O mercado editorial sob a
ótica dos escritores
Entrevista com Caio Riter publicada no Portal Artistas Gaúchos
Publicar um livro é um
sonho de muita gente, o que faz com que amantes da leitura e da escrita por vezes
caiam em grandes armadilhas. Para discutir este complexo mercado editorial,
ainda mais em tempos de livros digitais, iniciamos hoje uma série de
entrevistas com escritores de diferentes trajetórias sobre carreira, publicação
e o futuro do livro. A primeira entrevista é com Caio Riter, professor,
escritor premiado, com diversos livros recomendados pelo PNBE e presidente da
Associação Gaúcha de Escritores.
Como e quando surgiu a
vontade de ser escritor? Você já iniciou publicando em livros?
Olha, quando puxo pela
memória, não encontro um marco da minha decisão de ser escritor. Acho que a
vontade foi se instalando aos poucos, veio devagarzinho e acabou se apossando
graças ao tanto de livros que foram fazendo parte da minha vida como leitor.
Aí, um rascunho aqui, outra ameaça de texto ali, fui começando a acreditar que
poderia ser escritor, que poderia ser lido também. Então, fiz oficina literária
com o Assis Brasil na PUC. Porém, minha primeira publicação individual, ocorreu
apenas em 1994, com o livro infantil, hoje esgotado, "Um Palito
Diferente".
Você tem livros publicados
por importantes editoras, mas iniciou publicando por conta própria. Quais as
principais vantagens de estar vinculado a uma editora tradicional?
Na verdade, meus dois
primeiros livros, "Um Palito Diferente" e "A menina que virou
bruxa" não foram edições por conta própria. Foram publicados pela Editora
Interpretavida, que estava iniciando seu plano de edições. A editora, infelizmente,
durou pouco, publicando um catálogo bastante pequeno. Após isso, é que acabei
me vinculando ao projeto de edição da WSEditor. Em 2005, parei de editar por
conta própria, publicando livros com a Artes e Ofícios e com a Paulinas. Hoje
publico por mais de dez editoras. Creio que publicar por uma editora comercial,
cujo processo de edição envolve várias pessoas, depende de muitos aceites,
acaba por dar ao texto maior credibilidade junto ao público e junto à crítica,
embora o meu primeiro livro premiado, "A cor das coisas findas", ter
sido publicado, inicialmente, por conta própria. Além disso estando no catálogo
de um editora tradicional sempre é maior possibilidade de distribuição, e isso
acaba fazendo com que o livro possa cumprir, de forma mais intensa, sua função
primeira: ser lido pelo maior número de pessoas possível.
Vamos falar um pouco sobre
as editoras tradicionais. Como você chegou à primeira publicação? Foi enviando
originais às editoras ou foi pelo Barco a Vapor?
Meu primeiro texto
publicado por editora tradicional foi através do envio de um original para a
Paulinas (na verdade, enviei três e um foi aceito: "O fusquinha
cor-de-rosa"). O segundo produzi por convite da Editora Artes e Ofícios.
Porém, após vencer o Barco a Vapor, as coisas começaram a acontecer de forma
mais tranquila. Várias editoras do centro do país e algumas do RS me procuraram
interessadas em originais. Outras encomendaram textos que se adequassem a seus
catálogos.
A partir de que momento
você percebeu que sua carreira deslanchou? Foi a partir de algum prêmio
importante?
O Prêmio Barco a Vapor foi
fundamental em minha carreira. Fui o primeiro brasileiro a ganhá-lo e, quando
isso ocorreu, editores do centro do país estranharam que eu já publicasse há
dez anos, sem ser conhecido fora do RS.
Nas editoras tradicionais,
como se dá o pagamento de cachê para a realização de palestras e oficinas em
escolas?
Normalmente, o cachê está
ligado ao número de livros vendidos, oscilando. Todavia, normalmente fixo um
valor mínimo, a fim de não fragilizar o mercado, visto que entendo que visitar
escolas e feiras não seja uma função do escritor. Escritor escreve, as demais
atividades para as quais é convidado devem, portanto, ser remuneradas. Para
fixar meu cachê, normalmente levo em conta o número de atividades, sua
natureza, a distância do local do evento, o público.
Quanto as editoras têm
oferecido de direito autoral para o escritor de livro infantil?
Meus contratos, em sua
maioria, são de 10% de DA.
Para um autor reconhecido
como você, vale mais a pena ser exclusivo de uma editora ou ter livros em
diferentes editoras? Por quê?
Não curto exclusividade,
embora já tenha recebido convite para tal. Creio que a não-exclusividade torna
o autor mais livre para apostar em novos projetos, em novos públicos.
Você percebe alguma
diferença importante entre publicar por grandes editoras nacionais ou com
editoras regionais? Quais as vantagens e desvantagens das editoras nacionais?
Não há diferenças
substanciais, pois as editoras gaúchas com as quais trabalho têm boa distribuição
nacional. Hoje, o mais importante para o autor é mesmo a capacidade
distributiva que as editoras têm, pois é a garantia de que seus textos estarão
circulando e também disputando as compras governamentais em nível municipal,
estadual e federal.
O que o autor deve cuidar
no contrato da editora?
São tantos os detalhes. Eu
sempre procuro garantir os 10% de DA, julgando que, caso algum ilustrador
deseje DA, este deva ser negociado por ele com a editora e não comigo. Procuro
que o contrato não seja por tempo muito longo, a fim de que, caso haja algum
problema com a editora, o texto não fique atrelado por muito tempo a ela. Gosto
também de olhar com certo cuidado os artigos que versem sobre tradução.
O que você responde para
aqueles tantos que perguntam se dá para virar de literatura? E, acrescento eu,
você acha que a publicação de livros impressos contribui com sua carreira
profissional de professor?
Olha, se o escritor
encarar a escrita como profissão, creio que viver de literatura é possível,
sim. Para alguns, é mais fácil; para outros, mais difícil, tudo depende da
forma como a carreira será conduzida. Depende dos prêmios ganhos, das vendas
para governo que seus livros conquistaram. Quanto à tua segunda pergunta, sou
daqueles que amam o livro impresso e que creem que eles terão vida longa. Sua
existência é de suma importância para minha atividade como professor, afinal é
o livro impresso que promete histórias ou poemas ao ser aberto em sala de aula.
Há, ainda, certo encantamento com o abrir das páginas, e isso é fundamental na
construção do ser leitor: a magia do abrir as páginas. Pode ser uma visão
ingênua para muitos, mas para mim, como disse antes, é acreditar na magia, na
sintonia que há entre o olhar que traduz as palavras e a mão que acaricia as
páginas, que faz anotações. Adoro ler livros comentados pelos leitores
anteriores a mim: eles narram histórias de leitura, caminhos, descobertas, que
por vezes iluminam a minha, por vezes, contradizem minhas chaves de
compreensão. E isso é rico demais. Sobretudo para quem pretende formar
leitores.
Conheça mais sobre Caio
Riter em www.caioriter.com
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