Música: Hobby, profissão ou negócio?
Você
pensa música como um hobby, profissão ou negócio?
Partindo
de um aspecto objetivo e prático, a auto-gratificação vem de um hobby, os
salários são provenientes de uma profissão e o lucro vem de um negócio. A
escolha é pessoal, mas é preciso entender e esclarecer os diferentes papéis da
música não só como um fator cultural, como também socioeconômico.
O
amante da música, que a trata como hobby, ainda desconhece elementos e funções
básicas que compõem este “objeto”. Muitas pessoas não sabem identificar o que é
melodia, harmonia e arranjo, como também não sabem diferenciar o papel de um
compositor, intérprete e produtor musical. Muitos acham, por exemplo, que o
cantor norte-americano Frank Sinatra era o autor de todas as músicas que
ficaram famosas em sua voz, na verdade, ele era um interpréte, um dos mais importantes,
é claro. Assim como Elis Regina, que também nunca compôs nenhuma música,
destacou-se como grande intérprete de canções feitas por Milton Nascimento
entre outros compositores.
Inúmeras
vezes me foi questionado: Mas se estuda música? O que se estuda? É possível
viver disso? É o seu trabalho? O que é uma boa música e uma música ruim?
Questões como estas precisam ser respondidas tanto a nível educacional quanto
social.
O
profissional da música (compositor, instrumentista, cantor, DJ’s, regente,
arranjador, musicoterapeuta, musicólogo, etc.) que passou anos numa disciplina
de estudo e dedicação, seja ela formal ou autodidata, também se vê em meio a
questionamentos de como fazer sua música ser ouvida e sua profissão ser
rentável em meio às transformações socioeconômicas dos últimos anos. O artista
encontra–se um tanto abandonado no processo e inseguro em relação às
possibilidades de espaço para apresentação da música, seu produto de trabalho.
Os
empresários da música (como produtores musicais, agentes, consultores), as
gravadoras, distribuidoras e editoras fonográficas faturam com os espetáculos e
concertos musicais, com as vendas de Cd’s e Dvd’s, com o marketing musical, com
os jingles, com as trilhas sonoras, com os musicais de teatro e com as canções veiculadas
na TV e no rádio. Atualmente, se veem frente às novas tecnologias, ao acesso
mais democrático e às facilidades em se gravar e divulgar música. Este setor
também sofre com a reestruturação, gerando incertezas e dúvidas.
Sou
jornalista, cantora e compositora não necessariamente nesta ordem. A primeira
ocupação não gera estranheza, mas as demais, no mínimo, causam surpresa. A
música, além de ser arte e entretenimento, é também hobby, profissão e negócio.
O que me sinto no dever de esclarecer, já que dúvidas e questionamentos
reincidem muitas vezes, é sobre alguns fatores que englobam o mundo musical.
Primeiro, em relação a educação e a profissionalização. Pode-se estudar música
em conservatório ou universidade, lá, como em qualquer outra faculdade, há diversas
disciplinas como composição, arranjo, harmonia, solfejo e matérias práticas
dentro do instrumento de escolha (voz, piano, violão, violino, etc.). Existem
escolas voltadas para a música erudita e outras para a música popular, há
diferenças entre elas, as abordagens estilísticas são distantes, por exemplo,
mas no fundo tudo é música. Há ainda as “escolas da vida”, os músicos que são
autodidatas e que aprendem tocando em bares, teatros ou em casa. No entanto,
não quer dizer que não estudem, que não há dedicação. O treino e repetição está
presente, apenas alguns profissionais não estão veículados a uma instituição
formal de ensino.
O
próprio Tom Jobim, que foi um grande músico e um dos inventores da Bossa Nova,
falava que era o “compositor da borracha”, ficava horas em cima do piano
treinando até chegar em suas famosas canções. Não há caminho fácil, se você
quiser se destacar nessa profissão, o estudo é necessário como em qualquer
outra área. A dedicação está presente para aqueles que querem encontrar “seu
lugar ao sol”. O produtor musical Liminha, certa vez disse “Se o Keith Richards
(guitarrista da banda de rock Rolling Stones) não fosse músico ele teria sido
bandido, porque ser músico é o que ele sabe ser muito bem”. Então, ser
“vagabundo” é uma característica exclusiva de músico ruim (o que entraríamos
numa outra discussão), de médico ruim, de engenheiro ruim, de advogado ruim,
etc.
Segundo,
a relação entre música e negócio (que trata do lucro proveniente da produção,
divulgação e distribuição do produto musical) varia entre a sua ligação com as
demais áreas culturais (como literatura, teatro, cinema) e campos da
comunicação (como rádio, TV, publicidade e internet). Na literatura, a
linguagem do texto transformado em música. Juntando poesia e música temos
exemplos como Vinicius de Moraes, poeta e letrista. A narrativa também inspirou
algumas óperas famosas, Giuseppe Verdi (compositor italiano do período
romântico), por exemplo, leu Shakespeare para escrever algumas de suas obras,
como Otello. No teatro, em espetáculos musicais como a ópera e musicais da
Broadway, a música tem o papel de narrar, comentar e descrever cenas assim como
no cinemas e na TV. A trilha musical, que vai desde a música incidental
(“música de fundo”) até a música-tema, acaba gerando uma necessidade de
produção e valorização da mesma por se tornar um elemento tão fundamental. Na
publicidade, os jingles que facilitam a memorização de uma mensagem ou
conceito, o music branding, marketing musical, que associa uma canção ao
produto. Na internet, as músicas no formato mp3, vendidas em lojas virtuais,
veículadas em rádios virtuais e no canal de vídeos do Youtube. Hoje, muito se
fala da crise na indústria fonográfica, mas ninguém deixou de ouvir música,
pelo contrário, o acesso é ainda mais fácil. O que acontece é uma nova forma de
produzi-la, divulgá-la e consumi-la.
No
aspecto religioso, a música também é algo marcante. A música sacra, desde o
estilo barroco até os dias de hoje, se faz muito presente durante os cultos
religiosos. Na busca de atrair os fiéis para a mensagem que se quer transmitir,
os Cds de padres estão entre os mais vendidos.
A
música como hobby e entretenimento, talvez o segmento que sempre teve grande
destaque seja em rodas de amigos, junto à família ou exposto na mídia como
evento cultural. O hobby e o entretenimento destinam-se ao lazer do indivíduo,
uma atividade sem fins profissionais ou lucrativos. O “ouvir”e “fazer” música
pela diversão e satisfação. Independente de espetáculos musicais grandes ou
pequenos, a música ganha voz com as performances feitas ao vivo ou registradas
em Cd. As atividades de cantar, tocar, escutar e dançar, portanto, ficam em
primeiro plano.
A
música como produto ou como processo se faz presente em diferentes áreas da
sociedade. Inúmeros agentes das práticas musicais, sejam eles profissionais,
empresários ou somente amantes da música, estão aí pra mosrtar a força da
música e o seu poder de comunicação, sociabilização e união. Resta você fazer a
sua escolha.
Bruna
Repetto é cantora,
compositora e jornalista. Gaúcha de Porto Alegre, Bruna se interessou desde
cedo por música. Aos 5 anos, já passava as tardes cantando na casa de uma
vizinha pianista. Aos 18 anos, iniciou seus estudos de canto erudito e fez
parte do coral da OSPA - Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Em 2000, Bruna
viajou para Boston – EUA para estudar jazz na renomada universidade Berklee
College of Music. De volta ao Brasil, terminou a faculdade de jornalismo na
universidade PUCRS e mudou-se para São Paulo. Em 2006, graduou-se em música
pela Faculdade Souza Lima & Berklee e foi convidada para lecionar canto no
Conservatório de Música Souza Lima. Em 2010, depois de oito meses de trabalho
como produtora, compositora e intérprete, lançou seu álbum de estréia chamado
Em Movimento. Além do trabalho autoral, Bruna compõe trilhas sonoras e material
publicitário. Recentemente, a cantora gravou com o violonista e compositor da
Bossa Nova, Roberto Menescal, um álbum lançado no Japão. Como jornalista
cultural, faz colaborações para o Jornal do Brasil e Zero Hora. É idealizadora
do curso Música:hobby, profissão ou negócio? Tudo o que você sempre quis saber
e não tinha a quem perguntar. Em 2011, lança seu primeiro livro pela Edipuc,
chamado Quando a música entra em cena. Atualmente, está em produção do seu
próximo projeto musical. Sites: www.brunarepetto.com/ -
www.facebook.com/pages/Bruna-Repetto/207586755949882?ref=hl
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