Fases
Segurava seus desejos na mão
como se fosse a própria lua. Ela tentava controlar as suas fases. E oscilava
tanto quanto as marés.
Dona de muitas vozes
entregava-se nos silêncios que fazia. Não sabia dar-se às indiferenças e condenava-se
sempre ao mais profundo dos calabouços todas as vezes que tentava dominar as
suas palavras. Ré confessa, agora deixava os pensamentos saírem pela boca,
fosse o resultado qual fosse.
Se precisasse tecer uma
defesa trabalharia em cima da única coisa pela qual tinha certeza: nunca
causara o mal de propósito. Nunca derramara a última gota consciente. Nunca
desviava um caminho sabendo que o atalho era falso. Isso não.
De uma leveza que lhe era
peculiar, preferia arcar com as dores dos outros – causando muitas em si mesma
– do que correr o risco de ferir quem quer que fosse.
Encolhida em seu canto
contabilizava os destroços que encontrava ao seu lado. Quantos deles foram
resultados de suas ações? Quantos navios naufragados por seus ventos? Estaria
ela dando-se um crédito maior do que o real ou era mesmo de uma natureza
intempestiva, dessas que pode destruir sem perceber?
Em suas muitas fases,
cabiam-lhe mais as pressas e belas violências das cachoeiras, as inconstâncias
e insatisfações das marés, os mistérios noturnos dos rios profundos ou era só
um lago calmo, quase adormecido que sonhava em ser mais?
Segurando as suas vontades
como se fossem as fases da lua, ela esperava cada uma delas passar. Às vezes
engolindo a seco o sabor que nunca experimentara, outras tantas deixando de
lado, acostumando-se ao nada e ao deixar-se-ir-das-horas.
Era lua, era de fases, era
ré e inocente ao mesmo tempo, tentando equilibrar-se em sua existência ora de
sol, ora de lua, mas sobretudo de luz. E pouco interessava se era ouro ou
prata. Brilhava. E contentava-se com isso. Contentava-se com o fato de existir.
Inocente das intenções, mas
testemunha de crimes. Portadora de feridas que lambia inquieta. Insatisfeita
com o que tinha, acomodada com o que não alcançava. Delicadamente áspera, com
tantos espinhos quanto perfume. Desesperadamente esperançosa. Um ser de lua em
busca da compreensão de si e do mundo, que perdia-se nas noites, contendo em
suas mãos seus desejos, que passariam, como todas as fases.
Dy Eiterer -
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de
novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora,
escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa
mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu,
seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do
ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada
morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando
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