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Nei Duclós-Sou escritor com oito livros impressos publicados de poesia, romance, contos e crônicas. Jornalista desde 1970. Meu nono livro impresso, “Partimos de Manhã”, será lançado no segundo semestre de 2012, numa edição do IEL/RS. Brasileiro de Uruguaiana, RS, desde 1948. Expus poemas nas praças em 1969, trabalhei no jornal Folha da Manhã em Porto Alegre e lá publiquei meu primeiro livro de poesia em 1975. Fui para São Paulo, onde desenvolvi longa carreira como jornalista, tendo trabalhado no jornal Folha de S. Paulo, revistas Brasil 21, Senhor, e IstoÉ, sendo colaborador do Estado de S. Paulo, Veja, entre outros veículos, assinando reportagens, artigos, resenhas, crônicas e ensaios. Sou bacharel em História pela Universidade de São Paulo. Atualmente resido em Florianópolis, SC.
Livros publicados:
Poesia: “Outubro”, IEL/RS-Nação, Porto Alegre, 1975; “No Meio da Rua”, L&PM, Porto Alegre, 1979; “No Mar, Veremos”, Editora Globo, São Paulo,2001;
Romance: “Universo Baldio”, W11 Editores/ Francis, São Paulo, 2004;
Contos e Crônicas: “O Refúgio do Príncipe”, Editora Cartaz, Florianópolis, 2006;
Literatura juvenil: “Diogo e Diana” (2007) e “A Trilha da Lua Cheia” (2012), ambos pela Editora Record, em parceria com Tabajara Ruas;
Reportagem: “Laguna Obra e Paisagem“, Editora Expressão, Florianópolis, 2012.
E-books:
“BEIJO ENTRE NUVENS” (e-book em PDF), é uma seleta de crônicas publicadas nos últimos anos em diversos veículos de comunicação, blogs e sites, e nas redes sociais. Dividido em quatro capítulos, aborda poeticamente as Estações do ano, as múltiplas infâncias, o ofício da palavra e o futebol, em cenas antológicas reais e imaginadas.
Trecho de crônica de “BEIJO ENTRE NUVENS” que dá nome ao livro de Nei Duclós
“Notei que essas nuvens nada têm a ver com as chuvas. Você já não experimentou a sensação de levar um banho em pleno dia claro? Ou ficar sob grande massa cinzenta de iminentes tempestades que jamais acontecem? A água se evapora e se condensa e cai na terra seca, mas isso não explica tudo. Existem chuvas misteriosas, geradas não se sabe como. E nuvens com outra carne e com uma diferente missão.
Aos poucos, a muito custo, acumulando quilometragem de rede na varanda, tive uma revelação. As criaturas agem assim e tomam essas formas inverossímeis, que os disfarces não conseguem ocultar, porque procuram fazer bem feito apenas uma coisa.
E essa coisa é o beijo.” (Nei Duclós)
“ARRASO” – POEMAS DE AMOR (e-book em PDF) está dividido em duas partes – Tudo se Costura Num Soneto e A Viajante Obscura – são poesias de amor, feitas principalmente no Facebook, apresentando declaração e mensagens de amor, o jogo da sedução, a conquista, as fantasias de um relacionamento virtual que se torna real através da linguagem poética.
Esta edição foi feita para atender aos pedidos das leitoras de primeira hora e que queriam ter em mãos uma coletânea da quantidade de poesia de amor, acumulada e divulgada por mim em 2011 e 2012. Narrados por diversas personagens, os versos se reportam também a várias encarnações das musas, no que elas têm de contraditórias, apaixonadas, indiferentes ou dominadoras. Toda essa humanidade literária criada pelo Autor foi estimulada pela leitura de centenas de pessoas ao longo da divulgação dos poemas.
“Poesia é amor, sem tirar nem por.”
“JACK O MARUJO”
Um livro todo feito no Twitter (@neiduclos), “Jack o Marujo” cruza os sete mares da Internet, navegando pelo espaço sem fim, sempre mantendo o navio aprumado em tuits de 140 caracteres. Corsário tecnológico, “Jack o Marujo” rola numa birosca do cais quando não está com as sereias em alto mar . Lá se junta a más companhias, os que se refugiam do mundo politicamente correto, onde acaba escutando conselhos perversos para incrementar seu acervo de barbaridades. Às vezes chega a desconfiar daquela conversalhada e leva a mão à adaga. Mas o papo regado a rum falsificado em Bertioga inspira Jack numa série de respostas a todos os tipos de visitantes. A seguir, uma seleta das coisas que ele tem dito nessa fase mais barra pesada.
*Sou turismólogo, disse o corrupto.
“Achei que isso só desse em rabo de girafa”, disse Jack o Marujo
*Não quero mais viver! disse o suicida amarrando uma pedra no pescoço.
“Há melhores maneiras de impressionar uma sereia”, disse Jack o Marujo
*Sou promíscuo, confessou o grumete, dividido entre o orgulho e a vergonha.
“Como assim?” perguntou Jack o Marujo.”Te apaixonaste por um cardume?”
*Por que sereia não gosta do sol? perguntou o grumete.
“Porque tem medo de amanhecer sendo colocada na brasa”, disse Jack o Marujo
*O que o Sr. acha da corrupção? perguntou o comunicador.
Deixar o dinheiro público na mão dessa canalha é abandono de incapaz, disse Jack o Marujo
OUTUBRO
E-book, edição fac-simile do livro OUTUBRO, publicado em 1975, um cult que não tinha ainda uma segunda edição. Abaixo, SALVAÇÃO, uma das poesias do livro mais reproduzidas em blogs e redes sociais por toda a Internet.
SALVAÇÃO
Nei Duclós
Estar a salvo
Não é se salvar
Como um navegador
Que vai até onde dá
Você tem que ser livre
Para o que pintar
Nenhuma pessoa é lugar de repouso
Juntos chegaremos lá
(Do livro Outubro)
Envie email ao autor neiduclos@gmail.com para receber os dados de como fazer o depósito e receba seu exemplar na hora
Poemas:
VERANICO
maio se despede com o tempo em brasa
último aceno do verão, tardia praia
prenúncio do frio temido pela alma
(exílio juvenil de sombrias memórias)
nuvens rondam gargalhando sombras
o sol é mormaço feito de pó
maio amortece as marcas do coração
pálida trégua de uma perdida guerra
MARTE
Levantou
porque não havia mais espaço
Suspirou
porque a manhã não abre
Caminhou
em direção a Marte
Porque no quarto
a vida já secou
TRÉGUA
Quem fala em amor numa noite dessas
quando o tempo morre no horizonte
Quem fala em amor que te apedreje
porque a pedra afagou antes da mágoa
Qualquer amor serve de alimento
qualquer frase de amor, qualquer fermento
faz crescer o pão inaugurando a trégua
AVESSO
Agora que a face do sol sem
brilho acorda a face oculta
de deus virado pelo avesso
um soneto faz o inverso do
insepulto
caminho, dando troco em moeda
morta em coração de vime
PÁSSARO
É breve o pássaro
que ofusca a treva
Obscura flor
da ante-manhã
que resiste ao sol
cobrindo negra névoa
Por um instante o vôo
pousa o turvo manto
um relâmpago faz
o corpo estremecer
mas vence o véu da viúva
e tudo tarda
Por isso o pássaro
esconde o canto
assustado com a
mudez do sono
Crônicas:
CHORO DE PEDRAS
Sigo os russos do século 19, a era do esplendor da literatura e das artes, tão vilipendiada pelo século 20, irmão mais novo e cheio de inveja. Na seleta que tenho comentado aqui, lançado pela Martins Editora em 1964, seleciono mais duas obras primas. Uma delas é de Tchirikov, “Fausto”, sobre o casal pequeno burguês que vive vida vegetativa , ele bancário viciado em jogo de cartas que odeia sua casa, ela a esposa ressentida e frustrada que lamenta a perda da juventude e da beleza. Mas ao quebrarem a rotina e irem ao teatro ver a peça de Charles Gounod sobre o homem que vendeu sua alma, eles recuperam o viço e resgatam a emoção de viver. Descobrem que são invejados pelos amigos e se flagram mais próximos do que nunca.
O teatro que reaproxima o casal por meio do drama e da música é um dos fundamentos da civilização. Não se pode viver sem ele. Há décadas que não vou a um, mas houve uma época em que eu viajava sem dinheiro e de carona só para assistir as grandes peças de São Paulo e Rio. Foi assim que vi Cemitério de Automóveis, Gracias Señor, O casamento do pequeno Burguês, Mockinpott (que deu prêmio de revelação da APCA para nosso Miguel Ramos), entre outras preciosidades. Manter um teatro permanente, como tínhamos no século 19 em Uruguaiana, o Carlos Gomes, que trazia espetáculos de Buenos Aires, Montevidéu e das capitais brasileiras e européias, é um luxo que hoje não dispomos. Por que?
O outro conto também tem a ver com Uruguaiana, pois fala de via férrea. Assistir à derrocada da estrada de ferro no país continental, ao contrário de outros países que transformaram o trem no mais moderno meio de transporte do mundo, é de uma tristeza só. Nossa cidade tinha o perfil definido pelos trilhos. Era nosso contato com o mundo, viajamos para terras importantes vendo pela janela o esplendor do pampa. Foi pela via férrea que conheci Porto Alegre e todas as outras cidades do caminho. Destruíram tudo por burrice e traição à pátria. Mas eu falava do conto O Sinal, de Garshin, autor que morreu cedo demais, com 33 anos.
Ele conta a história de um camponês que foi pra a guerra e lá exercia atividade subalterna de servir samovar para os oficiais. Pegou reumatismo nos rigores da campanha e não podia mais lavrar a terra. Saiu pela estrada de ferro afora atrás de emprego e encontrou um veterano a quem servia no front, que lhe deu o emprego de guarda-trilhos. Uma cabana onde poderia plantar e viver com a mulher e enfrentar o inverno e pronto, lá estava ele feliz e orgulhoso com sua lanterna e suas ferramentas. Quis fazer amizade com vizinho, que era muito revoltado e acabou cometendo um crime: arrancou um trilho na iminência da chegada de um trem cheio de famílias pobres.
Nosso herói foi para o meio da estrada e como não tinha jeito de avisar a tempo, cortou profundamente o braço e embebeu um pano de seu sangue e o colocou na ponta de um mastro como bandeira. O maquinista viu e freou. Como saiu muito sangue, ele desmaiou no meio da sua ação, mas a bandeira foi assumida pelo próprio criminoso. “Amarrem-me. Eu arranquei um trilho”, disse o culpado.
Grande literatura. Faz chorar as pedras.
Crônica publicada no jornal Momento de Uruguaiana
AINDA É CEDO
Ainda é cedo, amor, para retribuir teu beijo, porque devo esperar a hora certa. Um sinal será dado pelo navio que cruza o rio e fica em frente a nós como um aviso de que tudo poderá acontecer de novo, nossa cama coberta de sonho, a janela aberta para os pássaros. Não devemos pensar em mais nada, a não ser nos desvencilhar desse laço a que nos condenamos e nos impede de viver o que foi dito acima: o Tempo domesticado pelo sentimento ainda vivo, o sopro divino de uma tardia esperança. Sim, palavras bonitas que te lanço porque me resta a sedução do verbo, já que perdi a chance quando estive perto e agora distante inauguro a vontade de rever o que perdemos.
Dizem que nada disso vale e é preciso aquilo que sabemos e já foi experimentado em vão pelas carruagens de sempre. Elas passam, amor, enquanto nós ficamos na beira da rodovia em pânico, esse país quebrado em mil pedaços . Não é mais hora de queixas, pois anulamos a capacidade de ver melhor quando tínhamos na frente a verdade que não ousávamos pronunciar. Ficou tarde para levantarmos do campo, aberto em mil crisântemos. Mas como o sol esboça chegar e tudo fica quieto como na véspera da criação, posso esperar o melhor da vida nova que nos toma o coração que considerávamos morto.
Libero a palavra de seus encargos, visto-a com roupa de domingo para me recuperar do estrago. Tinhas um vestido que despetalei escondido naquela dobra de vento. E eu calçava botas de pano, que não faziam ruído quando inaugurávamos jardins colhendo a esmo flores que em pouco tempo morreriam. Inventamos essa doce compulsão de canteiros enquanto o mato tomava conta dos gerânios. Perdi a noção do que falo, pois apenas exerço a hipnose que te prende como o olhar do bicho de tocaia no pântano. A mágica ainda funciona? Me diga, amor, antes que eu suma outra vez no trem desse destino.
Na estação te vi ainda intacta com teu rosto vermelho de paixão pelo que cultivamos. E nos despedimos, como dois absurdos contratempos. Foi o trem bater no trilho da colina seguinte para eu saber que estava tudo perdido, apesar da promessa e teu bilhete, que guardo ainda. Arranjei até um cofre onde revisito quando chove e imagino que o tempo bom é uma idéia que pertence ao deserto que nos impuseram. Mas um cheiro teu cruza o infinito dessa distância insuportável e levanto para ver a manhã ainda no esboço de um clarão da iminente primavera. Sim, eu falava do inverno, meu amor, e de como ficamos enrijecidos e tontos e como nos recolhemos achando que iríamos sobreviver se nos encolhêssemos até além do limite da insânia.
Mas a chuva parou e as árvores se colocam em guarda como num dia de batalha que mede os adversários com o olhar de escândalo. Há mudez nos ninhos e rútilos girassóis estão prontos para lançar seu amarelo ouro sobre o verniz do dia ainda no esboço. Falo sempre da mesma coisa, amor, e direi sempre, toda a vida e mais a próxima encarnação, se isso existir de fato. Quero a mulher que me enche de mel como um oásis numa paisagem de metais e fogo.
Quero teu amor, e isso é tudo.
Crônica publicada no jornal Momento de Uruguaiana.
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Um comentário
Como admirador da obra do poeta, achei muito pertinente e, até mesmo prático a reunião nessa página, dos clipes de sua poesia musicada.
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