Os 100 livros essenciais da literatura mundial
Saiba o que é importante ler, de Homero a Machado de
Assis, para entender a história da literatura.
Texto Almir de Freitas
Jorge Luis Borges imaginou certa vez uma biblioteca que
contivesse todos os livros do mundo - não apenas os existentes, mas também
todos os possíveis. Mais: um único volume desse acervo fantástico ofereceria a
chave de compreensão de todos os outros, permitindo que decifrássemos, afinal,
o que somos. O texto, A Biblioteca de Babel, foi publicado no Brasil no livro
Ficções, uma das 100 obras presentes na lista de 100 livros essenciais da
literatura mundial. Esta lista, naturalmente, é mais modesta que o volume
imaginado pelo escritor argentino, mas não deixa de ser ambiciosa na sua
abrangência.
Para fazer a seleção, nos baseamos sobretudo nos
estudos do crítico americano Harold Bloom, autor de O Cânone Ocidental e Gênio,
além de rankings anteriores, como os da revista Time e da Modern Library, selo
tradicional da editora americana Random House. No entanto, a decisão final
coube à redação da revista BRAVO! e aos colaboradores especialmente convidados
para este trabalho.
Uma lista tão reduzida como esta, diante de uma
produção tão vasta, implicou escolhas difíceis já na seleção dos livros. Como
conciliar a importância histórica com o apreço pessoal? Não há ciência que
possa responder a questões como essa - nem é nossa intenção. A lista que aqui
apresentamos tem por objetivo estimular os leitores a fazer as suas próprias. A
partir dessas infinitas listas, que contam infinitas histórias pessoais, quem
sabe não nos aproximamos um pouco mais, como imaginou Borges, de entender o que
somos.
Veja os itens
abaixo:
"Aira, Deusa, celebra do Peleio Aquiles o irado
desvario, que aos Aqueus tantas penas trouxe, e incontáveis almas arrojou no
Hades." Com esses versos inicia-se a Ilíada, que, junto com a Odisseia,
ambas atribuídas a Homero, lançou as bases da literatura ocidental. Ao
discorrer sobre uma realidade vasta e profunda, esses dois poemas épicos não só
contribuíram para moldar uma nação e uma cultura, mas também causaram impacto
duradouro no que veio depois - ou seja, em quase todos os autores e obras
descritos nas páginas que se seguem.
Transposta para a literatura do século 20 por James
Joyce, em Ulisses, e presente na estrutura de um sem-número de obras artísticas
desde a Antiguidade em gêneros que vão do teatro às artes plásticas, a Odisseia
é o que o crítico Otto Maria Carpeaux definiu como "a bíblia estética,
religiosa e política dos gregos que se transformou na bíblia literária da
civilização ocidental inteira". Continuação da Ilíada, a obra acompanha
Odisseu (nome grego de Ulisses) em sua jornada de regresso à sua cidade natal,
Ítaca, após a Guerra de Troia. Durante os dez anos de sua viagem, ele enfrenta
a ira de deuses, a sedução de ninfas, é capturado por ciclopes e sofre o
assédio de sereias, entre outras peripécias.
3. Hamlet, de
William Shakespeare (Baixe a obra em espanhol)
Não existiria o homem moderno sem um autor como ele.
"William Shakespeare, psicólogo incomparável, inventou para nós uma nova
origem, na ideia mais iluminada até hoje descoberta ou inventada por um poeta:
o autorreconhecimento gerado pela autoescuta", diz o crítico americano
Harold Bloom. Ele acrescenta que sem a peça Hamlet (1600-1602) não haveria
autores como o alemão Johann Wolfgang von Goethe, como não seria possível o
russo Fiódor Dostoiévski escrever livros como os Irmãos Karamazov e Crime e
Castigo.
4. O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, de
Miguel de Cervantes
Antes de ser batizado com o título de Dom Quixote de la
Mancha, o modesto fidalgo rural Alonso Quijano gostava de caçar em sua
propriedade, comia lentilhas às sextas-feiras e vestia calças de veludo para ir
a festas. Era um homem comum, na casa dos 50 anos, "rijo de compleição,
seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador". Seu principal passatempo,
que por vezes lhe consumia dias e noites inteiros, era ler livros de cavalaria.
Mais que um compêndio interminável dos símbolos da
história europeia até o século 14, escrito concisamente na forma de um grande
poema, A Divina Comédia é uma alegoria, em si mesma, da vida humana - ou,
pensam alguns, a bíblia escrita por um só homem. A obra narra a odisseia (além
dos moldes do clássico de Homero) de um homem, que é o próprio Dante, em busca
do paraíso onde estará a amada Beatriz - que, para muitos historiadores, foi o
amor não concretizado do autor. A Divina Comédia é organizada em três livros -
Inferno, Purgatório e Paraíso -, num total de 33 cantos.
6. Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust
Monumental é um termo corriqueiro e rasteiro para
descrever os sete volumes de Em Busca do Tempo Perdido, do escritor francês
Marcel Proust. Não apenas pelas mais de 3 mil páginas que acompanham as dezenas
de edições já publicadas em qualquer língua - ou pelo número de personagens (25
principais e uma miríade de secundários) e cenários (cinco, cada qual com seu
papel na narrativa) -, mas pelo gigantismo da proposta literária de Proust:
dissecar a relação do homem com o tempo e com a memória. Em As Ideias de
Proust, o crítico Roger Shattuck discute qual a melhor maneira de ler um dos
livros mais complexos e densos da história.
"Um romance para acabar com todos os
romances." Foi assim que parte da crítica literária recebeu o lançamento de
Ulisses em Paris, em 1922. Depois de quase oito anos debruçado sobre o livro, o
irlandês James Joyce (1882-1941) finalmente lançava a versão integral da sua
grande obra.
8. Guerra e Paz, de Leon Tosltói
"O irmão mais velho de Deus." Foi essa a
alcunha dada pelo historiador Paul Johnson ao escritor russo Leon Tolstói no
ensaio que lhe dedicou em seu livro Os Intelectuais. Polêmicas do britânico à
parte, Tolstói foi, de fato, um homem extremamente ambicioso.
A Rússia do quarto romance de Fiódor Mikháilovitch
Dostoiévski (1821-1881), Crime e Castigo, publicado em 1867, é uma sociedade
desigual e decadente, tomada pela tradição czarista e por arroubos
revolucionários socialistas, miséria e corrupção. Nascido em Moscou e vivendo
em São Petersburgo, o autor, que já escrevera romances e participara de
periódicos, entrega-se ao socialismo, e acaba preso e condenado à morte -
quando a comutação da pena lhe envia à Sibéria, onde conviverá com criminosos,
prostitutas e maníacos que povoarão a densidade das páginas de seus livros e
darão origem a Recordações da Casa dos Mortos (1862). Se era considerado um
jovem escritor promissor, é só depois dos 40 anos, ao escrever sua célebre
obra, que cairá nas graças do público leitor da Rússia e do mundo.
10. Os Ensaios, de Michel de Montaigne
Há figuras do passado que o tempo aproxima ao invés de
afastar. Montaigne é uma delas. Como observa o historiador italiano Carlo
Ginzburg, somos irresistivelmente atraídos pela sua abertura nas relações com
as culturas distantes, pela sua curiosidade diante da multiplicidade e
diversidade da vida humana e pelo diálogo cúmplice e implacável que ele
entretem consigo mesmo.
11. Édipo Rei, de Sófocles
"Sabes, ao menos, de quem és nascido?" A
pergunta que o cego vidente Tirésias faz a Édipo, rei de Tebas, é a síntese de
Édipo Rei, de Sófocles (496-406 a.C.), um dos fundadores da tragédia grega ao
lado de Ésquilo (525-456 a.C.) e Eurípides (480-406 a.C.). A história do homem
que, sem saber, mata o pai e se casa com a mãe teve diversas versões e larga
influência sobre a literatura, chegando ao século 20 na esteira da teoria
dapsicanálise, criada por Sigmund Freud (1856-1939).
12. Otelo, de
William Shakespeare
Escrita e representada pela primeira vez em 1604, Otelo
é vista como um grande estudo psicológico das fraquezas humanas. Inveja, ciúme
e vingança forjam, pelo jogo entre a ação premeditada e a ação impensada, uma
das mais encenadas tragédias da história do teatro e do cinema. Talvez a mais
comovente das tragédias shakespearianas, Otelo levou aos palcos discussões
modernas para a época, como o casamento inter-racial e a ascensão dos árabes na
política.
13. Madame Bovary, de Gustave Flaubert
Gustave Flaubert (1821-1880) escreveu que gostaria de
ser enterrado junto de seus manuscritos, para que durassem tanto quanto ele. A
fixação pelas páginas explica seu apuro literário. Nenhuma frase era impensada,
nenhum cenário, descrito sem os menores detalhes - tudo em Flaubert é
sistemático, matemático, preciso, do estilo que flui de seu texto ao objeto
colocado na sala de um personagem, que o definirá para sempre.
14. Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe
Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), é a
obra de uma vida. O alemão tinha apenas 23 anos quando fez o primeiro esboço
dahistória, que depois seria conhecido como Fausto Zero (Urfaust). Retomaria a
obra lançando Fausto: Uma Tragédia com quase 60 anos (1808), por fim
concluindo-a em 1832, ano de sua morte, aos 83.
15. O Processo, de Franz Kafka
Na manhã em que completa 30 anos, Josef K é visitado no
quarto de pensão onde mora por dois sujeitos que o informam de que está preso.
Os homens se recusam a revelar a natureza da acusação e comunicam ao réu que
ele poderá responder ao inquérito em liberdade, desde que se apresente para interrogatórios
periódicos no tribunal. É esse o argumento inicial de O Processo (1925),
romance que Franz Kafka (1883-1924) - advogado que se ocupou vários anos de um
ofício burocrático em uma companhia de seguros e se tornou, segundo o filósofo
francês Jean-Paul Sartre, "pai da literatura moderna" - nunca
concluiu.
16. Doutor Fausto, de Thomas Mann
Thomas
Mann (1875-1955) queria escrever um livro sobre a lenda de Fausto desde 1901,
mas só o fez em 1947, depois de encontrar sua fonte de inspiração - a barbárie
nazista, que o levou a exilar-se nos Estados Unidos e a escrever um dos maiores
livros da literatura alemã. A lenda de Fausto é antiga. Surge numa Europa do
século 16 impregnada pela religião, que explicava o presente com as tintas do
medo e expiava a culpa nos que a transgrediam.
17. As Flores do Mal, de Charles Baudelaire
Charles Baudelaire (1821-1867) é conhecido em todo o
mundo pela alcunha de "poeta maldito". Maldito pela sífilis, pela predileção
pelas drogas, pela sexualidade exacerbada e pela defesa de todos esses vícios
numa poesia agressiva e existencial. Ele é o "poeta da arte pela arte e da
busca da forma perfeita", diz a crítica Glória Carneiro do Amaral.
18. O Som e a Fúria, de William Faulkner
Indagado
em entrevista para a revista The Paris Review, em 1956, sobre a dificuldade de
seus livros, que exigiam por vezes duas ou três leituras, William Faulkner
(1897-1962) foi lacônico: "Sugiro que leiam quatro vezes". Da mesma
forma que era rigoroso com seus leitores, cobrava muito de si mesmo. Antes de
publicar O Som e a Fúria (1929), considerada uma das obras-primas da literatura
contemporânea, Faulkner reescreveu o texto cinco vezes.
19. A Terra Desolada, de T. S. Eliot
Nas cinco partes do longo poema A Terra Desolada
(1922), do americano naturalizado inglês T. S. Eliot (1888-1965), encontra-se
um sumário conciso da história do pensamento ocidental. Entre as vozes que se
alternam, há constantes empréstimos à literatura europeia, à literatura indiana
e à Antiguidade clássica. Homero, Dante Alighieri (1265-1321), Virgílio (70-19
a.C.), William Blake (1757-1827) e William Shakespeare (1564-1616) - entre pelo
menos mais 35 escritores e pensadores -, além de canções populares, passagens e
citações em seis línguas estrangeiras, inclusive o sânscrito, podem ser
localizados nas múltiplas paisagens da obra.
A Teogonia, ou o nascimento dos deuses, é um poema
fundacional que explica a suposta origem do mundo pela narrativa da genealogia
dos deuses. Tradicionalmente atribuído a Hesíodo, data do século 7 a.C. - época
anterior ao período áureo da vida grega, quando surgem a pólis, a moeda, o
alfabeto e a escrita, todos adventos do século 5 a.C., o mesmo do filósofo
Platão. Por ser originalmente cantada, e não escrita, a Teogonia é composta em
hexâmetros dactílicos (arranjo de sílabas longas e breves), que garantiam
musicalidade aos versos e poderiam ser facilmente memorizados.
21. Metamorfoses, de Ovídio
A pax romana, período de prosperidade do "século
de Augusto", foi ambiente propício para o "poeta do amor" -
epíteto que se colou a Ovídio (43 a.C.-18 d.C.), autor favorito da sociedade
mundana do Império. Roma investia na construção de bibliotecas públicas,
templos e monumentos e financiava o trabalho de historiadores como Tito Lívio
(59 a.C.-17 d.C.), arquitetos como Vitrúvio (80/70-25 a.C.) e poetas como
Virgílio (70 a.C.-19 d.C), além do próprio Ovídio. Foi um período de ascensão
das letras latinas, cuja influência perduraria mil anos depois no Renascimento,
chegando até os dias atuais.
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22. O Vermelho e o Negro, de Stendhal
Não se sabe ao certo o que Stendhal (1743-1842) queria
dizer com o título de sua obra mais célebre, O Vermelho e o Negro. Muitos
atribuem o negro à cor da batina do protagonista e o vermelho ao sangue em que
esta é lavada após a guilhotina; ou à batina em contraposição à farda militar,
vermelha na época de Napoleão; ou simplesmente à morte e à paixão presentes na
trama. Certo é que Sthendal (cujo nome real é Marie-Henri Beyle) conseguiu
escrever um tratado sobre o amor e o ódio na psique humana e sobre uma
sociedade que estraçalha a ambição de um jovem em guerra com seus anelos com a
mesma frieza que o faz com os soldados na guerra.
23. O Grande Gatsby, de Francis Scott Fitzgerald
"Ninguém deveria viver além dos 30 anos." A
frase de Francis Scott Fitzgerald (1896-1940) quase pode ser aplicada ao
próprio escritor. Corroído por uma vida de excessos, sobretudo os alcoólicos,
ele morreria aos 44 anos vítima de parada cardíaca.
24. Uma Temporada no Inferno, de Arthur Rimbaud
Uma obscuridade envolve o francês Arthur Rimbaud
(1854-1891), que, de certo modo, teve duas vidas. Uma até os 20 anos, quando se
tornou um dos desbravadores da lírica moderna, influenciando desde os
surrealistas até a geração beat americana. A outra começa com sua total
renúncia ao fazer poético para correr o mundo.
25. Os Miseráveis, de Victor Hugo
Um homem condenado a anos de prisão por ter roubado um
pão pode não soar estranho no Brasil. Mas nenhum caso até hoje rendeu uma
história tão extraordinária como a de Jean Valjean, o protagonista maltrapilho
de Os Miseráveis, de Victor Hugo (1802-1885), um clássico da literatura
francesa que já inspirou filmes, seriados, musicais e até uma novela
brasileira. Historiadores dizem que o autor de O Corcunda de Notre Dame (1831)
e Os Trabalhadores do Mar (1866) escreveu mais de 1 milhão de versos, além de
engajar-se nas lutas políticas e ideológicas do século 19.
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26. O Estrangeiro, de Albert Camus
Albert Camus (1913-1960) nasceu em Mandovi, na Argélia,
então uma colônia francesa. Da sua terra natal, guardou apenas algumas
lembranças da infância pobre em um bairro operário que serviria de inspiração
para seu primeiro romance, O Avesso e o Direito (1937). Foi professor de
filosofia, jornalista e ativista da Resistência francesa.
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Na mitologia grega, Medeia era uma feiticeira conhecida
por seus poderes mágicos, que poderiam ser usados para o bem e para o mal. A
lenda entraria para a história, porém, como a da mãe que mata os próprios
filhos por vingança a um homem que não a quer, protagonista na peça do
dramaturgo grego Eurípides, escrita por volta do ano 430 a.C. A distância entre
o mito e a realidade era tênue na sociedade grega da época.
A Eneida está para Roma assim como a Ilíada está para
Atenas. É, acima de tudo, a compilação de uma história da fundação de Roma,
narrada epicamente para dar ao passado a resposta pelo presente romano nos
tempos do Império a partir dos anos 70 a.C., quando o poeta Virgílio nasceu.
Desde muito jovem, Virgílio teve contato direto com o poder, sendo amigo
próximo e notório protegido do tribuno Mecenas (daí a origem do termo
"mecenas", que designa patrocinadores da arte).
29. Noite de Reis, de William Shakespeare
Uma das características mais importantes da obra de
Shakespeare é seu humor. As comédias, na trajetória do bando, precedem as
tragédias. Seu maior trunfo cômico é Noite de Reis.
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30. Adeus às Armas, de Ernest Hemingway
Ernest Hemingway (1899-1961) foi um homem de ação.
"Tinha mais de 1,80 de altura, um peito largo, era bonito, efusivo, um
guerreiro, um caçador, um pescador, um bebedor", conta o biógrafo e
romancista Anthony Burgess. "Foi a fusão do artista sensível e original
com o musculoso homem de ação que transformou Hemingway em um dos maiores mitos
internacionais do século 20", conclui o autor de Laranja Mecânica (1962).
31. O Coração das Trevas, de Joseph Conrad
Jósef Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski (1857-1924), ou
Joseph Conrad, é um fenômeno da literatura - um autor que alcançou a perfeição
artística num idioma que não era o seu. De família polonesa, nasceu na Podolia,
província ucraniana dominada pelo Império Russo. Era filho único de um nobre
proprietário de terras de espírito letrado, condenado ao exílio por se rebelar
contra os czares.
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32. Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley
O ano seria 2540 d.C. se fôssemos contar o tempo pelo
calendário cristão. Mas, no livro, se fala de 632 d.F., ou seja, depois de
Ford, pois um novo período na história humana teria sido inaugurado com Henry
Ford, o criador das linhas de montagem e precursor da moderna sociedade de
consumo. É nessa época - em que não há fome, desemprego, pobreza, guerras,
doenças e os indivíduos convivem em suposta harmonia em um mundo asséptico -
que se situa Admirável Mundo Novo (1932), romance do autor inglês Aldous Huxley
(1894-1963).
33. Mrs. Dalloway,
de Virginia Woolf
"Mrs. Dalloway disse que ela própria iria comprar
as flores." Assim começa este romance de 1925, escrito após um dos vários
colapsos nervosos sofridos pela escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). A
história se passa em um único dia na vida de uma socialite londrina às voltas
com os preparativos para uma recepção doméstica.
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34. Moby Dick, de
Herman Melville
Moby Dick foi um fracasso de vendas quando lançado, em
1851. Herman Melville (1819-1891) tinha então 32 anos e já era autor de cinco
romances. O público ficou decepcionado, porque aguardava a mesma aventura de
apelo popular de Typee (1846), baseada na experiência do autor marinheiro nos
Mares do Sul.
35. Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe
Uma mansão envolta em uma atmosfera de morte ou um gato
preto que leva seu dono à perdição podem ser suficientes para que Edgar Allan
Poe (1809-1849) teça alguns dos contos mais aterrorizadores da história -
muitos deles reunidos no livro Histórias Extraordinárias. Publicado pela
primeira vez com esse nome em 1848 pelo poeta Charles Baudelaire (antes era
intitulado Contos do Grotesco e do Arabesco), Histórias Extraordinárias traz A
Queda da Casa de Usher, O Barril de Amontilado, O Gato Preto e Os Crimes da Rua
Morgue, entre outros, nos quais, com extrema habilidade, Poe enfoca o
fantástico e o sobrenatural com descrições minuciosas e realistas, conduzindo o
leitor a um mundo soturno e repleto de enigmas. Não que os escritos de terror
fossem novidade na época.
36. A Comédia Humana, de Honoré de Balzac
Se os franceses foram os pais dos romances caudalosos
(romans-fleuves), nos milhares de páginas de Victor Hugo, Émile Zola, Marcel
Proust, então Honoré de Balzac (1799-1850) foi o pai de todos os franceses. A
Comédia Humana, em uma edição francesa, enche mais de 11 mil páginas. São 88
romances e novelas com vida independente, mas que atuam harmonicamente para
alcançar o propósito de Balzac - cristalizar numa única obra tudo quanto fosse
humano, fazendo com a pena o que só Napoleão fez com a espada.
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37. Grandes Esperanças, de Charles Dickens
Grandes Esperanças é em essência um romance de
formação, aquele tipo de obra em que o personagem evolui conforme a leitura -
física, psicológica, moral e esteticamente. O Pip das primeiras páginas,
criança inocente e bondosa, e o Pip do fim do livro, fidalgo, frio e
calculista, são os polos de uma história que fazem o leitor sorrir com as
conquistas financeiras, chorar com as desilusões amorosas e aplaudir as conclusões
prévias. Charles Dickens (1812-1870) publicou em 1861 o que para muitos é uma
obra semiautobiográfica, em que ele traria à tona a própria infância.
38. O Homem sem Qualidades, de Robert Musil
Para a maioria dos alemães, o escritor austríaco Robert
Musil (1880-1942) publicou o mais importante romance do século 20 escrito na
língua germânica. Mas não sem traumas. O Homem sem Qualidades fez seu autor
entrar na lista de obras "indesejáveis e nocivas" dos nazistas, que o
enxotaram da Alemanha para a Suíça - onde viveu anos na miséria até morrer no
exílio.
39. As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift
As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift (1667-1745),
foram escritas para um público sedento por comédias satíricas - o cenário é o
Reino Unido do começo do século 18, mais precisamente 1726, quando foram
publicadas pela primeira vez em Londres. O fato de carregar forte carga
moralista, ao oferecer um retrato de uma humanidade em essência vergonhosa,
parece não ter encontrado resistência. O livro virou um sucesso especialmente
entre os mais jovens, o que até hoje permanece nas dezenas de versões
infanto-juvenis da obra.
40. Finnegans Wake, de James Joyce
"Demoroso, langoroso, livro das trevas."
Assim James Joyce (1882-1941) descreveu o livro ainda sem nome que começara a
escrever em 1924 e publicava de forma seriada na revista Transition. Em 1939,
ela saiu, por fim, com o nome tomado de empréstimo a uma canção popular:
Finnegans Wake.
41. Os Lusíadas, de Luís de Camões
Como Homero na Ilíadia ou Virgílio na Eneida, Luís Vaz
de Camões (1524?-1580) buscou no épico, gênero por excelência dos poemas
fundacionais de grandes nações, o modelo poético narrativo para contar a
história do povo português. Em Os Lusíadas, publicado em 1572, Camões bebe da
fonte clássica literária no auge do classicismo europeu e, usando como mote a
descoberta por Vasco da Gama, anos antes, do caminho marítimo para as Índias,
traduz em verso toda a história do povo português e suas grandes conquistas.
Resultado do extremo apuro técnico típico do classicismo, a epopeia portuguesa
é composta de 1.102 estrofes de oito versos, ou 8.816 versos decassílabos,
divididos em dez cantos e organizados em cinco partes.
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42. Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas
"Um por todos e todos por um" era o lema dos
Três Mosqueteiros - que na verdade eram quatro -, ao lutarem pela justiça e
pela honra da coroa francesa. O livro homônimo do romancista francês Alexandre
Dumas (1802-1870) foi publicado em 1844 na revista parisiense Siècle. Cada
edição trazia um capítulo da história, que logo se tornou popular por ser uma
aventura nos moldes dramáticos adorados na época - e até hoje.
43. Retrato de uma Senhora, de Henry James
Hoje em dia é estranho pensar que Henry James
(1843-1916) já foi um autor popular. Seu romance The American (1877) foi
pirateado na Inglaterra. De sua novela Daisy Miller (1879) se tomou emprestado
o nome da personagem-título: "daisy miller" passou a designar
qualquer jovem americana, ingênua e deslumbrada, em férias na Europa no fim do
século 19.
44. Decamerão, de Giovanni Boccaccio
A obra mais famosa de Giovanni Boccaccio (1313-1375),
Decamerão, é até hoje lembrada como um compêndio sobre a capacidade humana de
perverter-se de todas as formas. Mas foi também uma das grandes responsáveis
pela fixação do idioma italiano na Itália, ao percorrer, com seus contos
divertidos, uma gama imensa de sentimentos humanos e situações cotidianas nos
idos da Idade Média. Numa manhã de terça-feira do ano de 1348, sete moças e
três rapazes resolvem deixar a cidade de Florença para fugir da peste negra.
45. Esperando Godot, de Samuel Beckett
Deus. Liberdade. Morte. Esperança. Muitos foram os
nomes que Godot recebeu. Mas, como o personagem do irlandês Samuel Beckett
(1906-1989) nunca deu as caras para dizer quem era - ou a que veio ou aonde
iria -, sua verdadeira identidade permanece um mistério literário. Indagado
sobre o significado de Godot, o autor disse: "Se soubesse teria dito na
peça".
46. 1984, de George Orwell
O romance 1984 foi lançado um ano antes da morte do
autor, George Orwell (1903-1950). Em 1949, Eric Arthur Blair, seu nome
verdadeiro, achava-se isolado em um casebre no arquipélago escocês das ilhas
Hébridas. Doente e desgostoso após uma vida de militância política, redigiu o
romance que passaria para a história literária como um dos mais contundentes
contra os regimes totalitários.
47. A Vida de Galileu, de Bertolt Brecht
A primeira versão do texto de A Vida de Galileu foi
escrita em 1938, quando a vitória do nazismo na Alemanha parecia inevitável. Na
iminência da barbárie, Bertolt Brecht (1898-1956) foi buscar na trajetória do
astrônomo Galileu Galilei (1564-1642) o subtexto para expressar suas ideias
sobre o comportamento dos intelectuais diante de uma sociedade repressora. Na
época, o dramaturgo havia deixado a Alemanha, sua terra natal, e passava uma
temporada de exílio na Dinamarca.
48. Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont
O livro Os Cantos de Maldoror foi publicado em 1969,
mas de maneira discreta - seu editor temia represálias e processos que poderiam
advir de uma obra com tamanho teor de perversão. Zoofilia, pedofilia,
homossexualismo e sadomasoquismo são os temas prediletos do microcosmo do
autor, que os coroa sempre com uma provocante naturalização da loucura, do
imoral, do perverso. O conde de Lautréamont, cujo nome real era Isidore Ducasse
(1846-1870), nasceu no Uruguai, perdeu a mãe aos 2 anos e quase não conviveu
com o pai, tendo estudado toda a vida na França.
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49. A Tarde de um Fauno, de Stéphane Mallarmé
A melodia de Debussy é doce, suave, ilude os sentidos e
vai se pronunciando como que pisando em ovos, da mesma forma que o poema, pai
da música, o fizera anos antes. Em 1890, o poeta Stéphane Mallarmé (1842-1898)
pediu ao compositor Claude Debussy que musicasse um poema de sua autoria, já
reconhecido em toda a Europa: A Tarde de um Fauno. Nascido em Paris, em 1842,
Mallarmé foi professor de inglês durante mais da metade da vida, profissão que
adquiriu estudando e se especializando em Londres.
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50. Lolita, de Vladimir Nabokov
"Lolita, luz de minha vida, labareda em minha
carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três
saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve no terceiro contra os dentes.
Lo.Li.Ta." É com essa "onomatopeia erótica", exagerada e
passional, bem ao modelo dos folhetins românticos, que Vladimir Nabokov
(1899-1977) inicia seu romance mais famoso, Lolita (1955). O título, assim como
o termo "ninfeta", criado pelo protagonista para definir sua atração
irresistível por garotas na faixa dos 9 aos 12 anos de idade, foi incorporado
ao vocabulário universal.
Foi com Tartufo que Molière (1622-1673) passou a ser
acusado de imoral, libertino e diabólico pela burguesia e pela Igreja
francesas, incomodadas com as críticas de seus personagens quase reais. Atentar
contra a moral e os bons costumes era um crime sério nos idos do século 17 -
tanto que um padre sugeriu que o autor fosse queimado vivo. A solução foi mais
simples: Molière, já um dramaturgo famoso entre as massas, adaptou o fim da
peça para dobrar o clero e levar às graças do público seu hilariante Tartufo.
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52. As Três Irmãs, de Anton Tchekhov
As Três Irmãs é considerada a obra-prima no teatro de
Anton Tchekhov (1860-1904), escritor russo que marcaria a história da
literatura pelo grau de laconismo dilacerante de seus contos curtos e pela
profundidade psicológica de seus personagens na dramaturgia. E o teatro de
Tchekhov traduz sua busca pelo sentido objetivo da vida. Olga, Macha e Irina
são três irmãs que tentam, cada uma a sua maneira, sobreviver à monotonia do
dia-a-dia.
53. O Livro das Mil e Uma Noites
Quando o rei Sahriyar descobre que foi traído, decide
não mais confiar nas mulheres e passa, então, a executar suas noivas no dia
seguinte ao casamento. Depois de muitas mortes, o grão-vizir encarregado de
levar as pretendentes à alcova real não encontra mais candidatas. Mas, para seu
espanto, sua filha Sahrazad se oferece para casar com o monarca.
54. O Burlador de Sevilha, de Tirso de Molina
Gabriel Téllez, conhecido no mundo da literatura por
Tirso de Molina (1571-1648), nasceu em Madri, Espanha, no século 17, mas ganhou
fama mundial ao transportar para um romance coeso o mito de Don Juan em El
Burlador de Sevilla y Convidado de Piedra, publicado pela primeira vez em 1630.
Uma obra que talvez não seja totalmente sua, ponderam alguns críticos. Pedro
Henrique Ureña diz que Tirso de Molina é, sim, o criador de Don Juan, mas
apenas do germe.
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55. Mensagem, de Fernando Pessoa
Míope, tímido, cortês, sempre metido em ternos escuros.
Com o salário contado de redator ambulante de cartas comerciais, morava como
inquilino em casas de parentes ou em quartos de pensão. Dado a especulações
esotéricas, gostava de passar as horas em tabernas e cafés.
56. Paraíso Perdido, de John Milton
O inglês John Milton compôs os cerca de 10 mil versos
de seu poema mais conhecido, Paraíso Perdido (1667), quando já estava
completamente cego. Ditando a obra a diversos copistas, inclusive filha caçula,
e inspirado pelo Gênesis e pela Eneida de Virgílio, escreveu um dos maiores
épicos religiosos da história da literatura. Paraíso Perdido está dividido em
12 cantos e conta a história da danação do homem, que perde o direito ao
paraíso depois de provar o fruto proibido.
57. Robinson Crusoé, de Daniel Defoe
"A vida e as mais surpreendentes aventuras do
marinheiro Robinson Crusoé, natural de York, que viveu 28 anos completamente só
numa ilha deserta, situada na América do Sul, não longe da embocadura do
Orenoco, após escapar de um naufrágio em que pereceram todos os demais homens
da tripulação." Assim o jornalista e autor de panfletos polêmicos Daniel
Defoe (1660-1731), já com 60 anos, em conluio com um editor de livros populares
de Londres, oferece sua obra ao público. Lançada em 1719, Robinson Crusoé não
contou com o nome de Defoe na capa.
58. Os Moedeiros Falsos, de André Gide
O francês André Gide (1869-1951) não era um escritor
para mentes cativas. Acusado de complexo, barroco, hermenêutico, chegou a dizer
que Os Moedeiros Falsos, de 1926, era seu único romance. Nele, Gide utiliza uma
imagem concreta (pequenos fora-da-lei que falsificam dinheiro) como metáfora
para traduzir as relações humanas, frequentemente pervertidas por
mal-entendidos e erros de compreensão.
59. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis
O romance Memórias Póstumas de Brás Cubas (de 1881), de
Machado de Assis, foi o texto que inaugurou o padrão moderno nas letras
nacionais. Bebendo nas águas tanto do Realismo quanto do Romantismo, com
influência de prosadores ingleses e franceses do século 18, mas, sobretudo,
escrevendo com grande independência e originalidade, Machado de Assis criou com
este livro a ponte que uniu o passado ao futuro na nossa literatura. A razão
para esse salto qualitativo deve ser buscada nas inovações formais deste
romance, o primeiro da chamada fase realista de sua obra.
60. O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
"Costuma-se dizer que a beleza é somente
superficial. Pode ser que seja. Mas não tão superficial como o pensamento. Para
mim, a beleza é a maravilha das maravilhas. Só o medíocre não julga pelas
aparências. O verdadeiro mistério do mundo é o visível e não o invisível. Sim,
Sr. Gray, os deuses foram generosos com o senhor. Mas o que os deuses dão,
tomam logo em seguida." A última frase dessa fala do persuasivo lorde
Henry Botton a Dorian Gray em O Retrato de Dorian Gray (1890) também pode ser
aplicada a seu autor.
61. Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi
Pirandello
"Manicômio, manicômio!" Na noite de 9 de maio
de 1921, o Teatro Odescalchi de Roma veio abaixo gritando que o autor de Seis
Personagens à Procura de um Autor, Luigi Pirandello (1867-1936), deveria ser
internado por apresentar uma peça absolutamente ininteligível para o
espectador. Quatro anos depois, diante de tamanha incompreensão, o escritor
resolveu explicar em uma nota o significado da obra.
62. As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de
Lewis Carroll
Um coelho de cartola passa correndo, de olho no
relógio: "Oh, céus! Vou chegar atrasado!". E a curiosa Alice o segue.
Entra numa toca que se alça sobre um imenso precipício, tão profundo que ela
acaba caindo no sono durante a queda. Mais adiante, Alice conversa com um bando
de aves e animais sem que, por um instante, a situação lhe pareça inaceitável
ou absurda.
63. A Náusea, de Jean-Paul Sartre
O
século 20 seria, de certa forma, inaugurado com a publicação, em 1900,
de A Interpretação dos Sonhos, obra de Sigmund Freud, fundadora da
psicanálise. É a partir dessa ciência do inconsciente e do desejo, de
seu novo olhar sobre os problemas que reprimem o ser humano moderno, que
grande parte dos intelectuais pensaria o mundo contemporâneo. O
italiano Italo Svevo (1861-1928) foi, nesses termos, pioneiro.
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64. A Consciência de Zeno, de Italo Svevo
O século 20 seria, de certa forma, inaugurado com a
publicação, em 1900, de A Interpretação dos Sonhos, obra de Sigmund Freud,
fundadora da psicanálise. É a partir dessa ciência do inconsciente e do desejo,
de seu novo olhar sobre os problemas que reprimem o ser humano moderno, que
grande parte dos intelectuais pensaria o mundo contemporâneo. O italiano Italo
Svevo (1861-1928) foi, nesses termos, pioneiro.
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65. Longa Jornada Noite
Adentro, de Eugene Gladstone ONeill
Eugene Gladstone ONeill
(1888-1953) nasceu para o teatro. Filho de um ator popular de ascendência irlandesa, ONeill cresceu em viagens durante as
temporadas teatrais pelos Estados Unidos. A vida errante fez com que a mãe se
tornasse dependente de remédios e o irmão mais velho, que mais tarde se
suicidaria, do álcool.
66. A Condição Humana, de André Malraux
Publicado em 1933 e ganhador do Prêmio Goncourt, A Condição Humana é
algo entre um romance e um relato ficcional dos acontecimentos que deram
início à Revolução Chinesa, observados do ponto de vista politicamente
engajado do escritor francês André Malraux (1901-1976). Estruturado como
romance, mas escrito em tom de reportagem, o livro é um depoimento
pessoal de Malraux sobre um dos momentos históricos mais marcantes do
século passado - o surgimento do comunismo na China e a guerra civil no
país, acontecimentos que marcariam a história chinesa e mundial até
hoje. Questões morais, intelectuais e políticas permeiam todo o livro,
que não deixa de ser um manifesto favorável a uma revolução tida como
possível há 70 anos.
67. Os Cantos, de Ezra Pund
Os primeiros esboços de Os Cantos foram feitos pelo
americano Ezra Pound (1885-1972) em 1904. Mas os primeiros poemas que
integrariam o volume foram publicados apenas em 1917, enquanto os últimos só
vieram à luz em 1970. O gigantesco conjunto de versos sofreu inúmeros
acréscimos e modificações ao longo da vida do poeta.
68. Canções da Inocência-Canções da Experiência, de
William Blake
"Não há dúvida que esse pobre homem foi louco, mas
há algo na loucura dele que me interessa mais que a sanidade de Lorde Byron ou
Walter Scott." As palavras do poeta inglês William Wordsworth (1770-1850)
foram proferidas por ocasião da morte de seu compatriota e companheiro na
poesia William Blake (1757-1827) e marcam bem a impressão que o autor de
Canções da Inocência (1789) e Canções da Experiência (1794) deixou em seu
tempo. Mal compreendido, Blake tinha sido tomado por profeta louco em seus
últimos anos, quando publicara uma miscelânea de poemas de fundo místico, como
As Visões das Filhas de Albion (1793), Milton (1808) e o épico Jerusalém
(1820).
69. Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams
Um Bonde Chamado Desejo, do dramaturgo Tennessee
Williams (1911-1983), tornou-se um clássico entre os clássicos do teatro
americano ao narrar a decadência de Blanche Dubois, que se refugia na casa da
irmã Stella para fugir do passado e sucumbe ao presente vulgar de seu cunhado
Stanley. Estrelado em 1947 por Marlon Brando e Jessica Tandy na Broadway,
dirigido por Elia Kazan, o texto ganharia notoriedade mundial no cinema, quatro
anos depois, quando o mesmo Kazan dirigiu Brando e Vivian Leigh nos papéis
principais. Apesar do clima de tensão deixado após os anos de luta na Segunda
Guerra Mundial, a Broadway dos anos 1940 não atendia às expectativas de uma
sociedade que mudava a passos rápidos e era dominada por musicais de comédia e
releituras dos clássicos gregos, de William Shakespeare e Bernard Shaw (1856-1950).
70. Ficções, de Jorge Luis Borges
Ficções, do escritor argentino Jorge Luis Borges
(1889-1986), foi editado em 1944 a partir de alguns dos melhores textos do
maior contista latino-americano. Num jogo entre ordem e acaso, entre a lógica
combinatória e o simbolismo mágico, Borges mescla duas coleções distintas, O
Jardim dos Caminhos que Se Bifurcam (1941) e Artifícios (1944), alcançando uma
obra, para usar um termo que a consagrou, "fantástica".
71. O Rinoceronte, de Eugène Ionesco
De modo inesperado, sem mais nem menos, um rinoceronte
surge na praça de uma cidade indefinida. Todos se surpreendem, mas a vida
continua. Então aparecem outros rinocerontes. O burburinho ganha vulto. Seria
uma ilusão? Teriam vindo da África ou da Ásia? Seriam unicórnios ou bicórnios?
72. A Morte de Virgílio, de Hermann Broch
"Que importa que os deuses se limitem ao povo e
não queiram conhecer o indivíduo! A alma pouco precisa dos deuses que ela
própria criou, já não precisa deles, nem deste deus nem daquele, desde que
trave o seu piedoso diálogo com o insondável." Como se observa, é grande a
carga dramática do poema-romance A Morte de Virgílio, escrito pelo alemão Hermann
Broch e publicado pela primeira vez em 1945.
73. Folhas de Relva, de Walt Whitman
Com imensa barba e cabelos longos e brancos, que
remetem à imagem de um eremita, Walt Whitman (1819-1892) tornou-se uma figura
lendária ainda em vida. Isolado em uma cabana em Camden, Nova Jersey, com
metade do corpo paralisado por sequelas de um ferimento recebido quando foi
voluntário na Guerra Civil Americana, o poeta revisou até o último ano de vida
sua maior realização literária: Folhas de Relva (1855). A primeira edição do
volume, com 12 poemas, foi publicada pelo próprio Whitman em tiragem pequena.
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74. O Deseros dos Tártaros, de Dino Buzzati
A espera parece ter sido a razão de viver do escritor e
jornalista italiano Dino Buzzati (1906-1972). Entediado com as tarefas que
cumpria à noite no jornal Corriere della Sera, Buzzati percebeu que a rotina
consumia sua existência - o que serviria de enredo para escrever sua
obra-prima, ao transportar o drama para um forte militar onde os soldados
aguardassem, dia e noite, o ataque do inimigo. Publicado em 1940, O Deserto dos
Tártaros traz a história de Giovanni Drogo, jovem oficial convocado para servir
num forte à beira do deserto que poderia - eventualmente, num acaso do destino
- ser atacado pelos tártaros.
75. Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez
"Era irrepetível desde sempre e por todo o sempre,
porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda
oportunidade sobre a terra." Essa foi a terrível constatação do último dos
Aureliano Buendía, quando desvenda nos pergaminhos do cigano Melquíades o
destino já cumprido de sua família. Seu filho, último descendente da dinastia,
morrera engolido por formigas, e agora ele se dava conta de que as oito
gerações dos Buendía estavam, desde o princípio, condenadas à solidão e à
extinção junto com Macondo, cidade onde viveram e que ajudaram a fundar.
76. Viagem ao Fim da Noite, de Louis-Ferdinand Céline
O dedicado dr. Louis-Ferdinand Destouches - que
trabalhou na avaliação de operários em uma fábrica da Ford em Detroit, nos
Estados Unidos, na Liga das Nações na África e medicando pobres na periferia de
Paris - teve uma vida difícil. Nascido em 1894, sofreu privações na infância e,
aos 18 anos, alistou-se na cavalaria para fugir da "pobreza digna"
(em suas palavras), que amargava ao lado da família de pequenos comerciantes.
Mas encontrou sorte pior nas fileiras do Exército.
77. A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queirós
Publicado em 1900, logo após a morte do escritor, A
Ilustre Casa de Ramires é uma obra da fase em que o português José Maria d Eça
de Queirós (1845-1900) retomava as pazes com
seu Portugal querido. São duas narrativas que se mesclam. A primeira é a
trajetória de um fidalgo português, Gonçalo Mendes Ramires, cujo destino se
confunde com o de Portugal na busca de ressurgir moralmente após a decadência.
78. O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar
Em O Jogo da Amarelinha (Rayuela), romance do escritor
argentino Julio Cortázar (1914-1984), o leitor pula do jeito que quiser. Como
um labirinto que avança e retrocede brincando com quem lê, a obra pode ser lida
tanto de forma fluida, clássica, em capítulos (do 1 ao 56), compreendendo de
modo claro a história de um triângulo amoroso, como também, a partir do
capítulo 73, seguindo a ordem indicada pelo autor, como um mapa de leitura, com
mil encadeamentos possíveis, incluindo capítulos antes ironicamente denominados
"dispensáveis". Nesse segundo modo de pular a amarelinha, o curso
principal da narrativa oferece ramificações insondáveis, que partem de um
comentário sobre o personagem para desaguar em uma reminiscência surreal -
citações, cartas, breves episódios, textos que debatem a literatura atual,
artigos sobre os personagens, desvarios, tudo vale para reforçar o caráter
ambíguo e irônico da história.
79. As Vinhas da Ira, de John Steinbeck
Num bilhete endereçado a seu colega de quarto, quando
ainda era um jovem calouro da Universidade Stanford, na Califórnia, John
Steinbeck (1902-1968) despede-se da carreira acadêmica. "Fui para a China.
Vejo-o de novo qualquer dia desses", escreveu. Steinbeck não fora à China.
80. Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar
Memórias de Adriano, a obra-prima de Marguerite
Yourcenar (1903-1987), consumiu 30 anos de pesquisa da escritora belga, que
começou a escrever o livro nos anos 1920, destruiu inúmeras versões e o lançou
apenas em 1951, quando virou febre na Europa e imediatamente se tornou um
clássico da literatura moderna. A obra é escrita como se fosse uma
autobiografia do imperador Adriano, retratado como o protótipo de governante
ideal: cultor do classicismo grego, mecenas e político preocupado com o povo. É
essa personalidade humanizada, tão distante de um perfil historicista, que faz
do Adriano de Yourcenar o mais lembrado e aceito até hoje.
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81. O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger
Dois dias antes das férias de Natal, Holden Caulfield,
de 16 anos, foge de um rico colégio interno e vaga por estradas de ferro até
chegar a Nova York. Com essa trama simples sobre um adolescente em crise, O
Apanhador no Campo de Centeio tornou-se um imenso sucesso. Poucas semanas após
o lançamento, em 1951, a obra já tinha vendido mais de 15 milhões de
exemplares.
82. As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain
Samuel Langhorne Clemens (1835-1910) se aproximava dos
50 anos quando publicou um dos seus livros mais famosos, As Aventuras de
Huckleberry Finn (1884). No prefácio escreveu: "Embora este livro se
destine, sobretudo, a divertir meninos e meninas, espero que não seja
desprezado por adultos, pois parte do meu plano foi tentar relembrar-lhes, de
maneira agradável, o que outrora foram". Ao rogar que seus leitores
recordassem a infância, o velho Mark Twain - pseudônimo de Clemens - na verdade
fazia reviver a própria.
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83. Contos - Hans Christian Andersen
"Sempre isto que vemos é muito grande!",
diria o patinho desajeitado, ao pular da casca do ovo e observar a realidade no
lado de fora. Com O Patinho Feio, assim como O Soldadinho de Chumbo e A Pequena
Sereia, o dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) entraria para o grupo
de autores mais lidos de todos os tempos, mas por crianças. "Era uma vez
vinte e cinco soldados de chumbo, todos irmãos, porque tinham sido todos feitos
da mesma colher de cozinha."
84. O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa
Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957) morreu antes
de publicar sua grande obra, O Leopardo (o original Gattopardo foi mantido em
algumas traduções para o português), um estrondoso sucesso logo após o
lançamento, em 1958. O livro, que inspirou o filme homônimo do cineasta Luchino
Visconti, aborda a decadência da aristocracia siciliana, da qual o próprio
autor fez parte, e tem como ponto de partida a conquista da Sicília por
Garibaldi e a unificação da Itália. A decadência é traduzida por Don Fabrizio
Corbera, o príncipe de Salina, o Leopardo.
85. A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy,
de Laurence Sterne
A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy, do
escritor irlandês Laurence Sterne (1713-1768), é considerado pela crítica o
"antirromance do século", alcunha mais do que merecida para uma obra
que faz não uma paródia de um livro, mas de todo o gênero romanesco.
Originalmente publicado em vários volumes - os dois primeiros em 1759, e os
demais no decorrer dos dez anos seguintes - o livro teve reações dissonantes
entre os escritores da época, mas o humor grosseiro foi bem aceito pela
sociedade londrina. Em nenhum outro romance as expectativas de um leitor comum
são tão destratadas como na obra-prima de Sterne.
86. Uma Passagem para a Índia, de Edward Morgan Forster
Até o início do século 20, os romances sobre a Índia
colonial privilegiaram o ponto de vista do colonizador britânico. A
contribuição de Edward Morgan Forster (1879-1970) em Uma Passagem para a Índia,
publicado em 1924, foi ter lançado dúvida sobre as virtudes morais desse olhar,
ao reconstituir os múltiplos aspectos de uma realidade complexa. O romance
acompanha a viagem de Adela Quested e sua futura sogra, a senhora Moore, a
Chandrapore.
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87. Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
Nada indicava que Jane Austen (1775-1817), filha de um
pastor anglicano de província, se tornaria uma das escritoras mais lidas da
Inglaterra. Mas o fato é que a observação do ambiente rural serviu de esteio às
suas comédias de costumes, em que a descrição social e humana se iguala à dos
grandes mestres. A primeira versão da obra se chamou First Impressions a partir
do ditado que diz "first impressions are half of the battle" (as
primeiras impressões perfazem metade da conquista).
88. Trópico de Câncer, de Henry Miller
Quando o americano Henry Miller (1891-1980) se mudou
para Paris, em 1930, não tinha trabalho fixo nem dinheiro no bolso. Pretendia
viver da pena. Acabou entre vagabundos e mendigos, passando fome e
divertindo-se com meretrizes.
89. Pais e Filhos, de Ivan Turguêniev
Pais e Filhos é uma das obras mais polêmicas de toda a
literatura russa e uma das poucas a transpor pragmaticamente a tênue barreira
entre ficção e realidade. Escrita por Ivan Turguêniev (1818-1883) e publicada
originalmente em 1862, o livro trouxe à tona debates considerados perigosos em
uma época de grande perturbação social, especialmente no campo. O romance narra
a tragédia existencial de um homem inteligente e repleto de qualidades morais,
Bazárov, que se propusera a viver uma vida niilista, livre de crenças e
moralismos, uma espécie de rebeldia que "não se inclina a nenhuma
autoridade nem aceita nenhum princípio sem exame".
90. O Náufrago, de Thomas Bernhard
Thomas Bernhard (1931-1989), conhecido pela violência
de suas palavras, cria, em O Náufrago (1983), um Narrador como figura central
para abusar da parcialidade, da virulência, das idiossincrasias e da
misantropia que lhe são comuns, em um romance sobre desilusão e morte, um monólogo
interior quase niilista, pessimista, rascante e por isso tomado por ácido
humor. O romance começa pelo fim, narrando o término de uma longa amizade entre
três grandes homens que pretendiam ser três grandes pianistas. Apenas um deles
conseguiu, relegando aos dois primeiros uma vida amargurada, autocomiserativa e
vazia.
91. A Epopeia de Gilgamesh
Tesouro literário da antiga Mesopotâmia, este épico
deriva principalmente de 12 tábuas de argila descobertas em Nínive, na
biblioteca do rei assírio Assurbanípal, que reinou entre 668 e 627 a.C.
Trata-se do mais antigo texto literário preservado, precedendo em 1,5 mil anos
as narrativas homéricas. O personagem de Gilgamesh se baseia num rei que
governou Uruk no terceiro milênio antes de Cristo.
Não se sabe ao certo a autoria do mais extenso poema
épico da literatura indiana - e também da literatura universal -, escrito há
mais de 5 mil anos. O Mahabharata tem mais de 200 mil versos em 18 livros, ou
parvas, que por muito tempo foram creditados unicamente a um autor,
Krishna-Dwaipayana. Hoje a tendência é vê-lo mais como um compilador, como um
mentor da grande obra.
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93. As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino
Em As Cidades Invisíveis (1972), o escritor italiano
Italo Calvino (1923-1985) descreve um diálogo inusitado entre o mercador
veneziano Marco Polo, "o maior viajante de todos os tempos", e o
imperador dos tártaros Kublai Khan. Por meio de curtas narrativas construídas
por palavras mágicas, Calvino tece um emaranhado de símbolos que dão conta de
qualquer cidade, país ou realidade imaginável. Façanha que o próprio autor
reconhece.
94. Oh The Road, de Jack Kerouac
As quatro viagens que Jack Kerouac (1922-1969) fez com
seu amigo Neal Cassady cruzando os Estados Unidos nos últimos anos da década de
1940 serviram de inspiração para o livro que se tornou símbolo da geração beat
americana: On the Road (1957). Ser beat naqueles tempos significava andar mal-vestido,
odiar a burguesia, explorar os limites da mente com alucinógenos, curtir jazz e
embebedar-se constantemente. Esse é o estilo de vida de Sal Paradise e seu
companheiro Dean Moriarty, os protagonistas do romance - e alter egos de
Kerouac e Cassady.
95. O Lobo da Estepe, de Herman Hesse
"Era uma vez um certo Harry, chamado o Lobo da
Estepe. Andava sobre duas pernas, usava roupas e era um homem, mas não obstante
era também um lobo das estepes. Havia aprendido uma boa parte de tudo quanto as
pessoas de bom entendimento podem aprender, e era bastante ponderado. O que não
havia aprendido, entretanto, era o seguinte: estar contente consigo e com sua
própria vida." Assim escreve Hermann Hesse (1877-1962) no livro que virou
a febre hippie dos anos 1960.
96. O Complexo de Portnoy, de Philip Roth
Publicado em 1969, este romance sobre as confissões de
um homem no divã de seu psicanalista conquistou rapidamente o aplauso da
crítica e a aceitação do público, catapultando o nome de Philip Roth (1933) ao
panteão das letras americanas. Considerado pela revista Time e pela Modern
Library um dos cem melhores romances do século 20, o livro conta a história de
um jovem advogado nova-iorquino, Alexander Portnoy, às voltas com a mãe
castradora, o pai pusilânime e uma longa série de namoradas - nenhuma do credo
judeu, como queria sua família. Quando enfim conhece uma israelense numa viagem
a Israel, vê-se, significativamente, impotente.
97. Reparação, de Ian McEwan
Ganhador do Booker Prize, o mais importante prêmio
literário da Grã-Bretanha, Ian McEwan, nascido em 1948, é considerado um dos
principais autores ingleses da atualidade. De início influenciado pelo crítico
e escritor Malcolm Bradbury, escreveu Primeiro Amor, Último Sacramento, O
Jardim de Cimento e Ao Deus-Dará (The Comfort of Strangers), estes dois últimos
adaptados para o cinema. Aos poucos, vai perdendo a chave satírica e certo
gosto para o escabroso e o horrível, evoluindo para os temas mais nuançados, de
perfeito equilíbrio entre o corte introspectivo e as implicações políticas e
sociais, de seus romances da maturidade.
98. Desonra, de J. M. Coetzee
"O homem só é feliz quando morre." A frase
inaugural de Desonra (1999), concisa como o livro do sul-africano J. M.
Coetzee, diz tudo sobre o protagonista, David Lurie, um professor universitário
de meia-idade que vê a carreira ruir por causa de um escândalo sexual. A
realidade trazida por Coetzee é crua, retrato da África do Sul após o fim do
apartheid.
99. As Irmãs Makioka, de Junichiro Tanizaki
O choque entre o Japão antigo, baseado em tradições
milenares e lastreado em rígida estratificação social e sexual, e o país no
caminho para a modernização, com costumes mais libertários, mas movido por
valores estrangeiros e por vezes carentes de grandeza: esse é o tema não só de
As Irmãs Makioka, obra-prima de Junichiro
Tanizaki (1886-1965), como também
de quase toda a obra do escritor. Neste romance volumoso - cujo título original remete à neve fina, a última a cair no inverno -, o embate se
trava dentro de uma família e se representa pelas quatro irmãs do título pelo
qual o livro ficou conhecido no Ocidente. A personagem central é Yukiko, que
perdera várias oportunidades de matrimônio, pois a família tradicional
dispensara os candidatos a noivo.
100. Pedro Páramo, de Juan Rulfo
O realismo fantástico como hoje se conhece não teria
existido sem Pedro Páramo, o pequeno grande romance do mexicano Juan Rulfo
(1917-1986). É dessa fonte que beberam o colombiano Gabriel García Márquez e o
peruano Mario Vargas Llosa, entre tantos latino-americanos que narram as
odisseias latino-americanas. Editado em 1955, Pedro Páramo é o único romance e
o primeiro de dois livroslançados em toda a vida do autor - o outro é O Chão em
Chamas, uma coletânea de contos longos.
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