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Tristeza Pedagógica [Eliane Quinhone]

O post que tem causado destaque esses dias nas redes sociais foi, sem dúvida, do professor de filosofia, Antônio Kubitschek, do Centro de Ensino Médio 3 de Taguatinga, em que  cita     a cantora Valesca Popozuda, como grande pensadora contemporânea, em uma prova aplicadas para alunos 2º e 3º ano do ensino médio.

O que mais me entristece nessa polêmica toda, além de ver através de uma questão mal elaborada o baixo nivelamento dado pelo professor à crítica filosófica, foi ver  poetas e escritores concordarem com isso! Alguns não conseguem, realmente, perceber o que se realmente passa com a nossa educação, não conhecem fatos e argumentam como educadores...

Discutindo com colegas educadores, postei ontem no meu face essa prova polêmica e convidei  uma amiga e colega da Secretaria Municipal de Educação para fazer uma análise e ela me enviou a seguinte resposta postada abaixo e intitulada: "Tristeza Pedagógica".
 (Ivana Schäfer)

TRISTEZA PEDAGÓGICA

Não queria usar este espaço para comentar sobre algo triste na educação brasileira, mas acredito que isso nos ajudará - educadores - a refletir. Por isso aí vai...



Uma das polêmicas atuais se refere ao professor de Filosofia que propôs aos alunos do 3º ano/ Ensino Médio uma questão de prova na qual cita a cantora Valeska Popozuda, como "grande pensadora contemporânea" (veja a foto). O citado professor alegou, ao se pronunciar sobre isso, que não foi irônico e que seu objetivo era "fazer os alunos refletirem sobre a sociedade contemporânea", além de dizer que a cantora pode ser, sim, considerada: pensadora moderna. Em minha opinião, a atitude dele demonstra vários problemas, sendo que alguns comentarei logo abaixo:

1) o profissional parece não saber qual o conteúdo da filosofia, se soubesse, elaboraria a questão de outro modo, levando os alunos a analisar, por exemplo, a questão da violência urbana no país, banalizada na letra da música e já aceita pela sociedade como algo comum, principalmente nas favelas do RJ; A filosofia nos faria perguntar: qual é o contexto em que a música foi criada? Qual a intenção? Qual o papel e a intenção da mídia para tornar isso um sucesso? O que é cultura de massa? Por que a elite também "aceitou" essa canção?

2) o profissional tem dificuldade para elaborar questões nas quais os alunos devem expressar apreciações éticas e/ou sociais . A pergunta que ele fez não requer reflexão e, sim, que os alunos conheçam a letra. Ou seja, mobilização de conhecimento prévio. Logo, não resgata nenhuma discussão crítica que possa ter sido feita em sala de aula.

Isso tudo reabre uma discussão: qual o papel da Filosofia na Educação Básica? Como as áreas do conhecimento podem e devem contribuir para que o aluno compreenda e transforme a própria realidade?

3) Qual é o conceito de grande pensador? Aqui há uma distorção séria e que compromete a tal "formação para o exercício da cidadania plena", função primordial das instituições de ensino: pela lógica do professor, o autor de Lepo- Lepo, do Creu e tantas outras músicas que são e foram "sucesso de uma temporada" seriam pensadores contemporâneos (pelo que andei lendo, outros professores tbm compartilham dessa opinião dele).

- Tudo bem, o professor de Filosofia conseguiu seus 15 minutos de fama, talvez até seja convidado para gravar uma música com a Valeska (talvez o Funk da Filosofia Proibidona), ir ao Programa do Faustão; aparecer no Fantástico (e desviar a atenção dos educadores de outras questões urgentes, exemplo: O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESTÁ SENDO DISCUTIDO NO SENADO DESDE 2011 - QUAL A ATUAÇÃO DE NOSSOS REPRESENTANTES POLÍTICOS NESSE PROCESSO?; QUANDO O GOVERNO FEDERAL VAI AUMENTAR A VERBA DA EDUCAÇÃO? TALVEZ QUANDO FALTAREM DOIS MESES PARA A ELEIÇÃO?).

Assim, em minha "tristeza pedagógica", peço aos professores, independente da disciplina com a qual trabalham, independente do nível em que atuam: vamos repensar nossa atuação docente, de modo que as questões discutidas na escola, de fato, contribuam para que nossos alunos (e nossos colegas de trabalho) tenham uma visão crítica da sociedade contemporânea, com direito à opinião própria e não opiniões "ditadas" pela mídia.

Abraços Fraternos!!!

Eliane Quinhone


Eliane Quinhone nasceu em campinas, formada em letras pela UFMT, Mestre em Estudos Linguísticos pela UFMT, poeta e Coordenadora de Avaliação Institucional da Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá.

2 comentários

Luana Simioni disse...

Parece-me que depois foi feita uma entrevista com ele, e essa questão justamente era pra mostrar o quanto algo ruim ganha fama, e feitos bons não. Não acredito que ele fez uma pergunta dessa por puro desconhecimento dos termos citados e de quem se tratava a cantora, apenas podemos concluir que polêmicas desnecessárias foram geradas

Levi disse...

No texto "Tristeza Pedagógica", ao criticar o professor, a autora cometeu o grande equivoco de emitir análise sem conhecer a realidade. Fez justamente o que ela recomenda não fazer, emitir "opiniões "ditadas" pela mídia". Sugiro a leitura da entrevista que o professor concedeu. Link abaixo.
http://socialistamorena.cartacapital.com.br/kubitschek-o-provocador-a-escola-publica-e-tao-mal-considerada-quanto-valesca-e-o-funk/