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NÃO É FUTEBOL, MAS VOU DE CARRINHO [Geraldo Trombin]

NÃO É FUTEBOL,
MAS VOU DE CARRINHO

Há tempo queria fazer uma incursão nesse campo, mas não conseguia. Tentava-me escalar pra tamanha façanha, porém, na hora agá, só de pensar na trabalheira, preferia mesmo é ficar no banco de reserva. Ao contrário de quando era moleque, época em que adorava peladas e mandar a gorduchinha pro fundo da rede: de bico, cabeça e até de carrinho.

Atualmente, cheguei a bater uma bola com os meus tão afrouxados botões: – O que aconteceu, será que já estou pendurando as chuteiras? Porém, de repente, dou uma grande virada no jogo. E me pego pensando no último carrinho que dei naquele terreno descampado, onde ralei todo o corpo: pernas, braços e, inclusive, o et cetera. Mas, valeu: pelo gol e a vitória do timinho do meu bairro. Ah! Que carrinho inesquecível, totalmente diferente desse que encaro hoje: o do supermercado.
Foi numa dessas investidas consumistas que pensei: – Minha nossa, quantas vezes se enche e se esvazia o carrinho quando se vai às compras! Nunca parou pra pensar nisso? Eu parei!

A gente chega ao local, pega o carrinho, vai por entre as gôndolas enchendo o dito-cujo não sei por quantas horas. Ao findar desse enchimento, antes de quitar a conta, esvazia o bendito na esteira do caixa, depois paga, enche novamente o diacho com as sacolinhas, vai ao estacionamento e esvazia o danado mais uma vez, no porta-malas do carro. Na garagem do prédio, pega o sujeito e enche tudinho de novo, segue pro elevador, entra no apê e descarrega aquela bagaça pela última vez. Resumo da ópera: cada ida ao supermercado me garante três enchidas e três esvaziadas de carrinho. Haja tanta paciência pra uma pessoa só. Mil vezes melhor o do futebol, apesar das raladas e roladas no chão vermelho batido.

Sexta-feira é o dia D: de encher a despensa e esvaziar o bolso. Lá vou eu, outra vez, encarar aquele carrinho. Acho que é por isso que abomino todas elas, ainda mais quando caem bem no dia treze.


06.10.13 - Jornal O Liberal - Americana - SP


Geraldo Trombin é publicitário, colunista dos blogs ContemporArtes e BDE (Bar do Escritor), e colaborador do jornal “O Liberal”, de Americana/SP. Lançou em 1981 “Transparecer a Escuridão”, produção independente de poesias e crônicas, e em 2010 “Só Concursados - diVersos poemas, crônicas e contos premiados”. Tem classificações em inúmeros concursos literários realizados em várias partes do país e também em Portugal, além de trabalhos publicados em jornal e diversas antologias.

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