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Viver plenamente.[Janne Alves de Souza]

Viver plenamente.

Me toma agora a compreensão de que não se pode viver pela consciência. A via primeira pela qual conhecemos as coisas imediatamente, pelo que as coisas nos tocam e nos falam de sua existência. É preciso deixar as coisas penetrar-nos dentro de nós para além da superficial camada primeira que nos cobre: a consciência - essa camada tão superficial e externa, que precede mesmo a camada mais superficial do nosso próprio corpo, a pele.

Viver pela moral, a ética da consciência, parece-me uma forma de vida vegetativa em que vive-se na superfície da vida, sem conhecê-la profundamente e deixar-se penetrar por ela, sem tocar o âmago das coisas, a sua camada mais profunda e sensível, sem conhecer a essência das coisas. A única forma verdadeira de vida é a vida sensível e a única realidade da vida verdadeira são as sensações que as coisas nos fazem sentir ao tocarmos a sua essência. 

Às vezes, quando estou doente, com dores, penso que devia cair na real, parar de sonhar, de fingir que não devia viver como uma pessoa enferma que sou, viver de acordo com o que se é bom e é certo, dizem. Mas a vida me ensinou a pensar errado, a agir errado, a ser alheia a tudo e todos, porque convém, porque pelo que sou, pelo que tenho vivido, quase nada do que dizem que é certo parece certo, quase nada do que se impõe como justo parece bom. Porque quase tudo que dizem ser certo e justo e bom é alheio à mim e, se cada um pensar sobre isso, verá que é alheio a si também e à todos nós, na verdade.

Isto pode parecer filosofia barata de auto-ajuda e idealismos utópicos de rebelde sem-causa ou coisa semelhante, mas é uma verdade prática cotidiana. Viver é quase sempre um cansaço exaustivo em momentos de dor e moléstia. Mas a vida tem me ensinado que se pode viver para além daquilo do que o que se é, que o sonho, o querer-ser, a fantasia também é o que somos. 

Eu vivo pelos meus sonhos, pelos meus interesses, pelas minhas sensações, pois são para mim a única realidade sensível, aprazível que posso experimentar plenamente, com tudo aquilo que tenho sido. Porque o mundo não é capaz de compreender o que cada pessoa tem de individual, de seu só, eu vivo errante, alheia ao mundo. E isto me parece certo e bom, porque só assim é que consigo viver plenamente.


Janne Alves de Souza - Publicitária, bacharela em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda pela PUC-SP. Pesquisadora intercambista no Curso de Licenciatura em História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal) com bolsa do Programa Fórmula Santander de Mobilidade Estudantil. Artista plástica, desenhista e fotógrafa amadora. Escreve para o site Obvious Lounge no blog: Megalomaníaca (http://lounge.obviousmag.org/megalomaniaca).

Um comentário

Adriana Versus disse...

Lindo, belo texto " Viver plenamente." Escrito com a beleza da alma...Mas nem se preocupe com estado vegetativo a que se refere...Viver pela moral, ética, temos obrigação o que é importante, é consertar o que acha errado... devemos fazer isto. Escrever, passar para o papel nossa sabedoria...Excelente seu texto, maravilhoso.