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TENHO SIDO COISIFICADO (RÉPLICA A CINTHIA KRIEMLER) [Geraldo Trombin]


TENHO SIDO COISIFICADO
(RÉPLICA A CINTHIA KRIEMLER)

Minha trova diz um pouco do que tenho sido: Na sala, a tevê, sozinha, /falando com a parede; /na net eu lendo abobrinha/ recém-postada na rede.

Tomando emprestado o belíssimo título da sua crônica, “Essas coisas da gente”, eu completo, vão muito além. Aliás, tenho sido tanta coisa que, acho, acabei “coisificando” (a Simone adora essa palavra!) 

Tenho sido ausência dentro de mim (em cima, embaixo, por todos os lados); imagine como ando por fora. Não tenho frequentado os sorrisos dos meus lábios nem os dos meus amigos. Tenho sido lacuna até para os meus CDs (que no passado ouvia com carinho e atenção), já que há tempos não mais “sou todo ouvidos”.

Tenho sido lápis desapontado (ao pé da letra), decepcionado com as péssimas linhas com que tenho escrito a minha história: cheia de reticências, de parágrafos desestimulados, de capítulos obstruídos e sem letras capitulares que os valorizem.

Tenho sido solidão, como a defino em um micropoema: uma caixinha de surpresa, sem nada dentro! E emendo com um trecho genial do conto “Proust” de Diego Moraes: “Meu coração é um bar vazio tocando Belchior”. Ah, essa solidão, que faz a festa sozinha num imenso salão todinho decorado com nada, e sem convidados, dançando “dois pra lá, dois pra cá” abraçadinha e com a cabecinha encostada no ombro do deus-dará.

Tenho sido objeto abjeto, atormentado pela fatídica obsolescência programada: liquidificador, aspirador, acendedor, despertador, enfim, produto com os dias contados, acentuado pelo sufixo dor. Mas (que bom!), tenho sido também o que o zodíaco determinou: ariano obstinado, batalhador, desbravador, arrebatador e, muitas vezes, vencedor: independente do tamanho da minha alegria ou da minha dor.

Mesmo o mundo pensando que cheguei lá (e eu ainda achando que não, apesar da minha aparente desistência), tenho sido persistência. Continuo na luta. Afinal, minhas armas (e garras) estão sempre à mão!

 


Geraldo Trombin é publicitário, colunista dos blogs ContemporArtes e BDE (Bar do Escritor), e colaborador do jornal “O Liberal”, de Americana/SP. Lançou em 1981 “Transparecer a Escuridão”, produção independente de poesias e crônicas, e em 2010 “Só Concursados - diVersos poemas, crônicas e contos premiados”. Tem classificações em inúmeros concursos literários realizados em várias partes do país e também em Portugal, além de trabalhos publicados em jornal e diversas antologias.

2 comentários

Quem não Canta Recita disse...

Gostei dessa "coisa ausência em mim..." a ausência sem dúvida é uma palavra forte

geraldo trombin disse...

Obrigado pela leitura, Edgar... abração...