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Papai Noel se Redime [Luciene Freitas]

Papai Noel se Redime

O anjo dourado
esquecido no bordado
da toalha
deixou o Natal
na casa silenciosa.

Lourdes Sarmento
( Canção de Natal ).

Era Natal, o porquinho guardava as moedas que gastaria na festa. Já ganhara os presentes da mãe e da tia, pena que foram duas bolsinhas iguais, exatamente azuis.
Faltava a madrinha, chegaria àquela tarde. Ela nunca esquecera as datas especiais. Chegou com uma história deslumbrante, havia encontrado Papai Noel no meio da multidão, na tarde do Recife.
- As crianças gritavam, e ele numa carruagem distribuía presentes. Quando me viu, chamou.
- D. Quitéria, entregue esse presente a Lucinha.
- Como ele sabia que a senhora me conhecia?
- Ele sabe tudo.
- E a senhora o que fez?
- Fui até ele e peguei o presente.
- Como ele sabia o que eu queria?
- Ele sabe tudo.


Não esperava mais nada daquele velhinho injusto. Foi quando a madrinha justificou as vezes que ele não passou, falou do intenso trabalho...
De olhos atentos adivinhou o que havia na caixa, pelo formato se tratava do seu grande desejo – um boneco que dorme, do de 20 – gritou. Porque existia um de 10, no código das meninas significava o preço.
Isolados das mãos ansiosas das crianças pela película do vidro, ficavam expostos nas vitrines de D. Lourdes e D. César as novidades em brinquedos. A menina ia lá todos os dias.
Tinha esperado o ano inteiro e, um ano inteiro é uma eternidade pra uma menina. Finalmente Papai Noel lembrou dela.
Feliz, foi mostrar aos avós a novidade. Ouviu as recomendações de cuidado e brincou a tarde inteira. Idealizou a festa do batizado, chamar-se-ia Carlitos, tinha visto em algum lugar.
Carlitos fora feito com as pernas tortas, olhos miúdos muito azuis, o corpo de um rosa pálido, com uma barriga protuberante. Um amor de menino.
Enquanto as outras bonecas dormiam de olhos abertos ele obedecia à ordem do sono. Adorou o brinquedo, mas faltava alguma coisa. Teria que esperar o descanso da avó.
Preparou a bacia, o sabão e mergulhou o boneco, foi um glub glub... e Carlitos ficou pesado.
Depois de esvaziá-lo embrulhou na toalha e brincou de acalanto.   

Luciene Freitas
Vitória, 01-11-2005.



Luciene Freitas - Prêmio Vânia Souto Carvalho de Ficção, pela Academia Pernambucana de Letras, em 2009. É pernambucana e tem publicados os seguintes livros: Explosão (poesias); A Dança da Vida (parábolas e contos); Mil Flores (poesias). Encenado no Teatro do SESC em 2004; O Sorriso e o Olhar (parábolas, contos e crônicas); Meu Caminho, textos para reflexão; Uma Guerreira no Tempo, (pesquisa). O resgate de uma época – 1903-1950; a vida e a obra da escritora Martha de Hollanda, primeira eleitora pernambucana. Premiado pela Academia Pernambucana de Letras, em janeiro de 2005; Viagem dos Saltimbancos Escritores pelos Recantos do Nordeste, (cordel); Mergulho Profundo, 264 pensamentos filosóficos; Brincando Só e Brincando de Faz de Conta, Vol. I e II da série No Ritmo da Rima; O Espelho do Tempo, romance de pura emoção; Sob a Ótica das Meninas, 42 contos de um tempo determinado.
Tem trabalhos publicados em jornais e revistas do Brasil, Portugal e Argentina. Participações em várias antologias. Conta com alguns prêmios literários. Pertence ao quadro de sócios da União Brasileira de Escritores (UBE– PE); União Brasileira de Trovadores (UBT– PE); Instituto Histórico e Geográfico da Vitória, Vitória – PE; Academia de Letras e Artes do Nordeste (ALANE); Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciências da Vitória de Santo Antão; Grupo Literário Celina de Holanda. Membro correspondente da Academia Irajaense de Letras e Artes (AILA) Irajá / RJ e Academia de Letras de Itapoá / SC.

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