Bonito é lindo!
Mais uma viagem
ecológica. O roteiro, sempre lugares bucólicos, em que o meio ambiente funciona
como nossos pulmões, em que a beleza nos estonteia a sensibilidade, a
imaginação, e nossas almas voejam comboiadas pelo sol e pelo alvoroço dos
pássaros e das cascatas.
Bonito, no Mato
Grosso do Sul, é lindo! Terra abençoada pelos fluidos das lindezas naturais.
Terra em que Deus deve descansar quando se cansa do Paraíso. Lá, Sua criação
mostra-se exuberante, quase intocada, não fosse a ação do tempo, da chuva, dos
ventos, que lhe dá um toque especial. Nada que comprometa, aliás, até burila a
arte divina.
Sou mais
contemplativa nesses passeios. Não me atrevo a mergulhos, flutuações, focagens
noturnas... Minha filha, sim, adora aventuras, o inusitado. O marido, nem
tanto. Mas descer os duzentos e vinte degraus irregulares, de pedras tortas e
toscas, para ver a Gruta do Lago Azul, ah! não resisti à tentação e
aventurei-me; apesar da relutância do meu preparo físico e da minha
claustrofobia. Desci, ufa! E todos os santos me ajudaram. Um espetáculo
inexprimível, aquele azul silencioso, enigmático e profundo, no aconchego de
águas plácidas e transparentes, sob imensos punhais de estalactites esculpidos
pela água na rocha, pendurados e magicamente ameaçadores. A subida, Santo
Deus!, uma briga insana com o coração, para evitar que ele me escapasse pela
boca, narinas e pela própria respiração (cadê os santos...?! Folgados!). Enfim,
venci. Inteira, inteira, não digo; com chances de reabilitação.
A “trilha dos
animais”, uma caminhada instigante, topei, mesmo com a coragem capenga e o
fôlego protestando. A aventura começou com uma sucuri enorme e o vaivém de sua
língua irrequieta, e, literalmente, viperina, à mostra. Jiboia, tamanduá, anta,
capivara, cervo do pantanal, veado, jaguatirica, araras, tucanos, joão de
barro em pleno ofício, todos ali, de sentinela, quem sabe, injuriados com tanta
intromissão humana. Bonito, com seus rios, cachoeiras, lagos... Um
monumento natural, patrimônio da mais rara beleza, tombado pela sensibilidade
de Deus.
Miranda, onde se
inicia o Pantanal, recebeu-nos com um calor esturricante. O jeito, correr para
o rio, seu xará. Belos dourados, pensei, me espreitam, prontos para a fuga,
claro! Explico: eles conhecem minha fama de peixecida. Melhor: “pescadora
tarimbada”. Pudera: em Porto Cercado/MT, um pedacinho do Pantanal norte,
pesquei três magníficos dourados, magníficos na lindeza e na estatura (o leitor
nem ouse insultar-me com sua dúvida! Não se trata de história de pescador!).
Até ganhei fama por lá, só vendo! Naturalmente, os homens, que nada pescaram,
olhavam-me de través, com aquela clássica inveja tão comum à espécie.
Bem, em Miranda,
frustração das maiores: fisgada? Só uma arraia. Furibundei-me. Afinal, meu
status de pescadora ficou à mercê da joça e do deboche dos peixes e dos
despeitados (também, literalmente). Sobrou-me ver jacarés, macacos, ninhos de
tuiuiús (a família se exibia na copa das árvores), garças brancas e cinzas,
biguás... Os peixes...?! Que me aguardem os do Araguaia.
Baiana de Urandi e goianiense por adoção, LÊDA
SELMA (de Alencar) é graduada em Letras Vernáculas e pós-graduada em
Linguística. Poetisa, contista, cronista (escreveu para o Diário da Manhã por
21 anos, aos domingos), integra várias antologias nacionais e internacionais. É
verbete em obras como o Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, de Nelly
Novaes Coelho, São Paulo/SP, e Enciclopédia de Literatura Brasileira, Afrânio
Coutinho/J. Galante de Sousa, São Paulo/SP. Atual vice-presidente da Academia
Goiana de Letras/AGL (ocupa a Cadeira 14), da Associação Nacional de
Escritores/ANE, União Brasileira de Compositores/UBC, União Brasileira de
Escritores/UBE-GO e Associação Goiana de Imprensa/AGI. Publicou 15 livros
(poemas, contos, crônicas). Entre várias premiações, o Troféu Tiokô de poesia,
da UBE/GO, Troféu Goyazes Marieta Telles Machado, de crônicas, da Academia
Goiana de Letras, e o Mérito Cultural, pelo conjunto da obra, da UBE/RJ.
Recebeu os títulos: Cidadã
Goianiense e Cidadã Goiana.
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