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Cairo Pereira [Poeta Brasileiro]


Cairo Pereira. Nasci em 1980 na capital de São Paulo. Comecei a escrever poesias com 15 anos por puro desabafo. Depois as coisas se intensificaram e eu comecei a me viciar na arte. Ganhei o terceiro lugar de um concurso de poesia de Ferraz de Vasconcelos; tenho uma poesia publicada no Boletim Salesiano e mais umas 8 publicadas numa Antologia Poética. Eu diria: que amém a vida, mesmo na dor.

 


POESIAS DE CAIRO PEREIRA

Noturno

Escrever n' amplidão da noite escura, fria...
Quando todo o meu siso se perde em agonia
e não cessa jamais de pedir, por favor,
que o Destino lhe traga o mais cândido amor;
quando os pássaros findam o cantar diurno
e a coruja revoa com olhar soturno;
quando o álcool domina lucidez a mente
que agoniza no bar com compungir silente
dos dementes e sôfregos; e quando oscila
todo absorto entre o bem e o mal: penso em imprimi-la,
ó tristeza perene! Que se refugia
em meu peito com cética e hostil covardia.
Penso, crente, que a boa esperança trará
para mim o cantar do belo sabiá.
Porem tudo que surge a mim à escuridão
é uma tão melancólica - aff! - inspiração!

E, comigo, então, tenho diálogo louco
onde tu me aparece como há pouco
(ou será que fui eu que perdi a noção
do tempo, onde, afastados, sofri, ó paixão?).
Sorrindo efusamente e me abraçando, terna:
- Nossa! - Tu me dizias co' euforia interna,
externa... - Que saudade que eu estava, amor!
Dando-me um beijo bom que expressava o fervor,
a paixão feminina que tanto busquei:
- Não faça assim. Eu lhe dizia como um rei
cheio de concumbinas para lhe servir
em todos os momentos entre ir e vir,
prantear, de festins sem motivos (e tantos)
esquecidos, perdidos no tempo, sem quebrantos...
- Os teus beijos gostosos me causam negócio...
Eu me sentia em nuvens, e tendo por ócio
tua meiguice terna que me acalentava
na noite friorenta que tanto geava.
Mas, parece que a dor que angustia e que aflige
o meu peito, conduz a mim e dirige-
-se para o próprio fim; e eu sou a cobaia
arrastada atrozmente co' escárnio e com vaia
ao mostrar a verdade enfática da cena:
eu, sozinho, inventando este tal teorema:

- Eu te amo tanto amor! Chega padeço assaz.
Digo-te em pensamento. - Não vê que a minha paz
é no fúnebre, mórbido, indelével breu
e que o meu pensamento inda é todo teu?
Tu me fitas pesando as tais palavras ditas
e tu pensas... e pensas como que dizendo: - Reflita:
eu já não te amo mais. E nos teus olhos eu vejo o
desafeto, desdém, a falta de desejo
e esta veracidade que muito atormenta
a minha alma que anela a tal paixão sedenta.
Então, cerro as mandíbulas e fecho os punhos
como alguém que cogita em murro, em rascunhos
coléricos no siso maldoso e perverso;
mas tudo que planejo e busco sempre é o inverso:
a escuridão, silêncio, a solidão funesta,
o flagelo inefável igual a uma besta;
porque de ti eu sou um devoto confesso
à escuridão embalsamada em fino gesso...

Que apodreça escondido aquele Las perdices
comprado por eu crer em mil idiotices,
quando à tardinha vinha ainda me mostrando
a vagareza fúnebre de quando em quando
me traria, por fases, gradativamente,
esta dor infinita na alcova silente.

Quando a manhã surgir radiante para o mundo
estarei acordado co' o meu olho fundo,
o olhar cansado, lâguido, todo abatido...
E todos olharão meu coração dorido;
procurarei o canto mais lúgubre e escuro
para que ninguém veja este meu apuro.

Enquanto esta hora baça não passa, linda
(hora de noite e noite que nunca se finda)
não me peças sorrisos e piadas cômicas,
porque eu sou Nagazaki e Hiroshima co' atômicas
pós-guerra. Destruíram meu coração langue
e só o Shinru sabe do meu pranto em sangue,
escorrendo no tálamo meu (de ninguém).
Só queria um abraço terno meu bem.

Passe tempo maldito! Que a cova me espera!...
E lá na escuridão ficarei como agora
dialogando, só, numa infiel quimera
que espera a tua luz, ó formosa senhora
que me deixa confuso entre a dor e a paixão,
entre o amor e a tristeza desta solidão
que leva a minha luz e a alegria empenhora.


Fotografia

O coração alegre aformoseia o rosto. (Livro dos Provérbios)

Como eu pude sentir tanto
o invisível sentimento,
um arcano sobre um manto
de alto descontentamento?

Sobre a pele de anjo lindo,
de teus cabelos dourados,
a tua foto sorrindo
uns risos dissimulados,

a perfeição de mulher
que tem nos olhos a marca
da experiência que o homem quer
e busca numa matriarca.

Eu vi tudo tudo tudo...
Em tua fotografia!
Desde o teu pranto mais mudo
embalsamando a poesia.

Senti tudo tudo tudo...
Uma mágoa tão profunda,
teu amor punge e miúdo
que o teu peito todo inunda,

a quimera que se expele
de teus olhos tão tristonhos
na frescura de uma pele
de mulher que esconde os sonhos.

É que o coração contente
deixa belo o nosso rosto,
enquanto o peito pungente
faz exatamente o oposto.


Silêncio das Almas
Sabe, para mim foi muito difícil ver Caio sofrendo daquele jeito. Amigo não é coisa e nem algo que se pode encontrar de uma hora para outra. É mais fácil encontrar uma pepita no rio do que um amigo em seu próprio bairro.
O Caio é desse tipo de pessoa silenciosa que não revela seus verdadeiros pensamentos. Diria que ele é um sabonete porque sempre escorrega entre os dedos. Naquele dia eu havia ido com ele a um lugar que prefiro não dizer. Íamos conversando no silêncio de nossos pensamentos. Sabe aquele tipo de conversa infinita, aonde não se chega a nenhum lugar e nenhuma conclusão? Este foi o resultado:
Eu o via olhando desconsolado para as concessionárias de automóveis, reparei bem que ele preferia motocicletas. Talvez fosse a vontade de sumir do mapa de vez, ou quem sabe o sonho que muitos jovens têm de sentir a adrenalina do vento batendo no rosto a alta velocidade, com seu amor segurando em sua cintura, encostando os seios firmes pela idade às costas, ouvindo aquele sonzinho de voz soprano desesperado, enquanto curte o momento. Certamente que ele me contou o que olhara e o que imaginara: via-se só numa motocicleta potente em alta-velocidade numa estrada reta, deserto de um lado e deserto do outro, a solidão consumindo seu coração.
Foi quando observei que ele abaixou a cabeça, os cotovelos perto dos joelhos, cada mão tampando um lado do rosto num gesto de proteção, porque ele odeia pedir ajuda para as pessoas e muito menos ficar contando o que sente. Aquilo, para mim, já revelava muito. Eu pude sentir sua dor. Caio estava sôfrego. Quantas coisas ele havia perdido em pouco tempo? Talvez a única coisa de valor financeiro que perdera fora o emprego, mas as coisas de valor sentimental foram muitas.
Engraçado. Na véspera, Caio sorrira como criança, beijara uma moça que o ama, fora acariciado por ela... Em momentos difíceis sempre é bom ter alguém para nos apoiar e aquela moça fizera isso por ele. Mas, vendo-o como via podia sentir o que ele sentia, então, naquele silêncio absoluto dizíamos:
 - Eu não queria estar com ela. Caio me disse.
 - E por que ficou? Perguntei.
 - Naquele momento a minha carência falou tão forte e meu corpo se mexeu sozinho, enquanto meus pensamentos estavam na Menina (é como ele chama seu verdadeiro amor). Eu fechei os olhos e sonhei com ela. Quando acordei vi que era outra pessoa que estava comigo. Doeu, doeu, doeu e ainda está doendo.
 - Mas como você consegue fazer isso?
 - Isso o quê? Ele quis saber, porque não entendeu a pergunta.
 - Ficar com uma pessoa pensando em outra.
 - Não fiquei com uma pessoa qualquer. Fiquei com a Menina.
 Aí eu já não conseguia mais entender nada naquele momento. Contudo, depois de dias pensando no ocorrido tenho lá minhas conclusões. Acredito que a resposta dele para esta pergunta seria: era só um corpo que estava à minha frente, mas o que estava em meu coração era meu amor, então, nem senti o corpo que estava diante de mim.
Quando chegou à sua casa, ele preparou comida para nós: arroz, feijão, bife, ovos com cebola e Coca-Cola. Caio tinha, depois que a Menina, uma grande pessoa, amiga minha também, seu amor, fora embora, um lugar na casa para comer. Era o quarto. Sentava-se na cama de solteiro, onde muitas vezes eles dois fizeram amor na volúpia inflamada da paixão, virado de frente para a parede de cor salmom, colocava o copo no chão, com uma mão segurava o talher e com a outra o prato com comida. Os olhos embasaram instantaneamente, os lábios ficaram trêmulos e as lágrimas caíram fartamente na comida, por causa do desespero que invadia sua alma contrita. Caio pranteava por seu amor, vivenciando momentos felizes que passara junto com ela. Ali seu amor não veria seu pranto e não ficaria preocupada, coisa que ele não queria de jeito nenhum.
Notei que essas cenas tristes se repetiam em certas datas de cada mês. Sempre aqueles dois dias seriam os mais pungentes para ele: dia seis e dia sete de cada mês. Dia seis fora o dia do rompimento com Menina; dia sete fora o dia que eles começaram a construir o que fora derrubado; em um dos dois dias, Caio perdera uma porção de coisas e as lembranças vinham à mente como as ondas contínuas no mar. 
Ver aquela cena de um almoço plangente e solitário me comoveu demais. Aquilo doeu em meu coração como se fosse eu o lázaro. Então, fiquei com ele, chorando no silêncio secreto da solidão de ambos, tentando imaginar como seria o jantar.

Cairo Pereira
Todos os direitos autorais reservados ao autor.

Um comentário

Poesia Sem Limites disse...

Ficou legal o post. Agora que eu estou aprendendo a fuçar rsrs. Gente me ajude. Não sei como se vê os comentários e também não sei como leio os poemas do participantes para poder comentá-los. Aí me perguntam: mas como você conseguiu fazer este comentário? Só este mesmo, não consigo ver os comentários dos outros participantes e nem os que fizeram para mim, se é que fizeram rsrs.

Obrigado