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Deixa que eu vou dar um jeitinho...[Viviane Mendes]

Deixa que eu vou dar um jeitinho...

por Viviane Mendes 
Artigo publicado no site Obvious 

Uma breve reflexão da figura do malandro representado na personagem Zé Carioca como identidade nacional. 

Quem nunca ouviu falar da expressão "jeitinho brasileiro"? Aquele jeito malandro de lidar com situações, que oscila entre o lícito e o ilícito, que burla a lei para no final dar-se bem?

Inicialmente, o mestiço era visto como um ser híbrido e negativo. Tal conceito foi mudando aos poucos. Na Semana de Arte Moderna de 1922, essa identidade foi absorvida em obras como as pinturas de Tarsila de Amaral e também na Literatura, um deles, Macunaíma de Mário de Andrade. Em 1930, no governo de Vargas, essa teoria foi superada O Brasil vivia sob forte contexto nacionalista e nada mais importante que ressaltar a singularidade da identidade brasileira que foi tão buscada desde sempre.

Obra "O mestiço" (1934) de Cândido Portinari

Alguns elementos como a feijoada e o samba, considerados "coisa de negro", ganharam uma ressignificação e passaram a fazer parte da identidade brasileira. Assim como a descriminalização da capoeira e a criação do Dia da Raça como uma resposta à tolerância racial que nunca existiu na sociedade.


Samba e feijoada: dois elementos que fazem parte da identidade nacional 

Toda essa retrospectiva histórica é uma pequena introdução para ajudar a entender como a figura do malandro passou a ser representado não só ao mestiço como também ao Zé Carioca e ao famoso "jeitinho brasileiro".




Política da boa vizinhança

Em nome da "Política da Boa Vizinhança", empreendida pelos EUA durante a Segunda Guerra Mundial com o objetivo de reforçar os laços com os sul-americanos, a uma equipe dos estúdios da Walt Disney foi enviada para a América Latina com o intuito de captar a cultura de alguns países. Estes, Bolívia, Peru, Chile, Argentina e claro, o Brasil. Visitaram Manaus, Belém, Rio Grande do Sul e encontraram na cidade maravilhosa, características imprescindíveis para a criação de uma personagem representada por um papagaio cordial, animal naturalmente nacional, com o nome tipicamente brasileiro e as cores que consistem em nossa bandeira. Tudo isso somado ao samba, carnaval e claro, a "boa malandragem". 



Filmes "Alô, amigos" (1942) e "Você já foi à Bahia?" (1945), respectivamente. 

Após a criação, o seu primeiro aparecimento deu-se a partir do filme "Alô, amigos" de 1942, no qual o Pato Donald visita o Brasil e o Zé Carioca lhe apresenta a cachaça e o samba e "Você já foi à Bahia?", na produção "Os três cavaleiros" de 1945, com a presença de Aurora Miranda, cujo Donald, no seu aniversário, ganha um livro do Zé Carioca, com um título bastante convidativo: conhecer a Bahia.



Evolução da personagem Zé Carioca 

A personagem durou dois anos. Conhecida como a fase de transição, em 1950, o Zé Carioca torna a aparecer, entretanto em revistas em quadrinhos lançadas pela Editora Abril. Com a escassez de enredo, a personagem ganhou adaptações e características mais abrasileiradas, típicas da representação do malandro como a aversão ao trabalho, a esperteza, o apreço por mulheres, samba, futebol etc. Contrapondo à isso, Zé Carioca ainda mantinha o perfil high society americano no modo de se vestir, a cor dos olhos, no caso azuis, fumando charuto e manejando o guarda-chuva como se fosse bengala. 

Entre 1960 e 1970, o Zé Carioca passava por uma fase de assimilação, no qual elementos culturais e sociais nacionais já estavam intrinsecamente associados representando de uma forma bem estereotipada o "jeitinho brasileiro". Mediante ao que foi exposto, é lançada a pergunta: esses tipos de associações servem para construir, de forma positiva, a imagem do brasileiro ou para denegri-la?

Enfim... Essa representação do malandro está permeada na nossa cultura multiplural e controversa, seja em situações do dia a dia como um "simples" furar de fila até a "contratação" de alguém que tem parentesco com algum político e/ou autoridade. Esse "jeitinho brasileiro" é o que faz brasil, Brasil?

Viviane Mendes

22 anos. Estudante de Jornalismo. No mais, gosta de Literatura, Fotografia e Cinema..

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