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AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (25) [Rubens Jardim

AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (25)


LÚCIA SANTOS (1964) poeta maranhense, cursou teatro e ao lado de atores, músicos e poetas, roteirizou e apresentou vários recitais performáticos, como: Batom Vermelho, Eros&Escrachos,  Ménage à Trois, Papas na Língua e Nu Frontal com Tarja. Participou de algumas coletâneas e publicou Quase Azul Quanto Blue(1992) Batom Vermelho (1998) e Uma Gueixa pra Bashô (2006), livro de haicais com apresentação da poeta Alice Ruiz. 

CILADA 

Me esgueiro em teu pelo
Lagartixa tonta
Dentro em pouco ave

Te enlaço num beijo 
Centopéia louca
Deixando mil rastros

Estrago teu tédio
Profano teu claustro
Descalça, de leve

Fuxico em teu peito
Uma palavra surda
Imitando chave. 

EQUAÇÃO 

Num abraço
O amor nos ata
Arrebata
Embaraça

Num lance
Somos nós
Nó de um mesmo laço 

LINGUAGEM 

De dia
A lição das palavras
Ocas
De noite
A lição das bocas
Que só falam
Línguas 

DOMESTICA 

Coleciono selos
Cultivo pássaros em meu viveiro
Mas os meus zelos
Guardo-os todos
Para um homem de estimação.



SANDRA SANTOS (1964) nascida no Rio Grande do Sul, estreou cedo: com 15 anos publicou o primeiro livro (1º lugar Concurso Literário Centenário SLG, “Crônicas de Minha Cidade” 1979). Desde então, vem espalhando crônicas, contos ou poemas pela web, em antologias, sites ou revistas literárias. Costuma dizer que sua biografia “está na memória de quem esteve comigo”. 

Métrica 

meu verso não tem pé
não é prece nem lamento 

não é tese nem testamento
nem tanca nem haicai
nem copla nem rubai

nem soneto nem barroco
nem balada nem barcarola
nem beira-mar
 
não é satírico nem dramático
não é heróico nem didático 

não é sáfico não é silva
mas é dos santos: 

batológico bestialógico a brasileirar 

O Capote 

o capote testemunhava
falas não gravadas
atas não lidas

o capote vestia
um cabide
que escondia

um prego enferrujado

o capote em luto
setenciava

mudo

e o general
pouco aos poucos
esquecia tudo

o capote e o furo da bala
na lapela da morte


um anjo soletra
meus versos

ao pé, duvido



O melhor poema
Ainda será escrito

Não será de luto
Nem será de amor

Em tinto sangue
Penderá das vinhas

Notas de cabeça
Em pergaminhos nus



CHRISTINA RAMALHO (1964) poeta carioca, artista plástica, professora universitária e ensaísta. Estréia em livro com Musa Carmesim(1998) poemas de sondagem  do universo feminino. Tem participado de antologias (Versos Diversos e Caleidoscópio), congressos e publicado artigos em revistas especializadas. Outro título de sua obra poética: Laço e Nó (2000).



Palco 

A cama vazia me contempla.
De repente,
transfigurado em vida,
um palco de emoções
antigas me enternece.
Espelho de águas passadas
reflete existências partidas
que assim não se sabiam.
Ao contrário, ali viviam
o que um tempo raro oferece
de langoroso idílio.

A cama vazia me contempla...
Insiste em pôr um véu
entre o vazio que nela vejo
e o palco incendiado em desejo
que vai e volta de minhas retinas.

Mais tarde, à noite,
preencherei de cansaço
a cama vazia.
Devorada por suas memórias,
serei pasto de um tempo perdido
e sentirei sobre meu corpo
as remotas ondas
dos lençóis macios
e o calor arcaico
que me faz ter frio. 

Oboé 

Sua mordida
já não tem
a embocadura
das maçãs.
E nem a noite
vela mais
a nudez branca
das manhãs.

O corpo apalpa
as lembranças,
danças extintas,
cicatrizes.
E os lençóis são
ataduras
enclausurando
meretrizes.

Mas, de repente,
o oboé
toca em solene
languidez.
E aquece o quarto
o mormaço
de uma antiga
calidez.

A carne branca
reacende
e revigora
o matiz.
O gozo morto
ressuscita
em pincéis tontos,
mas sutis.

Derrama música
no silêncio,
o instrumento
retocado.
Como em Bilac,
alvorece
– e se renova –

                                                     o pecado. 

CANTO I - CORPO VIAJANTE 

Parto não porque queira
ou porque seja mais sensato
parto porque é outono e eu sou a folha
que lentamente derrama na estrada o seu fim.

Parto não porque possa
nem porque deva
nem porque esqueça
Parto porque é dia e eu sou a luz
da última estrela.

Quem sabe parta porque só assim
possa renascer em mim outro ser.
Quem sabe parta porque ter um fim
é destino certo de toda viagem.

Mas a despedida
a tenho adiada
e calada fico
vendo-me partir.
Morro como o sol no horizonte da lembrança
folha que o vento leva em sua andança
e que nenhuma primavera
traz de volta ao amanhecer.



Aconchego 

Minha língua

me lambe

todos os dias

gata que me banha

de sossego

entre sotaques

e já sem medos

me aninho

nas cores

de seu aconchego


ROSANE CARNEIRO poeta carioca, é redatora, mestre em Literatura Brasileira e integrou diversas antologias.Coordenou encontros poéticos (Ponte de Versos e Poema Expresso) e teve poemas publicados na revista Poesia Sempre. Já publicou Excesso (1999), Prova(2004) e Corpo Estranho (2009).



Plataforma 

Absorva o vão.

Entre a realidade e o que se gosta,

toda e qualquer faixa

se mostra morta.

Não há sentidos nas zonas

subterrâneas.

Ultrapasse.

Esse é o destino.





DO CORPO fazer miséria
altitude para o tombo
vácuo para o limite
fundo para o trote

Do corpo miserê de ideias
perfumes, lâncomes, beauties e batons
ossos vestidos em luxo
apenas para nu ao final dormir

Trapiche o corpo
gosta de vadiagem
ou vadiação
?

Para sumir de si
basta que ele queira
estar contigo e ser outro
vagar indefenso sem juízo

Para ser de ti estranho
nada celeste
puro delito
inteiro presente

mas de todo santo 

Corpo e Catedral 
para Gaudí

corpo catedral
catedral corpo
sonhos erigem
partes no todo
salva a religião
dos que professam
edificar em si
um cosmos
um tudo

abertas naves de abrigo
vontades, histórias e percursos
escolhas
corpo para ser pedra
catedral para ser olho
para ser água, crença
criança ou método
missa rito tiro
ao já composto

corpos catedrais
organismos de valores

ofício em ossos
desejo pelas veias
órgãos do sagrado
em todo o humano 

Vidro 

pedrada tal

que não se restringe

ao frágil encontro

fosse eu de aço

e tudo estaria pronto

mas sou areia sólida

em puro magma

depois daquele gosto

estilhacei

e só quero a pedra, a pedra, a pedra

: meu criminoso


Rubens Jardim, 67 anos, jornalista e poeta. Foi redator chefe Gazeta da Lapa e trabalhou no Diário Popular, Editora Abril e Gazeta Mercantil. Participou de várias antologias e é autor de três livros de poemas: ULTIMATUM (1966), ESPELHO RISCADO (1978)e CANTARES DA PAIXÃO (2008). Promoveu e organizou o ANO JORGE DE LIMA em 1973, em comemoração aos 80 anos do nascimento do poeta, evento que contou com o apoio de Carlos Drummond de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Raduan Nassar e outras figuras importantes da literatura do Brasil. Organizou e publicou JORGE, 8O ANOS - uma espécie de iniciação à parte menos conhecida e divulgada da obra do poeta alagoano. Integrou o movimento CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964, cujo lema era: o lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os lugares... Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília (2008) com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional. Fez também leituras no café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília. E participou da Mini Feira do Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do Sertão, livro-homenagem ao centenário de Guimarães Rosa. Teve poemas publicados na plaquete Fora da Estante, (2012), coleção Poesia Viva, do Centro Cultural São Paulo. Páginas na Internet: Site: Rubens Jardim e Facebook: Rubens Jardim

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