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20 clássicos da literatura erótica [Giovana Tavares]



20 clássicos da literatura erótica
Por: Giovana Tavares

No século III, o Kama Sutra já representava uma revolução no gênero. Além dele, conheça os outros livros que abriram caminho para discutir o sexo sem hipocrisia nem pudores

Engana-se quem acredita que a febre dos livros eróticos e a discussão de tabus como sadomasoquismo e sexualidade feminina aconteceram apenas nos últimos anos, com a publicação do best-seller “50 tons de cinza”, de E. L. James. A polêmica se faz presente desde tempos antigos, quando a censura era implacável e muitas obras precisavam ser publicadas anonimamente, para preservar seus autores.

No século XIX, por exemplo, as gráficas pornográficas explodiram em Londres – o que as tornavam alvos fáceis da polícia e de organizações como a Sociedade para a Supressão do Vício, que apreendiam e destruíam as publicações. E, se nas últimas décadas a censura parece ser coisa do passado, há livros que permaneceram na lista negra até recentemente. É o caso de "Fanny Hill", de John Cleeland: publicado em 1748, o livro só voltou às prateleiras das livrarias norte-americanas em 1966. Entenda os motivos que tornaram estas obras tão polêmicas na galeria e no texto abaixo. 

Decameron, um dos mais antigos clássicos da literatura erótica, apresenta as relações humanas do jeito mais carnal possível – L&PM. Foto: Divulgação



Decameron
(Giovanni Boccaccio, 1350, L&PM Editores)

Tendo como cenário uma Itália devastada pela peste negra, Boccaccio, um dos maiores representantes do Renascimento Cultural, retratou o amor e as relações humanas do ponto de vista mais carnal possível. Nas cem histórias que compõem o clássico, o autor aborda temas como infidelidade, sexo e luxúria totalmente despidos da aura divina que até então pautava a Idade Média.


Fanny Hill ou Memórias de uma Mulher de Prazer
(1748 – John Cleeland, L&PM Editores)

Um dos primeiros romances modernos da literatura erótica, “Fanny Hill” conta a história de uma jovem que resolve tentar a vida em Londres e se torna uma requisitada cortesã. Ao longo da obra, o autor narra as aventuras sexuais da protagonista com detalhes explícitos, o que desagradou à patrulha religiosa da época. Após o lançamento, em 1748, John Cleeland e os editores e impressores de Fanny Hill foram presos, acusados de obscenidade. Nos EUA, o livro ficou banido das livrarias até 1966.


120 Dias de Sodoma
(1785 – Marquês de Sade, Iluminuras)

Os dois extremos são verdadeiros: há quem se encante pela literatura de Sade, como quem o considere absolutamente repulsivo por trazer à tona tabus ainda pouco discutidos na sociedade, como o sadismo – termo inspirado no sobrenome do autor. Em “120 Dias de Sodoma”, Sade narra a história de quatro homens que decidem experimentar orgias sexuais trancafiados em um castelo. Violência e humor negro permeiam a obra, escrita enquanto o autor estava preso na Bastilha.


A História do Olho
(1928 – Georges Bataille, Cosac Naify)

Tudo gira em torno do desejo – e toda e qualquer ação acaba desencadeando essa sensação nos protagonistas de “A História do Olho”, Simone e o narrador anônimo, ambos adolescentes. O livro conta com detalhes as experiências sexuais desenfreadas pelas quais eles passam, envolvendo orgias, sadomasoquismo, voyeurismo e a obsessão pelo prazer anal. Os primeiros volumes foram publicados clandestinamente sob o pseudônimo de Lord Auch, o que livrou Bataille de uma boa temporada na prisão.


A Casa dos Budas Ditosos
(1999 – João Ubaldo Ribeiro, Objetiva)

Clássico erótico nacional, o livro de João Ubaldo Ribeiro integra a coleção “Plenos Pecados”, da Editora Objetiva, e representa a luxúria. Nele, uma mulher de 68 anos relata suas experiênciais sexuais ao longo da vida, com detalhes explícitos e uma linguagem divertida. Segundo o autor, todo o material que inspirou a obra é verídico: João Ubaldo Ribeiro recebeu em sua casa um pacote com fitas dessa mulher desconhecida e fascinante, revelando sua autobiografia sexual.


Delta de Vênus
( 1978 – Anaïs Nin, L&PM Pocket)

Libertação sexual é um dos pilares dessa reunião de contos eróticos produzidos pela escritora francesa Anaïs Nin, que relatou suas próprias experiências em alguns deles. O livro foi encomendado por um cliente anônimo de Nin e traz 15 contos, todos ambientados na Europa da década de 1940, com histórias de mulheres descobrindo a própria sexualidade com desconhecidos, triângulos amorosos e orgias.


Kama Sutra
(séc. III – Vatsyayana, Zahar)

O “Kama Sutra” é um dos maiores clássicos da literatura erótica, que consegue se manter extremamente atual e atraente até os dias de hoje. Ele traz técnicas sexuais indianas e sugestões de posições variadas que almejam alcançar o máximo do prazer, envolvendo os cinco sentidos do corpo: visão, audição, tato, paladar e olfato. Ainda assim, a obra não é apenas um guia sexual e sim um manual sobre o amor e as relações humanas, tratando o sexo como uma experiência superior entre duas pessoas que se amam.


Anti-Justine
(1863 – Restif de la Bretonne, L&PM Pocket)

A obra é uma resposta ao clássico “Justine ou Os Infortúnios da Virtude”, escrito pelo Marquês de Sade, cuja Justine é uma menina pobre que acaba se envolvendo com todos os tipos de violência sexual e outras brutalidades. Em “Anti-Justine”, a temática é outra: os personagens buscam apenas o prazer, sem qualquer inclinação para o sadismo. O incesto também pauta a história: o narrador revela as primeiras experiências sexuais junto às irmãs e a perda da virgindade com a própria mãe. Por ser extremamente polêmico para a época em que foi escrito, em 1798, o livro só foi publicado clandestinamente em 1963.


História de O
(1954 – Anne Desclos)

Sadomasoquismo é um tema recorrente nessa narrativa. “O” é uma mulher independente, que se torna escrava sexual de seu amante e de outros homens, descobrindo o prazer pela submissão e castigos físicos. Na década de 1990, o clássico erótico de Anne Desclos foi adaptado para os quadrinhos por Guido Crepax, mesclando obscenidade e arte em uma obra só.



O Sofá,
(1742– Crébillon Fils, L&PM Pocket)

O narrador desse clássico erótico é nada mais, nada menos que um sofá, animado por um espírito condenado a reencarnar sucessivamente como um objeto. Ele acaba testemunhando todos os tipos de aventuras sexuais e situações consideradas amorais para a época, como infidelidade. O tal narrador-sofá diz que só encontraria a paz eterna quando acomodasse um casal verdadeiramente apaixonado, o que supostamente justifica toda a libertinagem do sexo. Embora o livro tenha sido publicado anônima e clandestinamente, Crébillon Fils foi descoberto e exilado de Paris por alguns meses.


Teresa Filósofa
(séc. XVIII – Autor anônimo, L&PM Pocket)

O romance anônimo conta a história de Teresa, uma jovem que vai descobrindo aos poucos sua própria sexualidade, apesar do conflito entre prazer carnal e religião. Há, inclusive, o relato de uma relação entre Eradice, amiga de Teresa, e um padre – tudo explicitamente detalhado pela narradora do romance.




Flossie, a Vênus de Quinze Anos
(1897 – Swinburne, Hedra)

Esse clássico pornográfico da Era Vitoriana conta a historia de amor e desejo entre o capitão Jack Archer e a jovem Flossie Eversley, de 15 anos. Todos os encontros ardentes do casal são narrados com muito apelo sensorial e visual, o que obrigou que Swinburne publicasse o livro anonimamente para escapar da censura.



A Vênus das Peles,
(1870 – Sacher-Masoch, Hedra)

A obra conta a história de paixão entre Severin e Wanda. Após discutirem se realmente existe a possibilidade de felicidade duradoura em um relacionamento, eles chegam à conclusão de que uma das partes deve ser dominada pela outra. Assim, Severin sugere que Wanda o escravize e o submeta a torturas sexuais. O prazer pela dor e pela humilhação acabou dando origem ao termo “masoquismo”, inspirado no sobrenome do autor desse clássico erótico.


Teleny ou o reverso da medalha
(1893 – Oscar Wilde, Hedra)

O romance foi publicado anonimamente em 1893 e, depois, teve a sua autoria atribuída ao escritor Oscar Wilde. O tema central da obra são os conflitos internos do jovem Camille Des Grieux, que se apaixona por um pianista húngaro. Só depois de 1986 os manuscritos originais, com cenas de sexo explícitas, foram levados a público. A obra erótica é considerada a primeira da língua inglesa a discutir o amor homossexual.


O Novo Epicuro: as Delícias do Sexo
(1865 – Edward Sellon, Hedra)

Nesse romance epistolar, o protagonista Sir Charles comunica-se com suas amantes por cartas picantes que revelam todos os detalhes de suas últimas aventuras eróticas – principalmente aquelas que envolvem meninas virgens. Na primeira edição do livro, cerca de 500 exemplares foram apreendidos e destruídos pela “Sociedade para a Supressão do Vício” inglesa.



Autobiografia de uma Pulga
(1885 – Stanislas de Rhodes, Hedra)

Como em “O Sofá”, este é mais um clássico erótico em que o narrador não é um personagem comum. Tudo é contado sob a ótica minúscula de uma pulga, que consegue testemunhar os atos mais explícitos entre homens e mulheres da era vitoriana. Adultério, homossexualismo e incesto são alguns dos temas abordados no livro, considerados tabus para a época – por isso, “Autobiografia de uma Pulga” também foi publicado anonimamente.



O Amante de Lady Chatterley
(1928 – D. H. Lawrence, Penguin-Companhia)

Palavrões e sexo explícito, a combinação perfeita para um livro ser censurado por mais de 30 anos. Na novela de D. H. Lawrence, um homem da classe trabalhadora e uma mulher da burguesia se apaixonam intensamente, um detalhe que não agradou à elite conservadora da época. Publicado anonimamente em Florença, em 1928, o livro só pode ser impresso no Reino Unido em 1960.



Pornólogos
(1534 – Pietro Arentino, Degustar)

A obra é considerada um clássico da literatura erótica, que influenciou nomes como Marquês de Sade e Molière. “Pornólogos” é o bate-papo entre as prostitutas Nanna e Antônia, que precisam decidir o destino de Pippa, filha de Nanna: freira, prostituta ou dona de casa? Durante o relato, Antonia relata suas aventuras sexuais com todos os detalhes para ajudar na decisão. O grande talento de Arentino é conseguir descrever as cenas eróticas com uma linguagem rica, sem precisar de palavrões.


Minha Vida Secreta
(1880 – Walter Anônimo, Degustar)

Publicado em 1880 na Holanda, o diário desse cavalheiro inglês, conhecido apenas como Walter, revela o clima libertino que guiava a Era Vitoriana e questionava os tabus da sociedade. O autor relata suas experiências sexuais com mais de 1.550 mulheres, sempre com detalhes explícitos.




O Caderno Rosa de Lori Lamby
(1990 – Hilda Hilst, Globo Livros)

Hilda Hilst foi uma das poucas escritoras brasileiras que conseguiu se aventurar pela literatura erótica com maestria, tanto pela prosa ou pela poesia. No formato de um diário, o livro narra as descobertas sexuais de Lori, uma garota de oito anos que vende seu corpo por incentivo dos pais e sente prazer na prostituição. O livro é polêmico por abordar a pedofilia e colocar em cheque a moralidade dos leitores, além de fazer uma crítica ao mercado editorial e sua avidez por best-sellers pornográficos.

Texto publicado originalmente na página: Delas

Revista Biografia

Um comentário

SERGIANA ROSADO disse...

RECOMENDO LER O ROMANCE " PRINCESA DO DESEJO ", DE ANDREW PHILIP COLLINS, SOBRE A TRAJETÓRIA DE UMA JOVEM BRASILEIRA. É UMA LEITURA EXCITANTE.
ENCONTREI ESTE LIVRO NO SCRIBD.