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“A perigosa vida dos passarinhos pequenos”: novo livro de Miriam Leitão [Revista Biografia]

“A perigosa vida dos passarinhos pequenos”: novo livro de Miriam Leitão

“A perigosa vida dos passarinhos pequenos”. Com maravilhosas ilustrações de Rubens Matuck, a obra conta de uma maneira muito sensível como os pássaros de pequeno porte têm sofrido com a falta da floresta – no caso a Mata Atlântica.
Miriam mostra o resultado do trabalho em equipe para conseguir reverter a perda das árvores e passa o recado para as pessoas: devemos ouvir mais os pássaros. Indicada para crianças de 7 a 12 anos, a história é interessante independentemente da idade. “É uma fábula que um adulto pode ler, pois ele verá com outros olhos”, afirma a autora. 
Para quem aprecia a Mata Atlântica, é leitura obrigatória, principalmente por ser baseada em fatos reais, ocorridos na fazenda Brejo Novo, em Minas Gerais.
A história começa com a queda do filhote de coleirinho, que fez seu ninho num local impróprio justamente por causa da falta de árvores na área. Mas logo se juntam à história outras espécies, como o sabiá-laranjeira, o trinca-ferro, a saíra-dourada, o beija-flor, o sebinho e o bem-te-vi, cada um com sua característica especial. Ao fim do livro, há um mini-guia com as espécies mais importantes para a história, com suas belíssimas ilustrações.

A seguir, alguns trechos da entrevista com a autora: 
- Como foi sair do universo adulto e ir para o infantil? 
Miriam Leitão: Foi super natural. Cresci numa casa sem televisão. A minha casa era uma casa de livros e havia uma estante só de livros infantis bem na saída do quarto das meninas – eram em 12 filhos, 6 mulheres e 6 homens. Eu ficava ali o dia inteiro no chão, lendo os livros. Tive uma infância muito voltada para os livros e essa paixão fica impregnada na gente. Os netos me fizeram voltar a isso, voltei a contar histórias para eles. 
Esse livro teve uma participação grande da Mariana, minha neta mais velha. Foi para ela que eu li inteirinho o livro para ver se estava viajando ou se estava sendo capaz de falar com a criança de hoje, que é muito diferente da criança que eu fui. (Também foi a Mariana que deu a sugestão de incluir ilustrações dos passarinhos). 
Outro lado que ajudou foi o fato de ter feito a reserva, ter replantado, ter visto os passarinhos voltarem, fazendo ninho, tendo filhotinhos. A gente começa a se envolver com a vida deles, fui vendo quão intensa é a vida dos pássaros. 
Depois disso, a gente deu outro passo, que foi fazer o monitoramento das aves para ver a saúde da mata na área de reflorestamento que estamos fazendo. Contratamos uma ONG especializada nisso, a Aves Gerais. Um casal de ornitólogos, Lucas e Luciene, vão para dentro da mata e, pelo som, fazem inventário de aves. Dependendo da espécie sabemos se aquela mata tem fruto o ano inteiro para os pássaros. A gente descobriu lá espécies raras, espécies em extinção e detectou 156 espécies de aves dentro da nossa reserva.

- Qual é a área da reserva? 
ML: Tem 18 hectares de mata preservada da época que chegamos lá. Depois, a gente pegou outros 18 hectares do lado e refez mais APPs (Áreas de Preservação Permanente) e foi replantando. Ao todo, plantamos 32 mil mudas espécies nativas, e a SOS Mata Atlântica foi parceira desde o começo. Um especialista da Fundação avaliou as áreas que podíamos deixar regenerar naturalmente, pois eram promissoras, e onde deveríamos intervir e fazer plantio, o que é um trabalho duro. Essas 32 mil mudas foram 10 anos de trabalho, porque a gente tem de fazer um pouco a cada ano. Durante 3 anos tem de ficar muito atento porque senão vem a maldita braquiária e mata, sufoca a arvorezinha.
Hoje, ao todo, metade da fazenda praticamente está ou replantada ou protegida como RPPN, e isso na Mata Atlântica é muito difícil. 
- Essa foi uma das inspirações para o livro? 
ML: Isso me inspirou. O livro conta por que refazer a mata. Queria passar para criança, mas não usando palavras do mundo adulto que podem afastar, como “ecológico”. Queria contar com palavras de criança por que precisamos refazer a mata, mostrando um exemplo prático, que é essa escassez de árvores que faz com que os ninhos sejam colocados em locais perigosos. 
Queria mostrar para as crianças também como se mobilizar por uma causa. Há várias mensagens que quero passar, mas principalmente eu quero divertir, da mesma forma que eu fui divertida e encantada pelos livros que li. Queria encantar, não ficar apenas como uma coisa pedagógica. Queria ensinar, mas brincando. 
- Minas Gerais esse ano foi pela quarta vez o Estado campeão do desmatamento. Você é de Minas e sua reserva também fica nesse Estado, como vê isso? 
ML: Eu vivo esse contraste doloroso. Vi matas sumindo enquanto estava plantando a minha. Eu pensava em plantar bastante em certas áreas para fazer corredores, mas de repente a mata desaparece. Porque são pequenas áreas, vários minifúndios, uma área empobrecida, e também porque o crime campeia. O desmatador compra a mata do sujeito e corta tudo. A gente já denunciou ao IEF (Instituto Estadual de Florestas), e nunca aconteceu nada. De vez em quando tem uma batida e depois o cara volta a desmatar, a comprar matas, o sujeito vive disso. Às vezes, paga a multa do Ibama e continua desmatando. Eu planto por convicção e paixão, mas o que eu estou vendo à minha volta é exatamente o que a estatística da SOS Mata Atlântica mostra. Eu sei do que a SOS está falando. 
- Recentemente, foi publicada uma reportagem no jornal Folha de S.Paulo em que pessoas reclamam que são acordadas pelo canto do sabiá-laranjeira (http://goo.gl/v7Qqiz). Ao mesmo tempo, surgiu um movimento no Facebook para defender a espécie (http://migre.me/gbSr9). Acha que falta sensibilidade às pessoas da cidade para a natureza e as aves?
ML: Aquela matéria me chocou até porque o sabiá-laranjeira é o herói do meu livro. Essa matéria é um conflito completo com o meu livro, porque eu estou propondo que a gente ouça os pássaros, o que eles têm a dizer. O sabiá-laranjeira é o símbolo do Brasil. Ele tem capacidade de se adaptar, na mata ou na cidade, e o canto dele pode mudar dependendo da região. Eu acho o sabiá muito fofo e acho que uma avezinha de 25 centímetros não há de ser o problema de São Paulo. Não há de ser esse o problema da cidade. Acho que a gente está precisando de mais sensibilidade, de ouvir, talvez ele até cante mais alto em São Paulo para se sobrepor a tantos barulhos que sim incomodam e causam problemas para os nossos ouvidos e nossa saúde.

- Você mostra no livro que cada pássaro tem um dom, uma característica diferente que acaba ajudando no concerto e para convencer as pessoas a aumentar a mata. Você chegou a ver o tangará dançar?
ML: Eu escrevi sem pretensão de publicar, num dia que estava inspirada, os passarinhos tinham cantado muito naquele fim de semana e amanheceu chovendo. Aí fui para o computador escrever. Depois, fui afinando o texto, e fiz um workshop com o Lucas e a Luciene antes de publicar para não ter nenhum erro técnico.
Fui com eles para a mata, a gente acordava às 5 da manhã, aquele frio danado. Fomos andando e ouvindo aqueles sons. Até que de repente a Luciene nos chamou e mostrou um tangará lindo, com aquela cabeça vermelha. Enfim, eu quis mostrar que num grupo cada um tem a sua função. Um dança como o tangará. Tem aquele que canta mais bonito que todos, que é o trinca-ferro, mas que hoje é muito difícil de ouvir porque foi muito caçado e hoje está em extinção. O canarinho-da-terra hoje a gente encontra aos montes, mas teve um momento no Brasil que ele quase se perdeu também.
- Você também mostra que mesmo entre o grupo das aves há disputas, competição. 
ML: Sim, há conflito, tensão. Os gaviões, tucanos, corujas são importantes para a dispersão das grandes sementes, mas os pássaros pequenos querem distância deles porque são predadores. 
- Realmente ocorreram acidentes dos passarinhos se chocarem nos vidros da casa na fazenda? 
ML: Ocorreu, infelizmente. A gente colocou cortina, abaixa ela logo que amanhece e só sobe à noite. O vidro era para ver curtir a mata, mas a gente se priva um pouco desse cenário exatamente para proteger os pássaros. 
Fonte: 
http://www.institutocarbonobrasil.org.br


A jornalista Miriam Azevedo de Almeida Leitão, ou apenas Miriam Leitão, nasceu em Caratinga, interior de Minas Gerais, em 7 de abril de 1953. Filha de um pastor presbiteriano e de uma professora primária, teve 11 irmãos e estudou no colégio Vale do Rio Doce, fundado por seu pai. Aos 18 anos, mudou-se para Vitória, no Espírito Santo, onde iniciou a carreira no jornalismo, como estagiária da Tribuna de Vitória. Dois meses depois, conseguiu uma vaga num dos principais jornais do estado, O Diário. No início da década de 1970, durante a ditadura militar, participou do movimento estudantil capixaba e chegou a ser presa, aos 19 anos, quando estava grávida do seu primeiro filho. Também foi perseguida e demitida de vários empregos. Começou a trabalhar na área econômica no final dos anos 1970. Foi editora de economia do jornal Gazeta, em Vitória, e, pouco tempo depois, foi para Brasília, onde passou a cobrir o Palácio do Itamaraty para a Gazeta Mercantil. Nessa época, formou-se em jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB). Atuou ainda em diversos órgãos de comunicação, entre eles Jornal do Brasil, Veja, O Estado de S. Paulo, coluna Panorama Econômico de O Globo, Rádio CBN, Globo News e TV Globo. Antes de enveredar pelo jornalismo, foi militante de esquerda, tendo sido presa e torturada. Seu foco profissional é o jornalismo econômico. Também é autora de duas obras Convém Sonhar (2010) e A Saga Brasileira – A longa luta de um povo por sua moeda (2011), pela editora Record. Em 20 de outubro de 2005, tornou-se a primeira jornalista brasileira a receber o prêmio Maria Moors Cabot, oferecido pela Escola de Jornalismo da Universaidade de Columbia, nos Estados Unidos.
Veja também a entrevista da Jornalista Miriam Leitão no Programa Jô Soares
                            (Foto: TV Globo/Programa do Jô)


A PERIGOSA VIDA DOS PASSARINHOS PEQUENOS

Formato: Livro

Autor: LEITAO, MIRIAM

Ilustrador: MATUCK, RUBENS

Idioma: PORTUGUÊS

Editora: ROCCO

Assunto: INFANTO-JUVENIS - LITERATURA INFANTIL

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