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CENTENÁRIO DE CARLOS LACERDA [Revista Biografia]


CENTENÁRIO DE CARLOS LACERDA

Carlos Frederico Werneck de Lacerda nasceu na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 30 de abril de 1914, filho de Maurício Paiva de Lacerda e de Olga Werneck de Lacerda. Iniciou sua carreira profissional em 1929, escrevendo artigos para o Diário de Notícias. Em 1932 ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, abandonando o curso em 1934, segundo registrou em seu livro Depoimento.

Lacerda participou do grupo articulador da Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização fundada em 1935 com o caráter de "frente popular", cujo programa, baseado na mobilização das massas, propunha a luta contra o integralismo, o imperialismo e o latifúndio.

A ANL foi fechada no dia 11 de julho, por decreto do presidente Vargas, tendo sua sede, situada no Distrito Federal, lacrada dois dias depois.

Em 10 de novembro de 1937 foi deflagrado o golpe que determinou o fechamento do Congresso Nacional e a abolição de todos os partidos políticos no país, instaurando o Estado Novo. Na ocasião Lacerda encontrava-se preso na Polícia Central, sendo posto em liberdade poucos dias depois por insuficiência de provas. A partir de 1938 dedicou-se às atividades jornalísticas. Seu rompimento com os comunistas ocorreu em 1939.

O ano de 1945 seria marcado pela consolidação do processo de redemocratização do país. Ainda no início desse ano, Lacerda começou a trabalhar como free-lancer no Correio da Manhã, onde criou, em 1946, a seção intitulada "Na tribuna da imprensa".

Em janeiro de 1947 foi eleito vereador pelo Distrito Federal na legenda da União Democrática Nacional (UDN). Em 1949 foi afastado do Correio da Manhã. Conservando, no entanto, o direito de usar o título de sua coluna, decidiu lançar um novo jornal com esse nome. Assim, em dezembro de 1949, fundou a Tribuna da Imprensa que, representando as principais propostas da UDN, viria a fazer oposição às forças políticas vinculadas ao getulismo.

Em agosto de 1953 Lacerda fundou no Rio de Janeiro o Clube da Lanterna, congregando diversos parlamentares, principalmente udenistas, no combate ao governo Vargas. Em 1954 a situação política se agravou quando, na madrugada do dia 5 de agosto, ao voltar de um comício no Colégio São José, Lacerda foi alvejado na porta de sua casa, à rua Toneleros, em Copacabana. O atentado que se tornou conhecido como Atentado da Toneleros , resultou na morte do major-aviador Rubens Florentino Vaz, integrante de um grupo de oficiais da Aeronáutica que dava proteção a Lacerda, que escapou com um ferimento no pé.

No dia 12 Lacerda lançou um editorial na Tribuna da Imprensa exortando as forças armadas a exigirem a renúncia de Vargas. Com a confirmação do envolvimento da guarda pessoal do presidente no atentado, a oposição intensificou sua campanha. No dia 22 a exigência da renúncia de Vargas começou a generalizar-se nos meios militares. Isolado politicamente e na iminência de ser deposto, Vargas suicidou-se no dia 24.

Em artigo publicado em 4 de janeiro de 1955 na Tribuna da Imprensa, Lacerda reconheceu as divergências existentes no interior das forças armadas e defendeu a interferência dos militares na vida política do país. No dia 10 de fevereiro deste mesmo ano, apesar da oposição dos udenistas e dos setores militares a eles vinculados, o governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek teve sua candidatura homologada pelo PSD, vencendo as eleições presidenciais.

Firme em sua proposta, Lacerda continuou a publicar na Tribuna da Imprensa violentos artigos defendendo a interdição da posse dos eleitos e pedindo insistentemente a intervenção dos militares na política nacional. No dia 8 de novembro, o então presidente Café Filho, que encontrava-se internado para tratamento de saúde, transmitiu o governo a Carlos Luz. No dia seguinte Lacerda assinou mais um violento artigo intitulado "Não podem tomar posse", no qual afirmava que Carlos Luz não assumiria o governo para preparar a posse de Juscelino e Goulart.

Em 10 de novembro, ao tomar conhecimento da decisão de Carlos Luz de não autorizar a punição de Mamede, o general Henrique Teixeira Lott pediu demissão da pasta da Guerra. Entretanto, quando se dirigia ao Ministério da Guerra para preparar a transmissão do cargo a seu sucessor, general Álvaro Fiúza de Castro, Lott foi convencido por diversos generais de sua confiança a permanecer em suas funções e, dessa forma, provocar a deposição do presidente. Assim, na madrugada de 11 de novembro a capital federal foi ocupada por tropas do Exército e o comando das operações militares centralizado no Ministério da Guerra, sob a chefia de Lott. O jornal Tribuna da Imprensa e a sede do Clube da Lanterna foram sitiados e, aos poucos, todas as unidades do Exército foram-se posicionando a favor de Lott.

Refletindo a posição de Lott e dos chefes militares comprometidos com a posse de Kubitschek e Goulart, o Congresso aprovou pouco mais tarde o impedimento de Carlos Luz dando posse na presidência da República a Nereu Ramos, vice-presidente do Senado e elemento seguinte na ordem legal de sucessão.

Ao tomar conhecimento da notícia de seu impedimento, Carlos Luz enviou mensagem aos brigadeiro Eduardo Gomes e ao contra-almirante Amorim do Vale recomendando-lhes a suspensão de qualquer resistência a fim de evitar derramamento de sangue. Lacerda, aconselhado por seus companheiros udenistas Afonso Arinos de Melo Franco e Juraci Magalhães, asilou-se na embaixada de Cuba. Obtendo salvo conduto pela interferência junto ao Itamarati, do embaixador cubano no Brasil, Gabriel Landa, ainda no mês de novembro embarcou para Cuba, de onde partiu para os Estados Unidos da América (EUA), fixando-se com a família na cidade de Norwalk, Connecticut. Durante sua estadia nos EUA, Lacerda trabalhou como correspondente da Tribuna da Imprensa e colaborou também com os jornais O Globo e O Estado de São Paulo. Em meados de 1956 transferiu-se para Lisboa.


Carlos Lacerda, 13.03.1959,
[Arquivo Agência Globo]

No dia 11 de novembro de 1956 Lacerda retornou ao Brasil, sendo recebido na cidade do Rio de Janeiro por grande manifestação popular. Logo em seguida reassumiu o mandato de deputado federal e a direção da Tribuna da Imprensa, dando início, de imediato, aos ataques ao governo Kubitschek.

No início de 1959, começou a articular no interior da UDN a candidatura do ex-governador de São Paulo, Jânio Quadros, à presidência da República nas eleições fixadas para outubro do ano seguinte. Em artigos publicados na Tribuna da Imprensa, desenvolveu intensa campanha em favor de seu candidato tendo como eixo o combate ao governo Kubitschek, acusado de corrupto e responsável pela inflação e a alta do custo de vida em virtude dos gastos com a construção da nova capital em Brasília. Lacerda participou de forma assistemática da campanha eleitoral de Jânio, já que estava preocupado em articular sua própria candidatura ao governo do estado da Guanabara.

Em 5 de dezembro de 1960 foi empossado como primeiro governador do recém-criado estado da Guanabara, iniciando de imediato a execução de uma ampla reforma administrativa. Logo nos primeiros meses do governo Jânio Quadros, as divergências entre Lacerda e o presidente se explicitaram. Na liderança da ala radical da UDN carioca, o governador da Guanabara foi se distanciando cada vez mais dos setores liberais do partido, que tendiam a apoiar o presidente, e desencadeou uma violenta campanha de teor anticomunista nos jornais Tribuna da Imprensa e O Globo. Em outubro de 1961, já sob o presidência de João Goulart, em conseqüência de dificuldades financeiras Lacerda vendeu a Tribuna da Imprensa para Manuel Francisco do Nascimento Brito.

Em 31 de março de 1964 foi deflagrado o movimento político-militar que derrubou o presidente Goulart. No dia 8 de abril Lacerda participou de uma reunião com Costa e Silva em que se decidiu o apoio à candidatura do general Castelo Branco à presidência da República. Em maio seguiu para a Europa em viagem oficial para divulgar os objetivos do novo regime. Seu apoio ao governo Castelo Branco, todavia, durou pouco. Alijados das principais decisões políticas, Lacerda e seus adeptos da UDN foram se desligando progressivamente do projeto político-militar que por muitos anos haviam defendido.

Durante o ano de 1965 continuou divergindo do governo federal tendo, por várias ocasiões, criticado abertamente Castelo Branco. A suspensão das eleições diretas para a presidência da República colocou um ponto final nas pretensões de Lacerda que, frustrado com o rumo dos acontecimentos, afastou-se do governo do estado da Guanabara em 4 de novembro de 1965.

Em setembro de 1966 a imprensa já se referia abertamente à constituição de uma ampla frente política denominada pelos jornais de Frente Ampla, reunindo Lacerda, que foi seu principal articulador, além de Juscelino Kubitschek e João Goulart. Atento às articulações da Frente, o governo não afastava a possibilidade de tomar medidas de represália. Além disso, desconfiando que o principal objetivo da Frente era o de minar a aprovação do nome de Costa e Silva pelo Congresso, os militares da "linha dura" ameaçaram retirar a cobertura que sempre haviam dado a Lacerda, caso ele prosseguisse na tentativa de acordo com os "banidos pela Revolução ".


Carlos Lacerda, foto: Rubens Americo - O Cruzeiro,
[Arquivo do Estado de Minas]

Apesar de toda essa movimentação, em 28 de outubro de 1966 a Frente Ampla foi lançada com um manifesto dirigido ao povo Brasileiro publicado na Tribuna da Imprensa. No dia 5 de abril de 1968, pela Portaria nº. 177 do Ministério da Justiça, foram proibidas todas as atividades da Frente Ampla. Diante do agravamento da situação política, em 13 de dezembro de 1968 foi editado o Ato Institucional nº 5, conhecido como AI-5. No dia seguinte Lacerda foi preso e conduzido ao Regimento Marechal Caetano de Farias, da Polícia Militar do Estado da Guanabara. Após uma semana em greve de fome, conseguiu ser libertado. Em 30 de dezembro teve os direitos políticos suspensos por dez anos.

No início de 1969 viajou para a Europa, e em maio seguiu para a África como enviado especial de O Estado de São Paulo e do Jornal da Tarde. De volta ao Brasil, dedicou-se às atividades empresariais nas companhias Crédito Novo Rio e Construtora Novo Rio, e às atividades editoriais na Nova Fronteira e Nova Aguillar, todas empresas de sua propriedade. Colaborou ainda em O Estado de São Paulo e no Jornal do Brasil sob o pseudônimo de Júlio Tavares. Casou-se em em 1935, no civil, e em 1947 em cerimônia religiosa com Letícia Abuzzini de Lacerda, com quem teve três filhos. Faleceu no Rio de Janeiro em 21 de maio de 1977.

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Fonte: Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed., Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001/ CPDOC FGV.
http://www.elfikurten.com.br

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