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AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (16) [Rubens Jardim]


AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (16)

LUCILA NOGUEIRA (1950) poeta carioca, ensaísta, contista,crítica e tradutora. Tem vinte e dois livros de poesia publicados. Estreou com Almenara(1979)e já obteve o prêmio Manuel Bandeira do Governo de Pernambuco. Essa mesma premiação foi conquistada, em 1986, com o livro Quasar. Eis alguns títulos de livros de Lucila: A Quarta Forma do Delírio(2002), Poesia em Medellin(2006), Poesia em Cuba (2007) e Casta Maladiva(2009). Foi a primeira brasileira a participar do festival internacional de Poesia de Medellin, em sua XVI versão. Vive no Recife.
Falarão meus poemas pelas ruas

de cor como receita de viver

e aqueles que sorriam pelas costas

recitarão meus versos sem os ler


Falarão meus poemas pelas ruas

de cor como receita de viver

dirão que fui um mar misterioso

onde quem navegou não esqueceu


Falarão meus poemas pelas ruas

de cor como receita de viver

dirão que era poesia e não loucura

meu jeito de sonhar todos vocês


Falarão meus poemas pelas ruas

de cor como receita de viver

perguntarão por que vivi tão pouco

sem dar-lhes tempo de me perceber
       
           — e aqueles que sorriam pelas costas
             
                      recitarão meus versos sem os ler 


POEMA DAS MÃES 

Para Lygia, Natália, Marina e Almenara


AS MÃES SÃO BONECAS QUEBRADAS QUE NÓS ESQUECEMOS NO SÓTÃO

UM DIA FORAM ROMÂNTICAS E AMARAM DESESPERADAS

RESPEITEM O SEU SEGREDO QUE EXPLODE EM SÚBITAS LÁGRIMAS

EMBORA PAREÇAM ESCRAVAS TODAS POSSUEM UMA ALMA


NA VERDADE SÃO MULHERES QUE SONHARAM APAIXONADAS

E UM DIA SEM TER REMORSOS DESPEDIRAM-SE DE CASA

NA VIDA E NO ROMANCE SÃO ESTRANHAS PERSONAGENS

PERDIDAS DE SEUS VOLUMES NA POEIRA DAS ESTANTES


EU SOU A QUE ENSAIOU O VÔO MAS PERMANECEU NA PRAIA

AQUELA QUE CRUZOU O PORTO MAS VOLTOU NA HORA MARCADA

SALVOU-ME A MARESIA DO CONVÉS DOS TRANSATLÂNTICOS

E O HÁBITO DE REGER OS PÁSSAROS AO CHEGAR A MADRUGADA


OS PARTOS COBRIRAM MINHAS ASAS DE RAÍZES E FOLHAS DE ÁRVORES

E TRÊS ROSTOS DIFERENTES COMPLEMENTAM MINHA FACE

O JEJUM ME DEVOLVEU A PRIMEIRA VIRGINDADE

E EU ME TORNEI A MÁRTIR DE UMA ESTÓRIA EXTRAORDINÁRIA


AS MÃES SÃO APENAS MULHERES ASPIRANDO À DIVINDADE

O ESPÍRITO DE AVENTURA SUBLIMADO NA PAISAGEM

CRITICADAS POR SUAS FILHAS SOBREVIVEM COMO FADAS

SÃO AS PRIMEIRAS MURALHAS QUE DESEJAMOS QUEBRADAS


ASSIM COMO ESSAS BONECAS QUE NÓS ESQUECEMOS NO SÓTÃO


Estou mais para Elis e Janis Joplin

Florbela Espanca, eu sou Virginia Woolf

amante de Essenine e Sá-Carneiro

sobre os campos; de trigo de Van Gogh


Compreendo mais Holderlin e Nietzsche

que a loucura de Kant ou de Descartes:

tudo que em mim pareça comedido

não, passa de uma máscara de vidro


MARIA RITA KEHL(1951) poeta paulista,psicanalista, ensaísta e jornalista, tornou-se figura pública muito conhecida e atuante. No ano passado, ganhou o Jabuti com seu livro O Tempo e o Cão, a atualidade das depressões. Já publicou três livros de poemas: Imprevisão do Tempo(1979),O amor é uma droga pesada(1983), O Tempo do Desejo(1983) e Processos Primários(1996) Participou de várias antologias e desenvolve seu pensamento crítico em livros, crônicas,conferencias, entrevistas e em seu blog (www.mariaritakehl.psc.br/) 

Mato Grosso 

Meu irmão é um cowboy guiando a kombi
calado,
premonitório.
Ele atravessa os véus dourados de poeira
estendidos na estrada a dois palmos do chão.

Outra vez é essa hora do dia
quando o olhar procura os últimos sinais de luz
entre a faixa violeta dos morros e a unha da lua

outra vez essa hora que unifica os mundos.

e em Minas Gerais, no Mato Grosso, litoral paulista,
em Manhattan que eu não vi, campos tristes,
outra vez, é essa hora,

quando as coisas se lamentam.
choro de bois, sinos graves,
mulher louca de sexo e tédio
desolada
porque tudo é tão lindo e nenhum deus existe. 

Corte de cabelos para ficar triste 

Tipo faça-você-mesma. Trabalho incansável.
Pode durar uma noite -- ou mais -- fio por fio --
a memória na ponta da tesoura,
obcecada,
Medo crescente. Medo até a paixão.
Ou até conferir pelo espelho:
aquela lá morreu mesmo. 

Caminhar no escuro 

À frente, nem o vulto de uma luz.
Breu sem meias medidas.
Atrás, nada que faça lembrar
o percorrido.
Só o coração, na caixa preta,
vibra a agulha da bússola.
Caminha-se assim,
nem tanto a esmo:
pode-se dar um nome a cada passo
assim como a cada dia
com seu colar de minutos
sua falta de começo
sua falta de fim.




BERENICE SICA LAMAS(1949) poeta pelotense (RS), psicóloga, professora universitária e orientadora  de oficinas no Scrivere –espaço de criação literária. Ocupa cadeira na Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul. Já participou de várias antologias e estreou em livro em 1999, com Morder a Polpa. Outros títulos:  Ãngulos e Dobras(2000).Inventário de Ausencias(2004) e Ampulheta (2007).

na solidão das palavras

                me confundo descalça

                                     sem pés

                   o espírito assopra

                 me dilacera

sombra que ajuda a perder-se

curso d'água errante

extravio-me

         de mim

soçobro baralhada feito carta

ondas de fogo

           me caruncham

           e o gelo pertinaz

                     de sempre

gestos estranhos a mim

                se perdem no bosque

                             das palavras

                       um pavor de não ser eu mesma 

Quinta 

crianças se revoltam
no parquinho
lutam para se livrar das mães
opressoras

passantes cumprem seu papel e
passam
pássaros não voam às estrelas
na tosca aldeia

e o pinheiro
adentra galhos
ao shopping
dio mio, árvores
aderindo ao consumo?

o perigo do
caos interno
estilhaços
vazios
são navios
atracados
porto inseguro
viagem à vista
no veludo das mãos
na pata do tigre

na unha afiada e
filósofa


ZULEIKA DOS REIS (1949) poeta paulistana, formada em letras pela USP, é professora do ensino fundamental. Estreou em livro com Poemas de Azul e Pedra (1984), muito bem recebido pela crítica. Seu segundo livro, Espelho em Fuga (1989) foi prefaciado por Álvaro Alves de Faria e mereceu apresentação de Carlos Felipe Moisés e Caio Porfírio Carneiro. Participou de várias antologias de haicai. 

PRIMAVERA 

Da página aberta
salta uma pétala seca:
Primavera antiga. 

VERÃO 
Cartão de Natal.
Jesus ainda está dormindo
no colo de Maria. 

OUTONO 
O velho espantalho
e o menino da cidade.
Ambos espantados. 

INVERNO 
Sem força nas asas
O marimbondo de inverno.
Sonhos do passado. 


PARA ELIS REGINA 

(Escrito no dia, mês e ano de sua morte, em 19 de janeiro de 1982)

Estavas aqui
há tão pouco...
Já não estás.
Será que já não és?
Tua voz me percorre
tua coragem
tua presença e tuas fugas
teus ritos
teu concreto e miragem.

O pouco do tempo que ficaste
vira caleidoscópio
do tanto que foste.

Aos poucos, muito aos poucos
vou aceitando
a certeza dessa ausência imprevista
vertigem, soco na alma.

Aos poucos, muito aos poucos
te sentirei
flor desabrochada
noutro espaço
que não sabemos.

Pássaro
voa sem medo
sem medo amplia
para além da garganta
os limites humanos
do teu canto.

Saudade
aceita em paz
os ritos desta passagem.
O pássaro-pássaro
não sabe das estações
nas aprendi nomes
e o que sei deste momento:
Quero florescer no outono.


Rubens Jardim, 67 anos, jornalista e poeta. Foi redator chefe Gazeta da Lapa e trabalhou no Diário Popular, Editora Abril e Gazeta Mercantil. Participou de várias antologias e é autor de três livros de poemas: ULTIMATUM (1966), ESPELHO RISCADO (1978)e CANTARES DA PAIXÃO (2008). Promoveu e organizou o ANO JORGE DE LIMA em 1973, em comemoração aos 80 anos do nascimento do poeta, evento que contou com o apoio de Carlos Drummond de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Raduan Nassar e outras figuras importantes da literatura do Brasil. Organizou e publicou JORGE, 8O ANOS - uma espécie de iniciação à parte menos conhecida e divulgada da obra do poeta alagoano. Integrou o movimento CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964, cujo lema era: o lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os lugares... Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília (2008) com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional. Fez também leituras no café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília. E participou da Mini Feira do Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do Sertão, livro-homenagem ao centenário de Guimarães Rosa. Teve poemas publicados na plaquete Fora da Estante, (2012), coleção Poesia Viva, do Centro Cultural São Paulo. Páginas na Internet: Site: Rubens Jardim e Facebook: Rubens Jardim

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