Um amor para recordar
(Categoria: Conto)
A primogênita dos
Lacerda e Couto tinha hábitos comedidos. Durante a semana, saía apenas para ir
à escola. Aos domingos ia à igreja e ao cinema. Ainda assim, não escapou aos
olhos dos jovens adolescentes de Carmolândia, no estado de Tocantins. Aos treze
anos, tinha corpo de princesa. Os longos cabelos negros emolduravam-lhe a tez
rosada. Haviam se mudado para a pequena cidade naquele semestre, por causa dos
negócios tocados pelo patriarca da família.
Durante um retiro
espiritual, promovido pelo grupo de jovens da igreja Presbiteriana, Matheus
manifestou interesse em namorá-la.
Porém, sabendo que seus pais não permitiriam o namoro, porque ainda a julgavam
muito jovem para isso, Cláudia gentilmente
descartou a possibilidade.
Quando voltaram do
retiro, por insistência de Matheus, sua tia Hortência aceitou interceder por
ele junto aos pais de Cláudia. A princípio, os mesmos disseram não permitir,
alegando que a filha ainda era uma criança. Depois de muito diálogo, o pai de
Cláudia deixou para que a mãe decidisse o que fazer. Após refletir, dona Sara
decidiu dar sua permissão, desde que ambos prometessem se encontrar para
namorar somente aos finais de semana, para que não se atrapalhassem com os
estudos. Assim foi acordado.
Sempre seguidos
pelo olhar vigilante da mãe, o casal passou a se encontrar todos os finais de
semana. Iam à igreja e ao cinema juntos, mas sempre voltavam para casa cedo,
conforme recomendação de dona Sara.
A família de
Cláudia costumava viajar nos períodos de férias escolares, e o mês de julho
chegara sem que Cláudia sequer percebesse. Ela não quis dizer nada a Matheus,
para não deixá-lo triste. Porém, no dia de viajarem, Matheus havia saído cedo
da cidade para acompanhar seu pai até uma cidade vizinha. Cláudia viajou sem se
despedir dele. Nem um bilhete deixou. Quando retornou da viajem, quase um mês
depois, Matheus estava diferente. Não apareceu mais à casa de Cláudia e, na
igreja, procurava sentar-se bem ao longe dela e de sua família. Assim permaneceram
por um longo tempo. Sem se falarem.
Como era de
costume, o grupo de jovens estava organizando as festividades natalinas, com
muita música e representações teatrais. Para compor uma das peças de teatro,
Cláudia e Matheus foram convidados. A
partir de então, reataram o namoro e tudo voltou a ser como antes. Ambos
fizeram sucesso como atores.
No início do ano
seguinte, o pai de Cláudia avisou à família que havia recebido uma excelente
proposta de negócio, e que se tudo desse certo, após ele retornar de uma
viagem, a família iria se mudaria em breve. Cláudia entristeceu-se com a
notícia, pois a cidade para onde se mudariam pertencia a outro estado.
Dificilmente iria ver Matheus novamente.
Quando retornou de
viagem, durante o café da manhã, o senhor Reinaldo comunicou à família que
havia fechado o negócio, e que a mudança seria em breve. Cláudia deixou a mesa
em prantos. Ninguém conseguiu consolá-la. Por causa disso, não foi à aula.
Preocupado com sua
ausência, após o término nas aulas, Matheus foi à casa de Cláudia para
averiguar o que estava acontecendo. Quando chegou, ficou sabendo sobre a
mudança de sua amada. Muito triste, sequer foi falar com Cláudia. Voltou para
casa e trancou-se no quarto, deixando seus pais preocupados, a ponto de sua mãe
ir à casa de Cláudia tentar descobrir alguma coisa. Quando retornou, bateu
insistentemente na porta do quarto do filho, até que ele a abrisse. Ao vê-lo
com os olhos vermelhos e inchados, sua mãe o abraçou.
__Não é o fim do
mundo, querido. Você poderá ir vê-la durante as férias escolares. Não é tão
longe assim...
__Ah, mãe! Você não
entende. _ disse em voz baixa.
Como a mudança já
estava acertada, o grupo de jovens organizou uma festa de despedida para
Cláudia e sua família. Matheus e Cláudia permaneceram o tempo todo de mãos
dadas, não queriam se desgrudar. Ao terminar a festa, ele a acompanhou até sua
casa. Os pais de Cláudia entraram e pedira para que ela entrasse logo em
seguida. Não ficava bem ficarem namorando do portão tarde da noite.
Matheus a abraçou e
beijou com tanta paixão, que Cláudia sentiu como se fosse o último abraço, o
último beijo.
No dia seguinte, Lá
estava ele com um presente de despedida. Disse que era para que ela jamais se
esquecesse dele. Quando Cláudia foi abrir o pacote, ele pediu para que ela não
o fizesse. Deveria abri-lo somente quando estivesse na casa nova. Cláudia
atendeu seu pedido, apesar da natural curiosidade.
Os pais de Cláudia
permitiram que eles ficassem a sós por alguns instantes, para que se
despedissem. Mais uma vez, Matheus a abraçou com muita paixão, sendo retribuído
à altura.
Foram dias difíceis
para ambos. Não se conformavam com a crueldade do destino. Sentiam-se
injustiçados. Seus pais diziam que o tempo daria jeito de colocar as coisas em
seus devidos lugares.
Quando chegou à
nova casa, Cláudia tratou logo de desembrulhar o presente que lhe foi dado por
Matheus. Não conteve as lágrimas ao ver uma foto dos dois quando se conheceram,
durante o retiro espiritual, quando ainda não namoravam. Ela não se lembrava de
ter tirado a foto ao seu lado. Ficara realmente muito bonita. Ambos estavam
muito felizes naquele dia. Colocou-a sobre a mesinha de cabeceira para olhar
sempre que pudesse.
Começaram a trocar
correspondências. Raros eram os dias em que o carteiro não se fazia presente.
Porém, durante uma semana no mês de junho, o carteiro não veio mais. Cláudia
foi até aos correios para saber se havia algo errado, mas a resposta não lhe
agradou. Simplesmente não havia correspondências para aquele endereço.
Muito triste,
Cláudia começou a imaginar o que poderia estar acontecendo. Quase um mês
depois, o carteiro reapareceu. A carta era da tia de Matheus, mas não era para
ela, e sim para sua mãe. Perguntou à mãe que acabara de ler a carta.
__ Mamãe, pode me
dizer o que está acontecendo?
Com os olhos
marejados, sua mãe abriu-lhe os braços, dizendo:
__Oh, minha filha!
__Não estou
entendendo mamãe. _ O que aconteceu?
__Tome, leia você
mesma...
Com as mãos
trêmulas, Cláudia pegou a carta das mãos de dona Sara. Quando terminou de ler,
soltou um grito dolorido e desmaiou.
À noite, Cláudia,
ainda sob o efeito de medicamentos, encostou-se à grade da janela do hospital.
__Mamãe, preciso
sair desse quarto, respirar um pouco de ar puro, vou até o jardim.
__Quer que eu vá
com você, filha?
__Não, mamãe,
obrigada. Prefiro caminhar sozinha.
Dona Sara olhou sua
filha saindo e, mais uma vez, sentiu vontade de chorar. Pegou a carta que
Cláudia deixara sobre a cama. Novamente a leu: “Querida, Sara. Não sei como irá
contar isso à Cláudia, mas Matheus sofreu um traumatismo craniano durante uma
partida de futebol de salão na escola. Ficou em como durante três dias e não
resistiu. Não fizemos contato porque tínhamos esperança de recuperação, o que
infelizmente não aconteceu. Seu corpo foi sepultado hoje. Sinto muito ser
portadora de uma notícia tão trágica. Cuide bem da Cláudia, apesar de ainda ser
muito jovem, sei o quanto ela o amava. Abraços, Tia Eunice.”
Ao terminar de ler,
olhou pela janela e viu sua filha olhando para o infinito, como se procurasse
uma resposta.
Cláudia permaneceu
no jardim até que a última estrela se apagasse. Depois, como se Matheus ainda
pudesse ouvi-la disse:
__Adeus, meu amor!
_ tenho muitos momentos felizes para recordar.
Sandra Regina Lamego
Poemas de Sandra Regina Lamego
Desilusão amorosa
Já sofri, me condenei
e me entreguei
Promessas vãs, juras de amor... Acreditei.
Agora, amargo a minha angústia, o meu sofrer.
Quantas loucuras,
insanidades, eu pratiquei
Em nome de um falso amor que eu criei...
Tarde demais? Não tem mais jeito? Bem feito!
Fui avisada, fui alertada... Não me importei.
Eras perfeito, o cavalheiro com quem sonhei.
Um doce engano, amor insano. Agora eu sei.
As lindas fotos... Doces lembranças que guardei
Não mais existem, pois da memória já apaguei.
Então, adeus! Não me procures, não me atormentes.
Se não me amas, se não me queres
Não vou mais me desfazer em preces
Implorando tuas sobras, tuas migalhas.
Sejas feliz, nos braços de outra qualquer!
Pois já não sonho mais em ser tua mulher.
Cresci, amadureci... Estou muito bem sem ti.
Você é importante
Importa-me saber da
sua vida...
Importa-me sabê-la bem vivida.
Importa-me conhecer os seus sonhos
Importa-me torná-los realidade...
Importa-me...
Tudo em você é
importante!
Desejo-lhe o bem a todo instante.
Se você está feliz, importa-me...
Se você está triste, procure-me...
Posso aliviar a sua dor com o meu amor.
Se não quer minha presença
Dar-lhe-ei de presente a minha ausência.
Você é muito
importante.
Desejo-lhe o bem a todo instante.
Um poema a dois
A paz que tu
procuras está comigo.
Não a guardei por puro egoísmo!
Guardei-a por querer cuidar de ti,
E quando a quiseres, estará aqui.
Como sabes... Não
precisas bater.
Espero-te antes do entardecer...
Vamos esquecer a mágoa, a dor.
Faremos juntos um poema de amor.
Fazes a primeira
estrofe - sozinho...
Enquanto isso, abrirei um bom vinho.
Música suave. Não acordemos o vizinho.
As demais estrofes, faremos ambos.
Não deixaremos nada para depois.
A PAZ, agora, reinará entre nós dois.
Sandra Regina Lamego
Todos
os direitos autorais são reservados a autora.
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