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MO YAN,ILUSTRE DESCONHECIDO [Raul J.M. Arruda Filho]

MO YAN, ILUSTRE DESCONHECIDO

Aconteceu outra vez. A Real Academia Sueca anunciou o nome de um desconhecido como o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2012. Desta vez, o chinês Mo Yan, 57 anos.

Seguindo a tradição, interesses políticos e econômicos se impuseram. Escritores de qualidade literária comprovada como Philip Roth (Estados Unidos), Amós Oz (Israel) e Ismail Kadaré (Albania) foram preteridos – outra vez.

Com cerca de um sétimo da população mundial, a China está vivendo momentos de abertura política e econômica. Seguindo as influências da globalização, o mundo literário chinês se tornou parte do mercado capitalista. Para o Brasil, por exemplo, a China se tornou uma mina de ouro. O romance A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães (1825−1884), vendeu mais de 500 mil exemplares. Esse sucesso foi impulsionado pela versão televisiva, que foi assistida por milhões de espectadores. Outros empreendimentos similares estão sendo planejados para, na medida do possível, gerar boas divisas comerciais.

Em contrapartida, alguns autores chineses estão sendo publicados no Brasil. Nenhum deles conseguiu despertar alguma atenção significativa. Nem mesmo Gao Xingjian, que foi o primeiro chinês a receber o Premio Nobel (2000). Nomes como Ha Jin, Ting−Xing Ye, Guo Jingming, Su Tong e Jung Chang parecem estar envoltos em um exotismo quase inexpugnável e que poucas vezes foi rompido, como é o caso do romance autobiográfico Balzac e a costureirinha chinesa", escrito por Dai Sijie, que teve uma versão cinematográfica de boa qualidade (dir. Dai Sijie, 2002). Talvez os escritores chineses com melhor aceitação no mercado editorial brasileiro sejam Da Chen (A Montanha e o Rio) e Yu Hua, de quem foram publicadas traduções de Viver, Irmãos e Crônica de um Vendedor de Sangue.

 Nenhum dos livros de Mo Yan (Não fales, em mandarim), pseudônimo de Guan Moye, foi editado no Brasil. No entanto, existem várias traduções em inglês, francês, alemão e espanhol. Alguns desses textos foram adaptados ao cinema, sendo que o mais famoso é Red Sorghum (dir. Zhang Yimou, 1988), ganhador do Urso de Ouro do Festival Internacional de Berlim. Também são baseados em romances de Mo Yan os filmes Happy Times (dir. Zhang Yimou, 2000), derivação de Shifu: You’ll do Anything for a Lauch, e Nuan (dir. Jianqi Huo, 2003), vencedor do Festival de Cinema de Tóquio, baseado em White Dog Swing.

Um dos maiores difusores no Ocidente da obra literária de Mo Yan é Howard Golblatt, professor de chinês na Universidade Notre Dame (Estados Unidos), que traduziu, entre outros, The Republic of Wine: A Novel, Big Breasts and Wide Hips e Life and Death are Wearinning me out.

Por conta dessa notoriedade (completamente ignorada no Brasil), Mo Yan, que escreveu romances, contos e ensaios literários, ganhou o Prêmio Newman para literatura chinesa em 2009 e o prêmio quadrianual Mao Dun, em 2011.

 Segundo a crítica especializada em literatura oriental, Mo Yan, que escreve em chinês tradicional, utilizando papel e pincel, costuma situar suas histórias na China rural, principalmente a região Nordeste. Embora mostre forte conteúdo crítico sobre circunstâncias sociais, utiliza figuras literárias que lembram o Realismo Mágico. Entre os seus autores favoritos estão François Rabelais, William Faulkner, Gabriel Garcia Marquez e Kenzaburo Oe.

Pouco se sabe sobre a vida de Mo Yan, nascido em 1955, na província de Shandong. Serviu o exército, aos 20 anos, como funcionário de segurança e instrutor político e de propaganda. Em 1978, tornou−se professor de literatura na Academia Cultural do Exército. Publicou The Crystal Carrot and Others Stories, seu primeiro livro, em 1986. Concluiu o mestrado em literatura, na Universidade de Beijing, em 1991.

O romance Wa (Rã), publicado recentemente, critica a política estatal de controle de natalidade (um casal, um filho), que resulta em prática freqüente de abortos na China.




Raul J.M. Arruda Filho, 53 anos, Doutor em Teoria da Literatura (UFSC, 2008), publicou três livros de poesia (“Um Abraço pra quem Fica”, “Cigarro Apagado no Fundo da Taça” e “Referências”). Leitor de tempo integral, escritor ocasional, segue a proposta por um dos personagens do John Steinbeck: “Devoro histórias como se fossem uvas”. 
Todos os direitos autorais reservados ao autor.

Um comentário

Roselis Batistar disse...

O COMENTARISTA TEM RAZAO DE PENSAR QUE CAUSAS EXTERNAS à LITERATURA - como a questao do mercado, dos interesses ecônomicos em geral sejam a razao. Agora, dizer que ganhou um ilustre "desconhecido" - isso nao é uma razao! Quem fora do mundo lusofono conhecia José SARAMAGO quando ele ganhou o prêmio Nobel de Literatura? Aqui mesmo na França - pais de lingua latina -, onde ha inumeros portugueses, ha muita gente que nao o conhecia, e que conbtinhyua sem conhecê-lo. Entao..;e isso nao quer dizer que ele nao o merecia! E precisdo ler mais, e ter cuidado com o que se diz. Esse senhor ja leu algum livro de Literatura chinesa? E
u li. Não do ganhador, mas antes de falar, vou lê-lo.
Roselis BATISTAR - Université DE REIMS cHAMPAGNE ARDENNE, França