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Á
frente da casa a confraternização, nos jardins, a suave música de uma harpa
acentuava a sensibilidade da época natalina. Nada faltava no cardápio, a mesa
decorada com frutas e flores, uma beleza.
Uma
mulher caminhava por entre os convidados observando cada rosto, com discrição.
Repassava, na mente, uma festa familiar em outra versão. Faltavam elementos
essenciais a sua vivencia. Os olhos marejados expressavam o que a boca não
conseguia dizer. Continuou por entre os convidados, desta feita de cabeça
baixa.
Abria-se
a página de um livro, de cores fortes, por demais realista. Poderia rever
outras páginas passadas e pesadas, carregadas de lembranças, de ausências, de
saudades.
E eis
que chega a culminância da festa, todos se aproximam da mesa com pratos para se
servirem, menos ela. Afastada, retraia-se mais, queria ter o poder da
invisibilidade. Queria safar-se dali, era figura de uma outra história. Quando
alguém lhe entregou um prato, as lágrimas já eram visíveis.
Tentou
se aproximar da mesa, as conversas soavam nos seus ouvidos. O bacalhau com
grão-de-bico, pernil, arroz, frutas cristalizadas, o peru, a farofa.
Uma
cena repetida, porém os convidados não tinham os mesmos rostos que costumava
ver. Lembrou o momento em que fatiava o peru, retirava a farofa do papo e
servia as suas crianças. Era um alvoroço, gostavam mais da farofa do que da
carne.
Não
pode controlar os soluços. Afastou-se para um recanto do jardim, mal enxergava
as pessoas. Estavam inundadas por um mar de lágrimas. Naquele momento lhe
chegaram Glória e Leny, falaram doces palavras, inesquecível apoio. Foram
esteios naquele momento de dor.
Ela
não teve condições de servir-se. Naquela hora caia uma ficha muito pesada no
jogo da sua vida. A página estava sendo virada, com dificuldade, para uma nova
etapa. Cabia a ela decidir os motivos das páginas seguintes. Transformar os
Natais futuros ou a cada ano derramar-se em lágrimas. Nada seria do jeito que
já foi.
Luciene Freitas - Prêmio
Vânia Souto Carvalho de Ficção, pela Academia Pernambucana de Letras, em 2009.
É pernambucana e tem publicados os seguintes livros: Explosão (poesias); A
Dança da Vida (parábolas e contos); Mil Flores (poesias). Encenado no Teatro do
SESC em 2004; O Sorriso e o Olhar (parábolas, contos e crônicas); Meu Caminho,
textos para reflexão; Uma Guerreira no Tempo, (pesquisa). O resgate de uma
época – 1903-1950; a vida e a obra da escritora Martha de Hollanda, primeira
eleitora pernambucana. Premiado pela Academia Pernambucana de Letras, em
janeiro de 2005; Viagem dos Saltimbancos Escritores pelos Recantos do Nordeste,
(cordel); Mergulho Profundo, 264 pensamentos filosóficos; Brincando Só e
Brincando de Faz de Conta, Vol. I e II da série No Ritmo da Rima; O Espelho do
Tempo, romance de pura emoção; Sob a Ótica das Meninas, 42 contos de um tempo
determinado.
Tem
trabalhos publicados em jornais e revistas do Brasil, Portugal e Argentina.
Participações em várias antologias. Conta com alguns prêmios literários. Pertence
ao quadro de sócios da União Brasileira de Escritores (UBE– PE); União
Brasileira de Trovadores (UBT– PE); Instituto Histórico e Geográfico da
Vitória, Vitória – PE; Academia de Letras e Artes do Nordeste (ALANE); Academia
Vitoriense de Letras, Artes e Ciências da Vitória de Santo Antão; Grupo
Literário Celina de Holanda. Membro correspondente da Academia Irajaense de
Letras e Artes (AILA) Irajá / RJ e Academia de Letras de Itapoá / SC.
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