João Bosquo [Poetas Brasileiros]
João Bosquo, 56 anos, poeta, jornalista professor, mora e trabalha em Cuiabá, com passagem pelos jornais O Estado de Mato Grosso, A Gazeta (Cuiabá), em 2001 editou o semanário A Notícia (de Cáceres) e desde 2002 trabalha como assessor de imprensa e atualmente como repórter da Secom-MT.
Morou em Curitiba, aonde publicou o livro “Abaixo-Assinado” (1977) em parceria com Luiz Edson Fachin; “Sinais Antigos” (1981), “Outros Poemas” (1984) e “Sonho de Menino é Piraputanga no Anzol” (2006); participa das antologias “Abertura” (1976), “Panorama da Atual Poesia Cuiabana” (1986), “A Nova Poesia de Mato Grosso” (1986) e “Primeira Antologia dos Poetas Livres nas Praça Cuiabanas” (2005); com Abdiel Pinheiro Duarte editou o alternativo NAMARRA (1984/86) e 1988 coordena o projeto POETAS VIVOS, da Casa da Cultura de Cuiabá.
DENTRO DE MIM
Dentro de mim há um poema
Ainda não foi escrito
Não consigo imaginá-lo
Nem as vozes verbais que devem
Concretizar o poema fora de mim
Este poema em mim é belo, singelo,
Flagelo, verde-amarelo, anelo...
Vós, leitor, só sabereis deste poema
Quando ele estiver ao mundo, no papel
Com minha letra e palavras escritas
Por hora, sabeis apenas que ele existe
Fincado em mim, no meu coração
Na minha alma, no meu íntimo ser
No meu jeito de ver e sentir a vida
O poema existe e posso senti-lo
Fecundar, diariamente, quando cochilo...
O bom de se viajar
sem bagagem
é que
durante a viagem
vai se pensando
em tudo, quase tudo,
em até fazer poesia
macia
sobre a paisagem
nem tão estética
cheia de moças
da janela do ônibus
rumo à universidade.
VIAGEM SEM BAGAGEM II
O bom de se viajar
sem bagagem é que,
durante a viagem,
vai se pensando
em tudo, quase tudo,
que se tem pra pensar
pra dizer pro amor
que partiu sem se despedir
e um dia achou de voltar...
Tudo que tem pra se achar
quando a gente perde,
num minuto,
tudo, quase tudo,
ao fim do dia – daquele dia –
de quase perder a vida
simplesmente pensando
dentro do ônibus
rumo ao centro da cidade.
ETERNAMENTE
Eternamente
É mais que tudo
Mais, inclusive, que o rio perene
E corre dentro de mim
Entre nós
Tudo que sei
Não consigo imaginar
É uma caixa preta
A espera de uma hora
Com coragem em abrir
E viver
Sentimentalmente.
Homens de bem
Mesmo acompanhados
os homens de bem
jamais deveriam
sair de casa para trabalhar.
Eles deveriam ficar
para levar os filhos à escola,
fazer comida,
passar roupa,
limpar a casa e
depois do almoço descansar...
– Ninguém é de ferro
Somente após tud’isso
os homens de bem
poderiam sair de casa
e enfrentar a poderosa máquina
que move continuamente o mundo
sem, no entanto, que possa contestá-la,
arredar um palmo sequer de seu tino.
COISAS DO CORAÇÃO
A poesia saiu
de férias
do meu coração
A poesia saiu
de mãos dadas
com a solidão
A poesia saiu
sem rimas
pra canção
A poesia saiu
e esqueceu
me chamo João.
TEMPO DAS ÁGUAS
Antes de se chegar ao Pantanal
A poesia procura o prumo das águas
E tenta primá-la em palavras
Fluviais, flutuantes frente ao início...
Antes de iniciar a chegar a termo
O tempo das águas se faz presente
Num ritmo freqüente em chuvas
Em pingos gotejantes como dum rio
Que cai do céu para dentro de mim
As gotas são tantas, não posso bebê-las
Enxugar também não posso. Nadar
Como peixe é um querer sem fim
Sem redes, sem iscas, sem medo
De ficar preso em malhas de prosa.
O barco
para me levar
sobre as águas dos rios
até chegar ao coração
do remoto pantanal
O barco a me levar
tem o mesmo destino
o mesmo corpo de proa
remando sempre, sempre
Venho buscar o barco
embarcar meus sonhos
levar meus bosquejos
pelas veredas ao luar...
Barco e corpo se confundem
Eu mesmo me confundo
e volto a me procurar rio acima
até o final dos trilhos.
Caminhar sem pés
Caminhar por sobre as águas
Como uma canoa aprendiz
De conhecer as veredas mansas
E rasas de todos os rios
Caminhar sem pés
Com o pensamento fito
No galgar sereno
Da elevação sem traumas
Sem traumas, porém, o corpo não sai
Do porto, e somente parte no fim
No fim do entardecer
A partida, sempre, precisa
Ser mais cedo
Antes do amanhecer
Canoa não tem asas, não voa
Calma navega sem pressa
Até chegar ao grande mar azul
Oceano pantanal de todos nós.
Por onde andará Saramago agora?
Em que céu, em quais dos infernos
que pergunta interroga a mente
frente ao novo universo que descortina?
Será que Saramago se assunta com a luz
se alegra, ou treme de frio no escuro?
Será que pergunta sobre a pobre armadura
que ao pó retornou?, ou da alma a atadura?
Quem é Saramago agora, além dos livros?
Será que já encontrou os seus aliados,
amigos, parentes antigos e distantes?
Será que soletra e já fala a nova língua
bem mais moderna e constante?
Ou será que recusa reconhecer o presente?
Todos os direitos autorais reservados ao autor
Um comentário
Parabéns Poeta.
que suas palvras possam atingir diversas pessoas.Despertando nelas oque háde bom. Abraços Luciana Saldanha
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