e. e. cummings (1894−1962)
Edward Estlin Cummings gostava de assinar seus textos com letras minúsculas: e. e. cummings.
Entre 1911 e 1915 foi aluno de Harvard, especializando−se em literatura grega. Servindo no corpo de ambulâncias do exército estadunidense, foi voluntário na Primeira Guerra Mundial. O livro The Enormous Room, uma espécie particular de memórias do cárcere, publicado em 1922, relata o período em que esteve preso em campo de concentração francês. Depois da guerra, nos anos 20, visitou a Europa várias vezes. Nunca teve emprego fixo.
Foi poeta, dramaturgo, pintor, artista plástico. No entanto, é pouco (re)conhecido pelo público brasileiro, embora sua influência em alguns setores artísticos, principalmente na poesia concreta, seja decisiva para explicar algumas (a)venturas da vanguarda poética.
O poeta Augusto de Campos (junto com os dois outros integrantes do triunvirato concretista: Haroldo de Campos e Décio Pignatari) é provavelmente o grande responsável pela difusão da poesia de e. e. cummings no Brasil. A edição pioneira de Dez Poemas de e. e. cummings, publicada pelo Setor de Documentação do Ministério da Educação, em 1960, teve tiragem limitada. A segunda edição, 20 Poem(a)s, publicada em 1979, pela Noa−Noa (leia−se Cleber Teixeira), também teve pequena tiragem. Somente em 1986, com a edição de 40 Poem(a)s, publicada pela Brasiliense, é que ocorreu uma maior difusão (principalmente entre os jovens). A recente publicação de Poem(a)s, pela Editora da Unicamp, além de ampliar o número dos poemas traduzidos, também acrescentou material iconográfico.
e. e. cummings não é um poeta fácil, embora aborde temas universais (principalmente o amor e as relações sociais). Seus poemas se caracterizam pela distribuição não−convencional de versos e palavras no espaço (geo)gráfico e poético da página. Misturando letras maiúsculas e minúsculas (o que causa uma imagem tipográfica próxima de algumas proposições das artes plásticas), subvertendo a pontuação, desrespeitando as regras de separação silábica, explorando a sintaxe, a prosódia, a gramática e a fonética (de onde extrai sons e signos imperceptíveis ao olhar e ao ouvido educado pelas normas instituídas pela prosódia acadêmica), e. e. cummings é um revolucionário.
Embora seus poemas tenham sido influenciados pelo surrealismo e pelo dadaísmo, e. e. cummings conservou linearidade com a lucidez e a transmissão da mensagem poética. Em nenhum de seus textos há elementos excessivos ou ornamentais.
e. e. cummings publicou mais de 900 poemas, distribuídos em cerca de uma dezena de livros. Mas, foi somente a partir dos anos 50 do século passado é que se tornou uma das vozes mais importantes da poesia ocidental. Entre 1952 e 1953, proferiu uma série de palestras em Harvard: i: six nonlectures.
Vítima de ataque cardíaco, faleceu em 1962. No ano seguinte foi publicada uma coleção de poemas inéditos: 73 Poems.
P.S.: O grande problema das traduções de Augusto de Campos (que são excelentes) é uma preocupação excessiva com o grafismo e nenhuma com os poemas mais líricos. Assim, para o leitor dessas traduções, fica a impressão truncada de que cummings era um poeta formalista – hipótese agradável para justificar o paideuma concretista e absolutamente injusta com a riqueza poética de e. e. cummings.
Raul J.M. Arruda Filho, 53 anos, Doutor em Teoria da Literatura (UFSC, 2008), publicou três livros de poesia (“Um Abraço pra quem Fica”, “Cigarro Apagado no Fundo da Taça” e “Referências”). Leitor de tempo integral, escritor ocasional, segue a proposta por um dos personagens do John Steinbeck: “Devoro histórias como se fossem uvas”.
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