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Adolfo não era um “qualquer nota”, todos sabiam.
Acostumado a ter tudo o que queria, na hora e do jeito que desejava, era figura
conhecida na mídia local por causa de seu talento com os negócios e também com
as mulheres. Sim, muitas delas.
Frequentemente visto acompanhado das mais belas do Rio
de Janeiro, impressiona a qualquer homem o fascínio que exercia sobre as
mulheres. Os invejosos falavam que era por causa do poder, mas no fundo sabiam
que se tratava mais do que isso. Adolfo, mesmo perto dos cinquenta, causava frisson pelo seu jeito protetor.
Quanto mais forte a presença feminina, maior o encanto pelo “bon vivant”.
Depois do quinto casamento, decidiu que ficaria
sozinho. Dissera que com os filhos criados e bem encaminhados sua função
familiar tinha chegado ao fim, não devia mais nada à sociedade. Virou um
verdadeiro boêmio.
Resolveu que deveria dar expediente no escritório
somente as tardes. As manhãs eram para descansar e se manter em forma, enquanto
as noites serviriam de palco para suas aventuras.
Tudo ia muito bem até que um daqueles encontros que só
o destino pode armar aconteceu. Enquanto passava pelo bairro de Copacabana,
rumo ao centro da cidade, Adolfo falava ao celular, não percebeu que o semáforo
havia fechado e acabou batendo na traseira do carro de outra pessoa.
Ao descer para ver o tamanho do estrago encontrou uma
moça desacordada, com a cabeça sobre o volante. A batida nem foi tão forte
assim, mas o carro da moça era tão velho que o cinto de segurança não deve ter
funcionado direito. Seu desmaio não demorou muito a passar e antes de qualquer
socorro médico chegar ela começou a recobrar a consciência.
— Moça, você está bem? Sente dor em algum lugar?
— Acho que estou… — fez uma pequena pausa e perguntou —
O que aconteceu?
— Eu bati no seu carro, mas não se preocupe, fique
calma, pagarei todas as despesas. Qual o seu nome? Quer que eu avise a alguém?
— Luciana. — e novamente desmaiou.
Quando acordou já estava sendo medicada no Copa D´or,
um dos hospitais mais luxuosos da capital.
— Que bom que acordou. Aguarde só um instante que vou
chamar seu acompanhante. — disse a enfermeira.
— Acompanhante?
— Xi, pelo visto você não se lembra de nada, não é?
Deve por causa do choque, logo você vê que tudo se encaixa. Vou deixar que ele
te explique tudo. Já volto.
As imagens do que tinha acontecido ainda estavam
distorcidas quando a enfermeira voltou.
—Olha,
moça…Infelizmente seu acompanhante teve que ir embora, mas deixou um
bilhete.
A enfermeira leu o recado que continha um pedido de
desculpas, um aviso de que as despesas estavam pagas e um telefone caso Luciana
precisasse de algo. A paciente quis ligar imediatamente, mas foi convencida a
descansar primeiro.
Na manhã seguinte, enquanto ela ainda aguardava o
médico para lhe dar a alta, chegaram flores e, junto delas, um cartão escrito
com uma letra muito bonita: “Espero que você fique boa logo. Por favor, aceite
meu convite para jantar, na noite em que tiver disponibilidade, como um pedido
de desculpas por todo o transtorno que lhe causei. Adolfo”.
Assim que chegou em casa a curiosidade em saber mais
sobre seu “acompanhante” fez com que Luciana ligasse imediatamente. Combinaram
um jantar naquela mesma noite. Pontualmente, Adolfo chegou para buscá-la,
estacionando o carro na porta do prédio. Assim que ela desceu, enquanto abria a
porta do passageiro disse:
— Imagino que você não se lembra de mim. Eu sou o
Adolfo, muito prazer!
— Prazer. — respondeu Luciana, visivelmente encabulada
mostrava que não estava acostumada com tanta gentileza.
Adolfo estava certo. Luciana realmente não se lembrava
de nada, mas acabou o reconhecendo por causa da sua presença na mídia. Em meio
a novos pedidos de desculpas, durante o caminho para o restaurante teve que
explicar tudo o que ocorrera.
No jantar o papo se aprofundou mais e finalmente todas
as peças do quebra-cabeça se encaixaram. Sobrou tempo para que se conhecessem
melhor.
De origem humilde, Luciana nasceu e cresceu no subúrbio
carioca, todo dia levantava cedo e atravessava a cidade para chegar ao
trabalho. Era recepcionista de uma clínica odontológica. Casou-se muito jovem e
ficou viúva no primeiro ano de casamento, o marido foi vítima de um assalto,
morreu em seus braços.
Nada disso assustou Adolfo, nem mesmo a diferença de
idade entre os dois; Luciana era cerca de vinte anos mais jovem, foi um
empecilho para que tivessem uma noite muito agradável.
Três meses depois estavam namorando. No início ela bem
que tentou resistir aos apelos de Adolfo, mas foi vencida pelos mimos e
gentilezas frequentes. No sexto mês, com a justificativa de que não era mais um
garoto e contrariando o discurso de que não se casaria mais, pediu Luciana em
casamento. Novamente, com certa resistência, o aclamado “sim” deu as caras.
Todos que viam o casal ficavam em dúvida com o futuro
que teriam. Luciana era muito amável, mas não exalava paixão pelo noivo,
enquanto ele parecia ter ganhado o melhor presente de natal que uma criança
poderia ganhar.
Adolfo não economizava para demonstrar o seu afeto;
flores, roupas e joias eram presentes frequentes. Na semana do casamento
resolveu que deveria dar um carro para a noiva.
— Acho que já está na hora de você ter um carro
decente. Uma princesa como você não pode andar naquele calhambeque que você
tem.
Mesmo recebendo muitos presentes, Luciana foi pega
totalmente surpresa e não sabia bem o que dizer. Claro que ficou feliz, mas
também acabou assustada com o empenho que aquele homem demonstrava para
conquistar seu coração.
— Lu, eu esperava uma reação um pouco melhor da sua
parte.
— Não sei o que dizer! Ele é lindo! Muito obrigada!
Ainda assim não era o agradecimento que Adolfo queria,
tinha uma coisa que o incomodava profundamente. Desde que começaram a sair,
Luciana nunca disse que o amava. Chegou a conversar sobre o problema, Luciana
deixava claro que não queria ser pressionada. Ele, com a sabedoria que os anos
lhe garantiram, sabia que era questão de tempo.
Na véspera do casamento resolveu que aquela situação
não poderia mais perdurar e foi taxativo:
— Luciana, vamos nos casar amanhã e preciso saber uma
coisa. Preparei o casamento que você não teve, fiz todos os seus gostos, te dei
tudo o que eu poderia dar. Entendi a sua distância no início, sei que nossa
diferença de idade te preocupa. Contudo, não posso mais esperar para saber.
A noiva já sabia do que se tratava, enquanto Adolfo falava
pensava no que iria dizer.
— Chega de esperar! Preciso saber agora, você me ama? —
questionou, olhando-a nos olhos.
Os segundos seguintes pareceram horas. E finalmente
veio a resposta.
— Eu amo você.
Como diria Dadá Maravilha, o folclórico jogador de
futebol dos anos setenta, o amor é lindo.
Dom de iludir
Música de Caetano Veloso na voz de Gal Costa
Não me venha falar Na malícia de toda mulher Cada um sabe a dor E a delícia De ser o que é…
Não me olhe Como se a polícia Andasse atrás de mim Cale a boca E não cale na boca Notícia ruim…
Você sabe explicar Você sabe Entender tudo bem Você está Você é Você faz Você quer Você tem…
Você diz a verdade A verdade é o seu dom De iludir Como pode querer Que a mulher Vá viver sem mentir…
Marcelo Vitorino-
Trabalho com publicidade desde 1999 e, depois de um tempo, acabei indo
naturalmente para o marketing e desde 2007 passei a integrar o pessoal
do marketing digital.
Como
produtor de conteúdo na internet estreei escrevendo o Pergunte ao Urso,
um projeto que visava entender como funcionava o consumo de conteúdo
pelo público feminino. A ideia deu certo, o blog virou dois livros, teve
presença em rádio, mídia impressa e até na televisão. Chegou a ter um
milhão de acessos mensais.
No
final de 2012 decidi que era a hora de virar a página e encerrar o
projeto. Publiquei todo o meu aprendizado em um documento que está
disponível na internet, portanto, se você quer começar um blog, sugiro
que leia.
Acabei
me viciando em escrever e interagir com o público. Já que não fui forte
o bastante para largar o vício, entendi que o melhor caminho era
começar outro projeto.
Sou
fruto de uma família muito numerosa e como acabei chegando por último
tive uma formação muito diferenciada. Aos 14 anos escutava muita Bossa
Nova e MPB, depois passei a escutar Samba, Blues, Jazz e Soul. Fui
escutar Rock e outros gêneros musicais bem mais velho.
O fato é que sempre gostei de música. Para mim, todo grande momento da vida tem uma trilha sonora.
Como
referências literárias tenho dois modelos: Nelson Rodrigues e Luís
Fernando Veríssimo. O primeiro pela ambientação perfeita que há nos seus
textos, o segundo pelo diálogo e reflexões de seus personagens.
Por que ainda produzimos literatura? Cassio Pantaleoni Dia desses, um jornalista amigo meu me perguntou sobre o sentido ...
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