Por enquanto [Tatiana Carlotti]
Mas,
sometimes,
é não.
Não aquele não de cercas elétricas que basta um curto para desligá-lo. Não mesmo. Não murado, de pedra, de lápide. Não de montanha no meio da estrada. Não de quando a vida sussurra – às vezes, berra – não!
Daí, rapaz, é phoda.
Lágrima de impotência rasgando o rosto. Canseira danada de ladeira íngreme no corpo. Arfar estranhando o respirar. Quando a gente entende que são só dois braços, duas pernas, dois olhos, um nariz e uma boca.
Consolo: pensar que a gente fez tudo o que pode.
E girar o corpo segurando bem firme na saia da vida enquanto ela ginga. Fugir da ladeira e entrar em uma rua mais tranquila, sentar num boteco e pedir uma cerveja ou um refrigerante ou uma tônica ou uma água com gás, qualquer coisa dessas bem gelada.
Porque tem de ter bolhas.
Bolhas que estourem na boca feitos fogos de fim de ano demarcando a passagem. Bolhas que subam ligeiras fazendo cosquinha dentro da cabeça, relaxando os músculos rígidos das ideias. Bolhas que nos deixem mais leves.
“Tem coisa mais triste do que perder?”
perguntei ao filósofo de botequim outro dia.
“Ficar preso na perda, boneca”.
Lá fomos nós brindar os fracassos mais uma vez. Quase felizes por sermos humanos, demasiado. Quase convictos de que é mais uma dentre tantas. Quase heróicos por estarmos ali cambaleantes e cheios de bolhas.
Pagamos a conta e dei-lhe um abraço de “caramba, muito, mas muito obrigada” e sem perceber segui em direção ao começo da rua, por onde cheguei. Pois é, já ia retornando à ladeira.
O filósofo de botequim ajoelhou na frente do bar, cigarro na boca, feito um menino. Estava rindo dos meus passos viciados. Fez festa o bandido.
“Parecia Jesus Cristo voltando pro calvário”, gritou de braços abertos.
Apontei na direção da ladeira. “Também não dá pra descer, e agora?”
E o filósofo de botequim me fez seguir em linha reta, adentrando os quarteirões planos deste bairro. Cada árvore bonita.
“Como chama esse lugar?”
“Por enquanto ou Quem sabe?”, você escolhe.
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