Marina Mara é brasiliense e nasceu em trinta de março de 1979 e hoje mora no Rio de Janeiro. É jornalista, publicitária, produtora cultural independente, letrista e roteirista. A escritora multimídia idealiza projetos e intervenções urbanas visando a popularização da poesia e a inclusão sociopoética do grande público.
Marina Mara venceu alguns concursos de poesia, conto e redação, dos quais se destacam o Prêmio Criatividade 2005, realizado pelo Governo do Distrito Federal e, em 2006, teve sua redação escolhida entre mais de 37 mil textos de todo o país para compor um livro em homenagem ao centenário do voo do 14 Bis.
Esse concurso foi realizado pelo Ministério da Educação, Ministério da Ciência e Tecnologia e pelo Jornal Folha Dirigida.
Em agosto de 2010, a poeta teve seus poemas traduzidos em espanhol por alunos de Letras da Universidade de Brasília – UnB, por meio do curso de extensão Palavra Viva.
A poeta elabora suas intervenções direcionadas ao público que a assiste – uma miscelânea de humor, poesia, intervenção urbana, videoarte e teatro. Em maio de 2010, Marina Mara lançou seu primeiro livro solo, o Sarau Sanitário.com, que é parte de um projeto homônimo de inclusão social de deficientes visuais e popularização da poesia por banheiros públicos e pelo mundo virtual. O projeto teve repercussão em mídia nacional e em breve será lançado em outros estados do Brasil.
Em outubro de 2010, Marina produziu o Declame para Drummond, intervenção que levou mil poemas enviados de todo o país à Copacabana – RJ, para homenagear os 108 anos de Carlos Drummond de Andrade. Em setembro de 2011, Marina foi convidada a participar do projeto Orchestra of Sample, do Addictive TV, importante duo audiovisual da cena internacional. No dia vinte e quatro de março de 2012, Marina produziu a Parada Poética, reunindo cerca de cinquenta artistas no palco-caminhão do Teatro Mapati para celebrar o Dia Mundial da Poesia. O local escolhido foi a Praça do Índio, na qual – há quinze anos – o Pataxó Gaudino dos Santos foi covardemente queimado enquanto dormia na parada de ônibus, a qual foi envelopada com páginas do livro Sarau Sanitário. Essa intervenção humana deu ao local sua devida leveza, como é alma de índio.
Em junho de 2012, Marina foi convidada a se apresentar em diferentes palcos da Cúpula dos Povos na Rio +20 (Museu da República, Tenda Ágora Ambiental, Museu de Arte Moderna) e também realizou intervenções poéticas Rio a fora, distribuindo cerca de 500 poemas em troca de sorrisos. Em outubro do mesmo ano, Marina realizou a segunda edição do projeto Declame para Drummond, um intercâmbio de poesia autoral em homenagem ao poeta que completaria 110 anos no dia 31 de outubro deste ano. O coletivo, formado – coincidentemente – por 110 poetas de todo o Brasil, distribuíram milhares de poemas em suas cidades para que sejam encontrados “no meio do caminho” de algum ilustre desconhecido.
Poemas de Marina
Poesia Concreta
De bolsa lírica estourada
Precisava parir um poema
Mas o grande dilema
Era como o escreveria
Pois já sentia o primeiro verso
Vindo do mesmo universo
Dos anos setenta da Bahia
Mas tinha um quê libertário
Que lá nos anos noventa
Fez do Rio o cenário
De liberdade e utopia
Mas antes de começar
Acabei me distraindo
Ao ver o Chacal passar
Com o fone e cantarouvindo
“Porque é made, made,
Made, Made in Brazil”
E naquele momento
De olhos e céu anil
Fiz o que você faria
Guardei minha caneta
Já estava ali a poesia.
Vazio no peito
Mama intocada
Por falta de jeito
Se torna saudade
Que ecoa no peito.
Jardins alheios
O ego pisa
Os jardins alheios
Como se fossem
Ervas daninhas
Para alcançar
A sua rosa.
Crônicas
A estreia da estria
Poucos anos atrás ninguém sabia o que era estria, celulite e nem que o eufemismo de ruga era marca de expressão. Isso até a indústria de massa fabricar complexos em relação aos nossos cabelos, nossos seios, nossa cara; para então nos vender algum tipo de reparador para as “imperfeições”.
É mais ou menos assim: a indústria de cosméticos cheia da grana descobriu uma fórmula para amenizar umas tais estrias que até então eram só marquinhas de crescimento. Aí a mídia, combinadinha com a tal indústria, bombardeou as estrias na TV, nas revistas e até mandinga para tirar do seu corpo as coitadinhas já ouvi dizer que tem, como se elas fossem o próprio coisa-ruim. Pronto. Agora várias mulheres, felizes consigo até então, já têm a quem rejeitar. A si mesmas. Sentimento esse que as levou às casas de cosméticos em busca de autoaceitação.
É claro que não sou adepta de sobrancelhas de Frida Khalo e axilas a la Baby Consuelo. É lindo se cuidar, se amar. Minha birra é contra um só padrão imposto a todas as mulheres sendo que cada mulher é única. Cada mulher tem sua beleza. Tem seu encanto genuíno. Estaremos sempre lindas enquanto vestirmos nossa autoestima, afinal, é a moda que deve se adaptar a nosso estilo de vida e não nós ao dela. Caso contrário, faremos parte de um exército de mulheres igualmente infelizes e alheias à própria beleza.
Quem é esse ditador que usa o codinome moda? Imagine só seu carrasco-estilístico lendo o veredito: a ré foi acusada de usar bordô na estação do magenta e por isso a declaro cafona. E tchan! Num passe de mágica você se transforma numa cafona de bordô, carregando um rótulo dado por… quem mesmo? E quanto a verdadeira beleza: também somos lindas levando as crianças ao colégio, amamentando, virando noites sobre apostilas e livros, resolvendo problemas do trabalho enquanto pensamos em como resolver os de casa. E para quem disser o contrário, reúna todo o poder de sua TPM na potência máxima, olhe para a pessoa e diga na fé: eu sou linda (e seja). Quem seria louco de discordar?
Há algumas dicas de como fugir dessa ditadura. A primeira é para quando você estiver comprando roupas, seja na loja, na feira ou no camelô. Fique atenta: se a vendedora chamar uma calça ou uma blusa de Helena, por exemplo, fuja. A imposição é tão explícita que inclusive colocam o nome da mocinha das oito nos modelitos produzidos aos milhares. A segunda e mais importante dica é ter senso crítico. Se cabelos loiros, saias curtas, decotes ou chapéus estão novamente à disposição nas vitrines, use o que combinar com você e não com a mocinha-photoshop-da-vez. E um toque: só se destaca quem é diferente, então seja você, seja única.
É cacheada? Hidrate e assuma seus cachos. Tem uma cicatriz? De cara uma boa história para contar. É branquinha? Use vermelho. Quer mudar a cor, a cara? Mude, tatue, pinte e borde, desde que isso a faça parecer cada vez mais com você mesma.
A força do nosso lado Negro
E se os racistas estiverem certos a respeito dos Negros? E se a influência africana no Brasil for realmente negativa? Para comprovarmos a hipótese de que o racismo tem fundamento, iniciaremos o nosso processo de branqueamento do país por uma, tipicamente afrobrasileira, roda de Samba. Retiraremos de lá o agogô, o batuque, a cuíca. Logo em seguida, retiraremos a ginga, o tempero, as raízes do Samba, o Samba. Até que a roda veja Pixinguinha e Cartola apagando as luzes, fechando suas portas, desaparecendo da memória e da história do Brasil.
Aproveitando o ensejo, vamos desaparecer também com os escritos de Machado de Assis e afundar o navio negreiro com Castro Alves dentro. Vamos pichar as obras de aleijadinho e aleijar Pelé em nossos corações. Vamos sabotar a história de Sabotage e Zumbi a partir de hoje será somente o morto-vivo do videogame – e se for à Bahia, enforque Gilberto Gil. E para mantermos a coerência do discurso, não será permitido o uso de palavras afroimportadas como cafuné, cachaça, moleque, dengo – e pena de morte para quem tomar uma branquinha.
Alguma dessas heranças fará falta ao Brasil ou a você?
A súbita saudade que nos bate só em pensar no mundo sem essa negritude é a parte que nos cabe dessa miscigenação pulsando pela parte de dentro da pele, falando mais alto que qualquer discurso racista. O Negro que nos ensinaram a repudiar sem explicação lógica ainda é aquele criado pelos colonizadores do mundo para desvalorizá-los como mercadoria, baixando seu preço. Esse é o Negro não-assumido dentro de cada um, com o qual ninguém quer se parecer. Assinemos agora a abolição desse Negro, vamos libertá-lo para que ele fuja do imaginário coletivo. Que suma para deixarmos fluir a negritude genuína que corre em nossas veias ou em nossos quadris. Esse Negro é parte da gente e repudiá-lo nem sempre é racismo, às vezes é falta de amor próprio.
O racismo mensura arbitrariamente o valor das pessoas baseado em uma palheta de cores em tons de cinza – quanto mais claro, melhor. E por falar em cores, ouvi de uma criança outro dia: “Tia, é verdade que se a gente ficar em baixo do arco-íris e a chuva cair a gente fica todo pintado de colorido?” E, entusiasmada, emendou: “vamos pintar todo mundo de colorido, Tia?” Topei na hora. Aquela menininha de apenas seis anos, sem perceber e de forma lúdica, acabava de encontrar uma forma de resolver nossas questões raciais, a partir de então não teríamos mais uma cor, teríamos todas.
Vídeos
Poema A vida em Braille, da poeta Marina Mara, declamado pela bela artista (e deficiente visual) Noemi Rocha. A ocasião foi o lançamento do projeto Sarau Sanitário, que levou cartazes com poemas em Braille para instituições de apoio aos cegos no DF, entre outras ações.
GOG declamando e abrindo o verbo no lançamento do projeto de inclusão sociopoética Sarau Sanitário, da poeta Marina Mara em maio de 2010 - Brasília - DF.
A escritora multimídia Marina Mara esteve presente na Rio+20 distribuindo seus poemas para quem desse um sorriso. A artista teve apresentação de suas obras em um dos palcos do evento, também durante a Cúpula dos Povos.
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Um comentário
Feliz por ter conhecido Marina mara... poeta de caneta cheia (ou teclado, rs)
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