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Sexo! [Jean Marcel]


Sexo!

– Ai, ai... – suspiro satisfeito do Afonso–Uhmm... Foi bom pra você Clô?
...silêncio.
– Foi? Foi bom? – insistindo.
– Não!
– Ãhhhh?
– Não foi! Pronto... disse!
– Como não?
– Você não perguntou? Então... Eu respondi!
– Mas, Clotilde... Eu fiz como sempre fiz!
– Pois é... pra você ver!
– Eu não mudei nada... a posição, o time, o abajur a meia-luz, as preliminares, o James Taylor de fundo, até as coisas que você gosta que eu diga... eu disse! Ou não disse? Foi como sempre...
– Eu sei. Percebi!
– Então, como não foi bom?
– Afonso, eu só respondi o que você me perguntou.
– Você é minha mulher! Eu perguntei porque queria saber.
– E eu respondi!
– Respondeu que “não”!
– Anrã. Ruim não foi, é só que não foi a melhor...
– Não foi a melhor? Então é isso? Virei refém de mim mesmo? Quero dizer...
Terei de sempre me superar? Se eu soubesse que aquela vez viraria um referencial, não teria caprichado tanto!
– Que vez, Afonso? De que vez você tá falando?
– Ops, não foi comigo, então? Quem é ele? Hein? Hein?
– Claro que foi com você, Afonso. Só quero saber se você sabe qual foi a minha, quero dizer, nossa, melhor vez...
– Uhm...
– Diz, Afonso!
– Fácil! Aquela vez no carnaval. Eu fantasiado de batman e você de mulher gato. Lembra? Você estava um arraso com aquele colant preto!
– Afonso, nesse baile você estava tão bêbado que passou a noite toda de braços abertos, grudado numa parede, dizendo pra todo mundo que você era um morcego!
– Mas não foi bom? Quero dizer, o depois... a esticada...
– Tirando o fato de você ter vomitado no meu colo...
– Não me lembro dessa parte!
– Diz, Afonso, quando foi a nossa melhor vez?
– Uhm, claro que sei... Espera... Deixa eu pensar... Já sei! Naquele Natal, lembra? Depois de botar as crianças na cama. Eu vestido de Papai Noel...
– Como assim, Afonso? Esqueceu que a sua barba falsa me provocou uma crise de asma? Acabamos no hospital!
– É mesmo...
– Afonso, tô perdendo a paciência... Você não lembra?
– Já sei, como pude me esquecer? Claro! Foi aquela vez no elevador! Nossa! O que foi aquilo?! Lembra? O risco de chegar alguém... a adrenalina dos andares passando... o espelho lateral... Essa foi a melhor de todas!
– Afonso, olha bem pra mim! “Nós” nunca transamos num elevador!
– Unrrr Unrr – num engasgo repentino – Devo estar confundindo com algum filme que vi. Ok, ok... Desisto! Então me diga, qual foi a nossa melhor vez?
– Poxa, Afonso – com lágrima nos olhos – como você pôde esquecer? Eu me lembro de cada detalhe! Era noite de lua cheia. Não era nenhuma data especial mas você me levou pra jantar num restaurante francês. Os garçons tinham até sotaque. A iluminação era toda de velas. Nós estouramos um champanhe e brindamos o nosso amor. Você tirou uma flor do arranjo de mesa e colocou no meu cabelo. Era uma gérbera amarela. Eu tinha passado a tarde no salão e você não só percebeu que eu tinha trocado o penteado, como também elogiou a mudança... Disse que eu estava parecendo a Vera Fischer. Uma noite perfeita! Como pôde esquecer, Afonso?
– Clotilde, nós não transamos nesse dia!
– Não?
– Não!
Silêncio...
– Mas foi lindo, não foi?!

Jean Marcel- Escritor, professor universitário, palestrante. É pai de dois adolescentes. Um leitor voraz. Eclético, escreve contos, crônicas, romances e infanto-juvenil. Possui o blog brisaliteraria.com

2 comentários

cecilia disse...

Fantástico! As crônicas de Jean Marcel quando abordam DR são muito interessantíssimas, além de muito divertidas. Uma melhor que a outra. Parabéns, Jean! Adorei!

cecilia disse...

"muito interessantíssimas" foi ótimo. Deslcupe aí. Estava rindo tanto do morcego grudado na parede que deu nisso.