longo do tempo. 

mais tablets = menos vendas de e-books? 

Uma hipótese sempre discutida é o fato de que uma vez que tablets emplacaram e e-readers não, isso afetaria seriamente (para baixo) as vendas de ebook. Afinal, um e-reader serve “apenas” para ler, e num tablet o aplicativo de leitura está sempre disputando tempo de uso com “n” outras atrações. Assim, se temos cada vez mais usuários de tablets, que leem menos que usuários de e-readers, a conclusão primeira é de que realmente as vendas serão inversamente proporcionais. Vejo essa afirmativa com desconfiança, pois acredito que a causa raíz não é o número de tablets versus o de e-readers, mas o número de leitores e seus hábitos (tempo de leitura por dia) que determina o “consumo” de e-books. Além disso, estou pessoalmente menos preocupada com vendas do que com uso de livros – seja em formato impresso ou digital, então o partilhamento e o uso de bibliotecas e empréstimo interessam-se tanto quanto (ou mais) os números do mercado.

os preços dos e-books não correspondem às expectativas

Aqui eu assino embaixo. Os preços de e-books não caíram tanto quanto muitos esperavam e até discursavam sobre. Não é nada incomum acharmos livro de bolso mais baratos que o e-book. Embora concorde que a produção de um e-book tem seus próprios custos associados, que não são os mesmos da produção do impresso, é impossível aceitar que o custo seja o mesmo ou maior. Assim, o que justifica uma precificação como a que temos visto? Na melhor das hipóteses o e-book custa 30% menos que o impresso. Ainda que esse percentual não seja exatamente desprezível, quando se faz uma pesquisa de preço e se encontra um impresso mais barato que um e-book, não dá para não nos sentirmos contrariados. Há exceções, é verdade (editoras especializadas em e-books que vendem com preços muito civilizados, mas nem sempre os títulos ofertados coincidem com nosso desejo de leitura.  Então, estou inclinada a pensar que o preço, tem um peso relevante no desempenho de vendas dos digitais.

E para encerrar, meu palpite sobre isso tudo: considero o “sucesso” do e-book muito mais sob a perspectiva de acesso a conteúdo (domínio público, edições esgotadas), sua praticidade de uso e acessibilidade (facilidade gerada pelo aumento da fonte, possibilidade de text to speach em certos aparelhos) do que pelo número de unidades comercializadas, mas não sejamos ingênuos, qualquer coisa que não gera lucro para alguém, deixará de envolver esforços para sua melhoria e oferta ao público de melhores preços e qualidade. Nunca fui adepta a profecias que prevêm o fim do livro impresso, embora, no longo prazo (longo mesmo, algo como várias décadas) acredite que o papel deixará de predominar. Assim, entendo que mais importante que avaliar se a venda de e-books continua a crescer é a preocupação de que o público leitor aumente, pois, independente da plataforma (e-book ou página impressa) o relevante é termos cada vez mais pessoas utilizando a leitura como forma de exercitar a massa cinzenta com que fomos premiados.


Maurem Kayna é engenheira florestal, baila flamenco e se interessa por literatura desde criança. Depois de publicações em coletâneas, revistas e portais de literatura na web resolveu apostar na publicação em e-book e começou a se interessar por tudo que orbita o tema, por acreditar que essa forma de publicação pode ser uma das chances de aumentar o número de leitores no Brasil. Autora da coletânea de contos Pedaços de Possibilidade, viabilizado pela iniciativa da Simplíssimo. Sites: mauremkayna@uol.com.br - mauremkayna.com/ - twitter.com/mauremk

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