NEM TUDO EU TIRO DE LETRA
Dizem
por aí as boas línguas (à boca pequena) que me dou bem ao preparar as minhas tradicionais
sopas de letrinhas.
Seja
no fervor de um poema de versos livres ou metrificados ou no ardor de uma prosa
em forma de crônica ou conto, falam que tais receitas são sempre vagarosamente degustadas
porque vêm com uma bela pitada de "quero mais" e aquele gostinho especial
de "vou repetir". Não sei se isso são apenas ingredientes decorativos
para agradar ao paladar dos meus olhos ou simplesmente uma média para que eu
nunca abandone ou perca o gás diante do fogão incendiário da literatura. Mas,
sim, reconheço: certas coisas, por mais que tente e faça novos experimentos, ainda
não consigo tirar de letra. Por exemplo: fofocagem na mesa do bar sobre alguém que
não está ali para se defender. Amizade antiga desfeita porque um amigo (não tão
amigo assim) passou o pé (e a mão também) no outro. Clientes espertinhos com
"expertise" em dar tombos e abrir rombos. Gente com horário
desregulado (pior que intestino desregulado), que marca e nunca chega na hora
combinada (isso quando chega). Aliás, taí outro assunto que não consigo acertar
os ponteiros comigo mesmo: a falta de consideração dos desleixados temporais de
plantão, que renegam o pontual relógio do respeito por causa do seu jeito
descompromissado de ser. E mais: motorista que avança o sinal vermelho quase que
atropelando o pedestre na faixa de segurança. O descarado fura-fila, que usa o
manjado jeitinho brasileiro para se safar das filas de banco, cinema e restaurante.
O desalmado que engana, desrespeita e maltrata o idoso.
Bem,
pelo menos o fato de não engolir algumas atitudes, de vez em quando, serve para
algo bom, mesmo sendo um desabafo como esse: a minha indignação vira tema para
mais uma crônica. Se tiver uma nova e boa ideia para a minha próxima sopa de
letrinhas, aceito sugestão! Quem sabe, juntos, conseguimos tirar de letra!
27.07.13 - Jornal O Liberal - Americana - SP
Geraldo Trombin,
publicitário, é colunista do blog ContemporArtes e colaborador do
jornal “O Liberal”, de Americana/SP.Lançou em 1981 “Transparecer a
Escuridão”, produção independente de poesias e crônicas, e em 2010 “Só
Concursados - diVersos poemas, crônicas e contos premiados”.
Tem
classificações em inúmeros concursos literários realizados em várias
partes do país e também em Portugal, além de trabalhos publicados em
jornal e diversas antologias.
Um comentário
Grande Gera, sempre um show de criatividade e de grande literatura. :) Abracos do seu amigo, Edweine.
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