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Cercados [Erika Jane Ribeiro (Pók Ribeiro) ]


Foto: Geisabel Estrelinha
Cercados

As cancelas carregam um ar de latifúndio esnobe, que já de longe inibe. Bem diferentes são as porteiras de tocos roliços, bem lisinhos das intermitentes carícias diárias. Os saltadores, além de aleijões das cercas meticulosamente construídas por mãos ásperas, fortes, inspiram os saltos e as fugas.

Toda cerca carrega em si uma personalidade tão dúbia que assusta:  Ao mesmo tempo que separa, aprisiona, oprime , planta na gente a mais viva semente da liberdade. Saltar a cerca é um dos mais fortes exercícios de empoderamento do ser. 

Salta a cerca o bode que foge do marchante ou da brasa; saltam a cerca o gato e o cachorro em busca de aventura; salta o carneiro para livrar-nos da insônia; saltam a cerca os meninos para brincarem em outro terreiro. Se alguém mais salta é que a sede de vento na cara e luz nos sonhos é mais forte.

Longe do campo, do cheiro de mato, da orquestra dos pássaros as pessoas seguem presas, olhar controlado, passos mecanizados. De liberdade conhecem o que leram num portal de notícias, ou o que ouviram de um guru da TV, quem sabe até mais... Afinal compraram um livro de um pensador bem famoso, que vende regras sobre a arte de ser livre. E vão construindo cercas, cada vez mais robustas, separando-se em universos privês na quimera de ser exclusivo ou paradoxalmente igual a outro privilegiado. 

No meio rural, os poderosos demarcam com seus arames farpados e mãos opressoras, a mãe terra que a todos dá o alimento diário e o lírio cândido que perfuma a pele em chama. E vão demarcando numa fúria tirana, pedras, árvores, riachos de ninguém. E roubam a vida. E escravizam as mãos e os sonhos dos explorados, sem terra, sem pão, sem amor. Eu crio cercas; não as que conservam sob o poder de alguns, porções de terra, mas aquelas que me incitam a pular alto, além dos limites, além de mim.

Cada um cria a cerca que lhe representa!!

Erika Jane Ribeiro (Pók Ribeiro). Poeta, cronista, professora de Língua Portuguesa, oficineira, articuladora textual com adolescentes e blogueira. Natural da cidade de Uauá – Bahia, terra iluminada pelos vagalumes e com forte veia cultural, foi acolhida pelo Rio São Francisco desde os idos de 2000 quando iniciou o curso de Licenciatura em Letras pela UPE/FFPP em Petrolina - PE. Já em 2010, concluiu o curso de Direito pela UNEB em Juazeiro – BA e, em 2012, especializou-se em Direito Penal e Processo Penal. Amante da literatura desde sempre, começou a escrever poemas por volta dos 12 anos. Em 2007 lançou, numa produção independente, o livro de poemas “Noites e Vagalumes”. Atualmente, além de poemas, escreve crônicas, memórias literárias e arrisca-se em composições musicais, em parceria com amigos músicos. Página na internet: Vagalumes, poesia e vida

2 comentários

Marilia de Souza Coelho disse...

Lindas palavras! Ela arassa! : )

Marilia de Souza Coelho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.