É
claro que todo mundo tem problemas e que esses problemas lamentavelmente são
pouco significativos para os outros, porém certamente os problemas são
fundamentais para as pessoas que os têm. Assim, quase ninguém tem tempo efetivo
para os problemas dos outros, haja vista que cada um está olhando para dentro
de si mesmo, preocupado com seus próprios problemas. Quer dizer, de uma maneira
geral, as pessoas só se preocupam consigo mesmas e seus respectivos problemas
(umbigos), mas é óbvio que existem alguns seres humanos raríssimos, ilustres e
quase santos que fogem a essa regra, como Madre Teresa de Calcutá, só para dar
um exemplo. Mas, não é desses seres humanos especiais como Madre Teresa que eu
quero falar. Vou me referir aos humanos comuns.
Todos
nós, meros seres humanos comuns, apesar de convivermos sistematicamente com
outras pessoas, na verdade não conhecemos direito esses outros seres humanos
que estão ao nosso lado e na verdade, parece que não queremos mesmo conhecê-los.
Quando muito, nós temos apenas e tão somente uma visão externa e muito pouco
abrangente das demais pessoas a nossa volta, salvo raríssimas exceções, como é
o caso de pessoas mais próximas e importantes que nos surgem pelos mais
diversos motivos e situações, como os pais, os filhos e aqueles amigos mais
chegados.
Quer
dizer, de maneira geral quase todos nós somos bastante desconhecidos de nós
mesmos, pois temos uma visão caolha dos outros com quem convivemos e ao mesmo
tempo somos naturalmente falsos e hipócritas com os problemas dos outros, com
os quais ladinamente fingimos nos preocupar. Não participamos da vida das
outras pessoas, porque estamos muito envolvidos com os nossos problemas e não
nos damos o direito de conhecer o outro plenamente.
Isso
não bom e nem é ruim, esse fato é apenas natural, pois essa é uma
característica muito marcante de nossa espécie. É duro ter que admitir, mas
somos naturalmente uma espécie egoísta e o pior é que essa característica
parece ter sido de significativa importância para a nossa evolução, mas essa é
outra questão que não cabe ser discutida neste momento.
Por
outro lado, já que temos consciência desse fato, não podemos, de maneira
nenhuma, deixar transcender o limite do possível e utilizar o nosso egoísmo
natural como forma de prejudicar outros indivíduos deliberadamente e assim
acabar prejudicando toda a nossa espécie. Somos indivíduos, mas temos que
pensar como espécie, porque do contrário caminharemos muito rapidamente para a
nossa extinção, haja vista que o egoísmo exacerbado de alguns indivíduos pode
comprometer todo o grupo social.
Essa
é realmente uma situação complicada e difícil de entender. Temos que pensar
como indivíduos para sobreviver, o que é fundamental para qualquer indivíduo,
mas, em contra partida, temos que agir de forma que a nossa sobrevivência não
afete a sobrevivência dos demais seres humanos do planeta. Como resolver esse
impasse íntimo?
Os
“grupos sociais fortes” (coesos e melhor identificados) tendem a superar
significativamente essa barreira e as pessoas, nesse caso específico, costumam
se conhecer melhor e assim convivem bem e são mais francas e reais entre si.
Nesses grupos é que encontramos aquilo que se convencionou denominar de
altruísmo, embora dificilmente haja um altruísmo puro nos indivíduos da espécie
humana. Aqui observamos e encontramos os companheiros, os camaradas e mesmo os
grandes amigos da humanidade, mas ainda assim não é muito comum encontrarmos
naturalmente esses “grupos sociais fortes”.
Parar
ilustrar o que estou tentando dizer, tomemos, por exemplo, o ambiente de
trabalho, que é um grupo social onde as pessoas convivem e algumas até se
relacionam muito bem. Nesse tipo de ambiente, seja ele qual for, cada um de
nós, convive diuturnamente com uma infinidade de pessoas, mas não conhecemos,
de fato, quase nenhuma delas. Nós apenas identificamos algumas de suas
características externas e suas peculiaridades mais chamativas, o que eu vou
chamar aqui de “externalidades”. Muitas vezes nós somos obrigados a emitir conceitos
e pareceres sobre essas pessoas que não conhecemos direito e que são nossos
colegas de trabalho.
Exatamente
nesse momento, surge a falsa impressão, a opinião, o palpite e muitas vezes a
mentira, pois estamos falando daquelas pessoas que deveríamos conhecer, mas que
na realidade não sabemos direito quem são. Desta maneira, acabamos por nos
tornar hipócritas, desonestos e levianos. Julgamos as pessoas apenas e tão
somente por “feeling” ou por “ouvir falar”, pois não conhecemos seu interior,
suas vontades, seus pensamentos reais e muitas vezes não conhecemos, nem mesmo,
suas opiniões e as possíveis ações que manifestariam nas mais diversas
situações do cotidiano.
Pois
então, nos mais diversos grupos sociais acontece a mesma coisa que foi citada
acima. As pessoas lamentavelmente julgam as outras a partir de pareceres e de
“externalidades” que ouviram dizer, mas que na realidade não têm como
comprovar. Vivemos num mundo de mentiras, onde é comum os filhos não conhecerem
pais e vice-versa, irmãos não conhecerem irmãos e amigos não conhecerem amigos.
Quer dizer, na verdade, muitas vezes não existe parentesco além da genética e
nem afinidade social real entre essas pessoas, que se suportam ou se aturam e
assim convivem por mera formalidade ou por pura contingência, graças
exclusivamente às suas “externalidades”. Os laços afetivos são fracos e se
originam de aspectos externos e pouco efetivos.
Infelizmente
o mundo moderno está cada vez mais constituído assim, através de conexões
informais, frágeis e quebradiças, que não nos permitem saber efetivamente quem
é o outro com quem convivemos cotidianamente. Não participamos da vida dos
nossos mais afins e por isso mesmo, em dado momento, a relação (conexão) se
rompe e já não temos mais aquele vínculo social. De fato, essa conexão nunca
existiu, porque ela sempre foi superficial e externa.
O
comportamento humano precisa mudar para ser mais íntimo, mas real e menos
externo. Precisamos conhecer realmente as pessoas com as quais convivemos e nos
relacionamos. Precisamos saber efetivamente quem é o outro ao nosso lado.
Estamos em tempo de INTERNET, de mundo virtual e desta maneira a situação ideal
está ficando cada vez mais difícil de ser conseguida, porque estamos nos
afastando sempre mais dos outros humanos e estamos tornando as conexões físicas
progressivamente mais fracas.
Está
na hora de voltarmos a tentar encarar o mundo real, o mundo das pessoas que
existem realmente e sairmos do mundo do faz de contas. A INTERNET é uma
ferramenta útil e fantástica em alguns aspectos, mas ela não é nem pode ser
nada além de uma ferramenta, como muitos têm tentado demonstrar. O mundo
virtual não existe e nem pode existir mesmo, do ponto de vista físico. As
pessoas, estas sim são reais e com elas é que devemos nos preocupar e nos
comprometer.
Penso
que estamos à beira de um abismo e assim as “externalidades” e o nosso egoísmo
natural têm crescido progressivamente por conta do “universo virtual”
estabelecido pelas redes sociais. Essa situação precisa ser freada para manter
a nossa necessidade existencial maior como indivíduos e permitir a continuidade
planetária de nossa espécie. Temos que acabar com a hipocrisia e criar conexões
embasadas em valores afetivos e morais mais fortes entre os humanos do
presente, porque somente assim iremos garantir a humanidade do futuro.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (56) é natural da
cidade do Rio de Janeiro, mas está radicado na parte paulista do Vale do
Paraíba do Sul há mais de 32 anos e embora seja Biólogo (Zoólogo), Ambientalista,
Pesquisador e Professor de Ensino Superior, Médio e Técnico tambémé amante das
letras e escritor, tendo publicado mais de 1000 textos por meios gráficos e
eletrônicos, entre os quais se encontram, além de artigos científicos, artigos
de divulgação científica, artigos de opinião, críticas, ensaios, poesias e
contos.
Ainda
produziu e publicou por meios gráficos e eletrônicos, mais de uma dezena de
livros e colaborou em capítulos de livros de outros autores. É Sócio Fundador e
atual Vice-Presidente da Academia Caçapavense de Letras, ocupando a Cadeira 25,
Sócio Fundador e atual Secretário da Academia de Letras, Ciências e Artes do
Distrito 4.600 de Rotary Internationale Sócio Correspondente da Academia
Lorenense de Letras.
É
membroassociado de inúmeras ONGs ambientalistas, educacionais e culturais e
colaborador de vários jornais e sites da região do Vale do Paraíba. É rotariano
há mais de 21 anos, sendo Sócio Fundador do Rotary Club Caçapava-Jequitibá. Foi
Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.
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