Anúncios paulistanos [Elói Alves]
Um dos lugares de maior concentração de publicidade externa era os grandes corredores viários da cidade, como as Marginais Tietê e Pinheiros e a Avenida Radial Leste. Mas as avenidas menores não ficavam excluídas. Na Rebouças, na Avenida São João, na Rua da Consolação, na Avenida Doutor Arnaldo largos espaços eram ocupados por outdoors, placas, faixas de vários tipos e tamanhos .
Também as faixadas dos prédios eram pintadas com anúncios ou tinham cartazes gigantescos colados em suas laterais, de modo que muito antes de se entrar na cidade já se podia ler na parte alta dos prédios do centro propagandas de roupas, marcas de calcinhas e cuecas, nomes de galerias comercias e a insistente ordem para se tomar coca-cola.
Uma implementação dessa altura gera naturalmente vários descontentamentos. Nem todos que são contrários à lei deixam de ter bons argumentos para criticá-la e, assim, suas razões. O empresário quer anunciar seus produtos, o comprador precisa de ter ciência de tal fato. O empresário para anunciar contrata um agência de publicidade; ambos pagam impostos com essas atividades; precisam ainda de funcionários para levar as tarefas a cabo, gerando emprego para a população; e, por sua vez, o proprietário que cede o espaço para a placa de publicidade ganha também o seu dinheirinho.
Essas razões parecem ser boas e louváveis, mas também há o lado da cidade, de como fica ela em meio a tudo isso? É neste ponto que entra o papel da sociedade e do gestor público. Aí está a questão de ver o que é melhor para a cidade no seu todo. Como fazer a cidade mais limpa, como combater e diminuir a poluição visual e de outras naturezas, como melhorar a qualidade de vida dos que a habitam, que implica em resolver os problemas da cidade. Sem dúvida é uma questão complexa que exige firmeza e compreensão em seu enfrentamento.
Um meio termo são boas alternativas.
A administração pública pode combater a poluição visual por outros meios, menos rigorosos. Poderia recorrer a conscientização das pessoas em geral, do empresário. Poderia ainda oferecer incentivos fiscais aos empresários de boas ações. Por outro lado, o empresário poderia anunciar também por outros meios. Há hoje a mídia eletrônica, a internet, as redes sociais, blogs, microblogs, além de torpedos por meio dos quais se pode atingir novos consumidores, inovar em seus meios de comunicação com seus clientes. Além disso, estão aí à disposição os velhos espaços dos classificados dos jornais, das revistas especializadas, o rádio e a televisão.
A cidade de São Paulo é com efeito um microcosmos, um mundo dentro do mundo onde as coisas fervem e borbulham, onde os interesses são vários e diversos. Para isso está a administração pública, com a tarefa de regulamentar, normatizar e ordenar o espaço público, procurando ajustar-se ao bem da vida comum dos munícipes.
Quando não se contentam em anunciar verbalmente, como faziam os arautos dos reis antigos, usam os inventos de Gutemberg, isto é, o papel e a tinta, que é mais interessante por ser mais moderno, sobretudo quando combinados com outros meios ou técnicas de imprensa ou de publicidade... Mesmo depois dessa nova regulamentação, tenho saboreado vários anúncios jocosos dos quais lembrarei apenas um.
Era de um jornalzinho do centro sem boa diagramação onde se dizia ter perdido certa quantia de dinheiro, que não era muito. Sem maiores provas, dava apenas as ruas por onde havia passado no dia em que o perdera. Tinha ido da baixada do Glicério à praça do Patriarca e andado por outras ruas imediatas. Lamento mesmo que tenha andado tanto e não vejo nada de inverossímil em que se perca dinheiro entre tantos milhares e até milhões de transeuntes que se esbarram e até se atropelam na correria do dia-a-dia no centro. O que me parece mais difícil, para dizer pouco, é alguém conseguir achar algum, e, se o achar, ter o tempo suficiente de abaixar para pegá-lo.
Elói Alves é paulistano, estudou Teologia (FATEMOC – 2003), graduou-se em Letras (FFLCH-USP -2007) e licenciou-se em língua vernácula (FE-USP – 2007). Sua produção literária passeia por diversos gêneros (poesia, teatro, crônica, ensaio crítico e diferentes tipos de narrativas ficcionais). No ano 2000, por ocasião dos 500 anos, ganhou seu primeiro prêmio literário com o poema “Oh, meu Brasil” e em 2011 obteve sua última premiação com a crônica “Olhares e passadas pela cidade”, como vencedor do concurso Valeu professor, promovido pela Prefeitura de São Paulo, sendo um dos autores do Livro “Sob o céu da cidade”. É autor do romance As pílulas do Santo Cristo, publicado pela Editora Linear B, em novembro de 2012. Página na internet :
4 comentários
Como diz o caboco "Quem dera se assim CESSE"" em todas as cidades, não teriamos tanta sujeira e tanta poluição visual. Pessoalmente odeio bagunça, sou extramente organizaa, não presta, não te utilidade jogo fora, meu marido sempre diz que ele precisa ser manter útil senão jogo-o fora também rsrs e é verdade kkkkkkkk. Eu gosto do teu jeito de escrever, como vês as coisas e correlaciona-as, e principalmente como coloca no papel ou no computador. Eu não consigo ler revistas com muitas propagandas ou como muita poluicao visual, perco o interesse. Mas também gosto de figuras, elas quebram um pouco o ritmo da leitura, mas é ncessário saber dosar, agora imagine o que eu sinto quando vejo um monte de anuncios, propagandas, outdoors? realmente é necessário dar um basta, para que possamos enxergar as outras coisas. Parabéns bj
Eloi
Lindo texto. Revisitei através dele, nossa São Paulo querida de anos atrás. Lembro-me bem destes anúncios gigantescos, como os garrafais do extinto Mappim, que víamos de longe, mesmo ele ficando expremido entre milhares de prédios. Gostei de seu modo de ver o anúncio da Coca-Cola e claro, como odiava ver a cara dos políticos com aqueles sorrisos maquiados para disfarçar a calhanice!
Lembrei-me daquelas lojas do Centro, tipo a Calçados Sé e a Americanas que abusavam dos anúncios quilométricos para divulgar suas promoções milimétricas. Lembra do Sebastian, da C&A que estampava as paredes da maioria dos prédios do centro?
De fato sou partidária da limpeza feita através da Lei em 2007. Muitos edifícios antigos voltaram a ter suas frentes mostradas ao público. A maioria estava escurecida pelo mofo de serem cobertos diariamente por cartazes enormes. Muito se tem reformado nestes últimos anos e nossa São Paulo querida agradece o carinho de ter de novo espaço para respirar.
Quanto a nós, temos sim nossos olhos mais calmos, não sendo agredidos pelas constantes apresentação de peças comerciais escancaradas pelos cimos dos edifícios.
Parabéns pelo delicioso texto.
Muitíssimo grato, Jane Uchoa por suas lindas palavras, amiga, sou muito fã também do seu estilo de escrever; vamos ver se um dia tenha uma " lei do Brasil limpo" rs.
Grato Elisabeth, nossa cidade é muito grande, muitos problemas; vamos escrevendo, vc com suas comparações históricas importantes, dando nossas ideias para ver se a coisa melhora; bjos gratos
Postar um comentário