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A postura dos escritores [Laura Bacellar]

A postura dos escritores


por Laura Bacellar

Tem muita gente que fica pedindo dicas as mais variadas: como escrever, que programa usar, fórmula para romance, quais assuntos vendem e mais uma infinidade de guias, ajudas, informações, passo a passo. 

Trabalho há mais de trinta anos com livros, tendo visto todo tipo de autor e autora, publicado e querendo ser, prestigiado, de sucesso e nem tanto, e captei algumas características que se repetem naqueles que conseguem construir uma carreira de escritor/a. Vou comentar algumas delas numa série de artigos que começa com este. 

A primeira característica que observei tanto em escritores brasileiros quanto em estrangeiros é uma interessante auto-suficiência. A escrita, como já observei aqui algumas vezes, é uma atividade criativa, de risco, sem nenhuma garantia. Quem embarca nela deve fazê-lo movido por vontade própria e mais nada.

Não há garantia de que alguém vá gostar do que você escreve, quanto mais querer publicar, quanto mais querer comprar. 

Não há garantia sequer de que alguém vá ler o que você escreve!
Ninguém sabe se conseguirá atrair algum editor, se será adaptado para o cinema, se virá a tornar-se uma celebridade entrevistada na televisão. Pode ser que sim, pode ser que não.

Não existem garantias, porque em qualquer produção cultural não é possível saber os resultados. O público é um animal imprevisível, o máximo que se pode fazer é observá-lo e tentar entrar em sintonia com ele. 

Sucessos acontecem de forma esperada – um escritor famoso que lança a continuação de uma história que já agradou, por exemplo – e de forma inesperada – alguém improvável, com um blog obscuro ou personagens esquisitos, consegue cativar um público imenso de repente.

Não existe fórmula, no entanto. Insucessos acontecem de forma esperada – alguém escreve de maneira medíocre sobre algo que não interessa a ninguém, por exemplo – e de forma inesperada – um escritor famoso lança uma história para o mesmo público a quem já agradou mas a novidade não é bem recebida. Apesar do marketing pesado, da exposição extrema, dos comentários nas mídias... 

Tratando-se então de uma atividade repleta de incertezas, desde a forma de conceber a obra, passando por seu conteúdo, tom, ritmo, até a maneira de levá-la ao público e divulgá-la, quem deseja exercê-la realmente não pode depender muito de estímulos externos.

Claro, escritores precisam prestar atenção em tudo. Precisam olhar em volta para construir seus cenários e personagens, precisam ouvir falas para criar diálogos com verossimilhança, precisam observar o que outros escritores pensam e escrevem para ajustar o tom de suas obras ao que acontece na cultura como um todo. 

Precisam ler muito, sempre. E avaliar o que se desenrola no mercado, o que as pessoas lêem e comentam e gostam. Mas a decisão final sobre o que escrever e como e com que ferramentas tem que ser pessoal, baseada num sentimento lá no seu âmago do que querem fazer.

Escritores precisam ter um centro de onde extraem suas histórias ou criam suas obras. Isso não dá para ser fabricado, ensinado, transformado em passos. Não existe isso. E nem haveria razão para existir, qual a graça de uma atividade criativa ser reduzida a fórmulas? 

Escritores precisam usar esse centro próprio para fazer experiências. Tal personagem funciona? Essa história seduz? Esse assunto chama a atenção?

Sei lá! Ninguém sabe! Quem sabe, ou melhor, quem suspeita é quem escreve e a única maneira de ter certeza é fazendo experiências. Escrevendo, depois lendo, depois tentando publicar. Reescrevendo, reavaliando, tentando publicar. Imitando o estilo de um, inventando uma abordagem nova, recorrendo a um clássico. 

Quem escreve como carreira, como atividade para a vida inteira, como necessidade, tem esse instinto lá bem dentro e é a ele que obedece, ainda que prestando atenção em volta.

Essas pessoas não pedem dicas sobre como fazer, porque elas sabem que as possibilidades são infinitas. Não pedem aulas porque sabem que o aprendizado é contínuo e vem de fontes variadas. Não querem ser conduzidos porque sentem que têm um caminho próprio. 

Não são arrogantes, ou pelo menos nem sempre, mas têm a sensação de que, para escrever, precisam descobrir suas próprias fórmulas e métodos e sistemas.

Na minha opinião, essa auto-suficiência acaba levando a algum tipo de sucesso, seja de livros publicados, de reconhecimento, seja no prazer de obras bem feitas.

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