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Coisas pequenas podem ser muito importantes [Celso Sisto]

Coisas pequenas podem ser muito importantes

por Celso Sisto  

CARNAVAS, Peter. Coisas importantes. Tradução de Regina Drummond. Ilustrações do autor. São Paulo, FTD, 2011. 32p.

No fundo, no fundo, todo livro traz embutido em si uma porção de perguntas. É essa uma maneira de dimensionar as marcas que uma leitura deixa na gente; são os ecos que uma história produz que a tornam importante.

Em relação a este livro, se poderia aglutinar todo o questionamento em torno desta pergunta: quais são as coisas importantes para cada um de nós? 

O livro conta a história de Felipe e sua mãe. Eles vivem sozinhos e ela faz tudo, desde pintar a casa até preparar o café da manhã. O pai tinha saído da vida deles e por isso eram só os dois. Um dia ela começa a colocar os velhos pertences do pai numa caixa e, mãe e filho, levam tudo à uma loja de coisas usadas. Voltam para casa e a vida segue normal. Até que misteriosamente, alguns dias depois, a mãe começa a encontrar, dentro de casa, nos lugares em que sempre estiveram, os objetos que tinham sido deixados na loja . Eles reaparecem aos poucos e deixam a mãe confusa e intrigada. E o que ela descobre depois disso é muito revelador da sensibilidade de cada um...

O texto é curto e impactante. Aliás, textos sintéticos, quando bem escritos e dimensionados, são capazes de concentrar um alto poder de explosão! Aqui a linguagem é simples, o que exige enorme precisão, que não abre brechas para o supérfluo, para o adorno, para o periférico. Apesar da aparente linearidade, o texto joga muito bem com o que ele não diz, mas guarda em suas entrelinhas. 

Desde o início as imagens revelam uma grande cumplicidade entre mãe e filho, o que estabelece logo uma bonita relação de afeto. E que ainda assim reforçam a ideia de ausência (a ser preenchida de alguma forma) e de necessidade de preservação da memória. Pois é essa outra agradável questão provocada por essa história: o que um quer esquecer pode ser justamente o que o outro quer lembrar! O menino Felipe parece silencioso, cúmplice, observador e muito sensível. Sua mãe é prática, ágil, afetuosa e perspicaz. É nessa relação que o livro aposta, para encantar o pequeno leitor, com pouco texto e um projeto gráfico que distribui equilibradamente cada bloco da história pelas páginas do livro.

Há um predomínio do fundo branco e do uso da aquarela com contornos em tinta preta. Há cenas inteiras e recortes de situações, com foco no detalhe. A luminosidade é também um atrativo e o branco de fundo, de algum modo, confere leveza ao tema delicado da ausência do pai. Pensando bem, tudo neste livro é tratado com delicadeza, inclusive o silencio do homem da loja! 

Peter Carnavas, o autor do texto e das imagens vive na Austrália. Começou a publicar em 2008 e seu primeiro livro, A caixa de Jéssica (que também está publicado no Brasil pela editora FTD), logo fez sucesso e seu autor logo conquistou prêmios, dentre eles o de “Livro Notável”, do Children’s Books Council of Australia. Seus textos e imagens ganham de imediato o leitor criança, sobretudo por sua simplicidade e sutileza (na imagem e na escrita). A tradução deste livro é da escritora Regina Drummond, acostumada a escrever para crianças e jovens, o que também significa experiência e qualidade.

Mas o leitor brasileiro merece conhecer logo outro importante livro deste autor (“The children who loved books”, publicado em 2012 pela editora australiana New Frontier), que ainda não está publicado no Brasil. Fica a dica para as editoras brasileiras!

Fonte:
http://www.artistasgauchos.com.br/


Celso Sisto é escritor, ilustrador, contador de histórias do grupo Morandubetá (RJ), ator, arte-educador, crítico de literatura infantil e juvenil, especialista em literatura infantil e juvenil, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Doutor em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e responsável pela formação de inúmeros grupos de contadores de histórias espalhados pelo país.
 

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