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Lupicínio Rodrigues, romântico e boêmio. O Centenário de quem está eternamente em nossas cantações [ Silas Correa Leite]

Texto-Homenagem: Lupicínio Rodrigues, Romântico e Boêmio.
O Centenário de Quem Está Eternamente em Nossas Cantações.

 
‘E a saudade no meu peito/Ainda chora...’
(Felicidade, Lupicínio Rodrigues)

Quando Cazuza cantava suas loucuras aventurosas, um verdadeiro (e alucinado) pierrô retrocesso meio bossa-nova meio dor-de-cotovelo, no rock-and-roll tupiniquim abrindo passagens, via-se (leia ouvia-se) ali, o Cazuza baladeiro e romântico, com sua alma purgando rolês boêmios na maravilhosa cidade libertária, com sua peculiar dor-de-cotovelo fazendo parte de seu show, em toda volúpia, glória e paixão que havia na sua louca vida de rebelde sem calças...

A dor-de-cotovelo então evocada, já tinha sido sincopada na velha bossa nova, de Vinicius a Tom Jobim, depois pareou entre o brega chique e o cancioneiro popular, debutando também na velha Jovem Guarda com as canções que o Rei fez pra nós, caiu marota e exagerada em duplas berrantes de modas caipiras melosas com dor de corno, mas, datada originária e com original pureza em seu auge criacional nas cantações plangentes de sangue, suor e cerveja de Lupicínio Rodrigues, o mestre no gênero, na sua realista poética de amarguras e desencantos, tipificando tristes ramos de solidão, abandono, entrevamentos e loucura no gênero, em belíssimas obras com harmonia, melodia, ritmo e grandiosas letras fartas de alto quilate e profícuo gabarito de quem lia almas e cenas de relacionamentos a ferro e fogo... a batom e promessas...

Quando escutei pela primeira vez a também gaúcha pimentinha Elis Regina interpretar com enlevo a MPB “Cadeira Vazia” de Lupicínio Rodrigues, babei, quebrei a cara, quase levitei, fiquei pasmo, depois, chorei largado. Onde já ouviu aquilo? Eu estava ouvindo “A Música” em sua portentosa melhor expressão máxima. Essa e outras composições na voz de Jamelão com a Orquestra Tabajara de áureos tempos, passando por Maysa, Paulinho da Viola, Dalva de Oliveira, Nelson Gonçalves, Cyro Monteiro, e, ainda, aqui e ali, um Fábio Junior qualquer da vida, e as belas letras encorpadas de Lupicínio Rodrigues o eternizaram como um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, e, certamente, o melhor e maior compositor de músicas ao estilo dor-de-cotovelo que o caboclo brasileiro tanto adora e entoa com lágrimas nos olhos vermelhos e coração batendo forte no tronco do peito.

O tempo passou, a história varreu torvelinhos de relações complicadas para todos os gostos, revisando de Shakespeare a Nelson Rodrigues, mas fica o homem, o mito, o ser humano Lupicínio Rodrigues. Que nesse ano da graça de 2014 tem o seu centenário comemorado. E quando você, lá pelas tintas das altas madrugadas televisivas afora, de repente clarificado vê Lupicínio Rodrigues num ensaio qualquer da TV Cultura de SP, cantando, (ao seu jeitinho malemolente) e interpretando suas próprias composição com o seu ramalhete de ternura e afeto sincero, peculiar, sua presença discreta, seu lado tímido, seu recolhimento encabulado nos globos oculares fundos, sua voz fina e milimetricamente colocada nas cantações que saem a caráter numa contemplação ensimesmada da via amorosa ali em arrebentações musicais entre tins e tons, você então o lê/ouve/sente/lê nas entrelinhas sonoras o baita compositor que foi Lupicínio, o grandioso artista, um dos melhores da MPB de todos os tempo, na riqueza de nossa musica qualificada que está entre as melhores do mundo, no nível de jazz e blues da rica américa do norte com suas estrelas de sangue.

Centenas de cantores de naipe do Brasil e do exterior gravaram Lupicínio Rodrigues, de Caetano Veloso a Jair Rodrigues, de Altemar Dutra a Maria Bethânia ou mesmo Vicente Celestino. E correm a meia boca os causos, lendas e invenções do arco da velha sobre o mito que Lupicínio Rodrigues se tornou pela excelência da carreira de sucesso que fez e ainda esplende mesmo depois que foi se aprumar em forrobodós de outros pagos celestes...

Fica então sabendo de como ele, seresteiro de marca maior, incorrigível, tomava todas e mais algumas, depois, passado etilicamente, madrugada estrelada e fria nos recantos da capital gaúcha de Porto Alegre onde nasceu a 19/08 1914, e então os amigos fuzarqueiros o punham na sua condução de noitadas uma charrete da cor do céu O cavalo, já manjando e acostumado com a diária via etílica, troteava seguindo sozinho seu curso, em sentido ao lar do artista, puxando o veiculo que levava seu dono sonhando com festins e bebemorações. Aurora fria, o animal treinado em percursos de gandaias por atacado, ficava batendo com s patas dianteiras em frente a casa em que seu dono morava. Até que a acostumada patroa loura por ele também loucamente adorada, abrisse a porta e viesse recolher seu boêmio, seu homem, notívago viciado dos desfrutes da farra e sapecado na jornada das estrelas.

Entre as dez melhores musicas brasileiras de todos os tempos, eu colocaria, não necessariamente nessa ordem, O Índio de Caetano Veloso, Se eu Quiser falar com Deus de Gilberto Gil, Cadeira Vazia de Lupicínio, e ainda algumas outras como Morro Velho (Milton), Construção (Chico Buarque), No Tempo dos Quintais (Sivuca) Suíte dos Pescadores (Caymmi) Aguas de Março (Jobim), Disparada (Geraldo Vandré) e Vingança ou mesmo Se Acaso Você Chegasse, ambas também do Lupicínio. Que tal Porto Alegre criar um Memorial de Lupicínio Rodrigues, a Casa do Lupicínio, ou mesmo o MULRAB-Museu Lupicínio Rodrigues de Arte e Boemias? A história da MPB agradece.

Lupicínio faleceu no inferno astral de seus 60 anos de idade, em 27/08/1974, e nesse ano de 2014 comemoraria seu centenário de vida e brilho. Nós, sonhadores, poetas, namorados, filhotes etílicos de luas e ruas, de bares, esquinas e quebradas do mundaréu; nós, românticos, apaixonados, em nome dele e em memoria dele o louvamos, e o reafirmamos presente desde o estandarte do amor e flor, desde o mosaico de amor e dor, solenemente respeitando suas cantações ricas em falar de paixões e traições, de abandono e dezelo etílico, mais a solidão-cangalha, a paixão impossível, o pacto de morte, a felicidade, tudo o que ainda nos mostre o que o mestre Lupicínio vale pela obra musical que criou, tão bem cantando com o coração, coma alma, com a mente brilhante, com sua magnifica visão poética de trovador e seresteiro, arauto da noite, boêmio, companheiro, compositor que louvou desde os 'don-juans' pecadores às maravilhosas mulheres loucas e seus anseios, de apaixonados com causas, essas namorados vorazes e seus rufiões, seres açodados pelo rompante do amor desenfreado, e que, muitas vezes, perdida a esperança de ser feliz, desesperadamente iam mesmo ao inferno à procura de luz...

A benção, Lupicínio.

O fígado faz mal à bebida, mas, como baristas também tomaremos umas e outras, e mais algumas, em tua saudade e reverência, em tua homenagem e filtro de saudade, em tua evocação e graciosa lembrança. Tim-Tim, Lupicínio, estás eternamente em nossos corações apaixonados, mesmo com tantos percalços dantescos de nossas relações amorosas em labutas de aprimoramentos afins, mas, fique luz, o show tem que continuar. E assim levaremos sempre você para onde a alvissareira boemia brasileira estiver.

Silas Correa Leite, ciberpoeta, blogueiro, livre pensador humanista, letrista de rocks e blues, jornalista comunitário, boêmio da estância boêmia de Santa Itararé da Artes, radicado em Sampa, premiado em concursos literários de renome em verso e prosa em Santa Maria e Canoa, RS. Prêmio Lygia Fagundes Teles de Poesia, Prêmio Paulo Leminski de contos, Prêmio Ignácio Loyola Brandão de Contos, Prêmio Biblioteca Mário de Andrade de Poesia, SP. Consta em mais de 700 links de sites da web, até no exterior, escritor membro da UBE-União Brasileira de Escritores, autor, entre outros, de GOTO, Romance, O Reino Encantado do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, Editora Clube de Autores. Autor de Pirilâmpadas, Poesia Infantojuvenil, Pragmatha Editora, RS, no prelo. E -mail: poesilas@terra.com.br– Site premiado do UOL: www.portas-lapsos.zip.net -Texto da Série “O Brasil Pondo os Pingos no Is dos Vários Brasis Gerais”/Livro em formação do autor.

Um comentário

Edson Marques disse...


Muito muito muito bom!
Digno de Silas...

Abraços,