E quem diria que hoje o
conceito de “best-seller” estaria tão intrínseco às discussões literárias
acadêmicas. Esses livros que já foram dados apenas como um produto de mercado,
estampando páginas de jornais e revistas como os mais vendidos, hoje assumem uma
característica peculiar: não são apenas uma literatura de compra e venda, porém
fazem parte de um nicho editorial.
É cômico pensarmos que, na
verdade, esse conceito de literatura de mercado e as discussões literárias
acadêmicas só hoje ganharam força devida, uma vez que há mais de 40 anos, por
exemplo, a revista Veja dispõe de uma relação dos livros mais vendidos. Não
apenas a Veja, como outros nomes de revistas e jornais de grande
importância em todos os países. São muitos e não nos cabe enumerar aqui.
Nomes como Carlos Drummond
de Andrade, Fernando Sabino e Luis Fernando Verissimo já entraram nessa lista Veja,
por exemplo, sendo Drummond até responsável por uma propaganda de um
computador, na década de 1980. Eu diria que é bizarro, para os tempos de hoje,
um ícone literário brasileiro fazendo propaganda de tecnologia, tempo em que
ser “best-seller” e estar envolto à indústria cultural não é visto com bons
olhos. Mas não direi que isso é ser bizarro, poderia soar como ofensa. Deixo
apenas como ironia!
Contudo, ainda falamos em
literatura brasileira. Entrando no mercado literário vizinho, temos, nada mais,
nada menos, que outro grande nome da literatura contemporânea nas teias
academicistas e industrias: Gabriel García Marquez. O colombiano nascido nos fins
da década de 1920 também já entrou nessas inúmeras listas de livros mais
vendidos, desde as listagens de seu país, bem como as do Brasil, EUA e de
outros países europeus. Não obstante, mas um tanto paradoxo, ao mesmo tempo em
que estampa/estampava essas listas, o escritor já foi até coroado, entre tantos
prêmios, com o Nobel de Literatura, em 1982. De suas obras mais conhecidas e
premiadas, o destaque que damos para a discussão de mercado é para “Cem anos de
solidão”, por também encabeçar uma das obras mais vendidas no mundo.
O livro de Marquez foi
traduzido para mais de 50 idiomas e se consagrou como “best-seller” no final da
década de 1960 e início da década de 1970. Hoje, ainda mais que ontem, é
garantido como uma literatura de qualidade. Acontece, porém, que os conceitos
hoje se misturam e acabam por perder o sentido quando a proposta de “análise” é
generalista. Muito se critica o que é vendido, mas pouco se analisa esse mesmo
produto. Aconteceu isso com Jorge Amado, no Brasil, e com tantos outros escritores
“queridinhos” pelo público. Logo, partindo desse pressuposto, nos indagamos:
Como, então, Gabriel García Marquez pode ser um postulado como escritor de
literatura e também um “best-seller”, enquanto outros que, talvez possuam
qualidade e singularidade, são apenas escritores de “best-seller”?
Falta, portanto, uma
análise das obras em si e não de autores ou de seu berço. Nem todas as obras
consagradas pelos críticos e teóricos nascem ou nasceram envoltos a Odisseia e
afins. Algumas nascem da manifestação social e cultural das massas, de um
“apelo leitor”. Por essa razão, não questiono o autor ou a obra de García
Marquez, pois esse conseguiu driblar essa generalizada percepção crítica,
todavia, proponho uma reflexão sobre esses conceitos cristalizados de oque seja
literatura: obra academicamente reconhecida ou que tenha um público leitor?
Renato Dering é
escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade
Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras pela
Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na
TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa
acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente
também pesquisa a Literatura e Cultura de massa.
Contato: renatodering@gmail.com
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