Batom [Rafaella Elika Borges]

Batom

A torneira está pingando, e os pratos, que eu pedi para você lavar, continuam sujos na pia. Eu não quis muita coisa, confesso que fui egoísta, mas você podia ter cumprido sua promessa, as coisas estavam indo tão bem, parece que você fez questão de me levar a cometer isso. Eu te amava, adorava. Quando você vinha com os braços me apertar ou com os lábios me tentar, quando acordava de manhã com o cheiro do cigarro em meus cabelos. Essas coisas me fascinavam, nosso amor estava crescendo, ficando bonito, meu coração estava em conflagração, então você resolveu compartilhar com mais alguém. Já te disse antes querido, fui egoísta, quis você só para mim, não consegui saber que alguém provava do mesmo calor que eu, por isso você está aí, no chão ao invés da cama. Meu copo agora tem digitais, e o cigarro está vermelho, talvez do batom ou do sangue, não sei... Tudo aconteceu tão rápido e agora você nem me responde mais, só está aí deitado, me deixando triste por ter te machucado, me perdoe por não ter tido tempo de amolar a faca, você chegou mais cedo hoje, nada foi como eu imaginei, como sempre você saiu dos conformes. Iríamos conversar, beber alguma coisa, talvez nos atracarmos como sempre fazíamos. Mas tive que agir rápido, você juntou roupas e estava indo embora, iria doer mais ver você sair daquela porta do que ver você deitado aí. Eutanásia. Você sujou meu tapete, desgraçado. Você sujou minha vida e também meu rosto, as lágrimas caíram antes de você chegar e secaram dando lugar aos respingos rubros de um sangue tipo negativo. A casa está uma bagunça agora, e não tem ninguém para me ajudar ou tentar olhar por debaixo do meu vestido, enquanto eu limpo o chão. Você está me ignorando por quê? Eu te amei tanto... amei. Nada disso foi minha culpa, você montou tudo isso com atos de resultado efêmero e um fim trágico para mim. Quem vai sofrer sou eu, por sua culpa. Juro que não fiz nada a não ser te amar. Mesmo você não merecendo. O amor machuca, e às vezes mata. Prometo que não faço novamente.

 Rafaella Elika Borges nasceu em 13 de junho de 1995, na cidade de Cuiabá, em Mato Grosso, cursa atualmente o 3° ano do ensino médio na E.E. Liceu Cuiabano, e tem a pretensão de se formar em arquitetura e design de interiores. Seu interesse por leitura e escrita começou na infância, ao conviver com sua mãe, atualmente formada em Letras - Espanhol na Universidade Federal de Mato Grosso; seu contato com a literatura espanhola, portuguesa e brasileira era intenso, então, sua aptidão na escrita se concretizou aos nove anos. A inspiração vem da irreverência do rapper Eminem, do pensamento forte do falecido rapper Tupac e da liberdade e libertinagem que o Rock and roll tem. Com quatro anos de idade seu pai a presenteou com o primeiro CD de rap, fazendo-a, assim, uma apreciadora e fã da cultura hip-hop até hoje.