Carta para o futuro
por Allan Apter
Talvez já nos conhecemos ou ainda iremos em breve, para
falar a verdade isso não interessa. Também não interessa se foi aquela tua
amiga que nos apresentou, se foi na balada ou simplesmente em algum episódio
inusitado da vida que nossos caminhos se cruzaram.
Independente de onde ou quando foi, tenho uma certeza: você me achou um tagarela. Confesso,
adoro falar sobre tudo. Em poucas horas de conversa você já soube daquela minha
experiência espírita, da ligação forte com minha mãe, além do meu sushi
favorito ser Filadélfia e a carne obrigatoriamente mal passada.
Mas e o nosso primeiro beijo? É verdade, você acha que
demorou um pouco e até estava perdendo as esperanças, não havia nada de errado
com você. De fato não faço muito jus a aquela fama de conquistador barato
quando gosto de verdade. Penso, penso muito e em tudo, gosto das coisas no
tempo, forma e maneira certa. Depois de alguns jantares e intermináveis filmes
de 120 minutos apenas observando-a, pensando na melhor estratégia para
beijá-la, chegava sempre a conclusão de que era melhor esperar um pouco mais.
Num súbito momento de coragem fui bem-sucedido em nosso
beijo, aquele clichê de despedida dentro
do carro com gostinho de quero mais.
Você me conquistou, e com isso desperta todo aquele meu
lado romântico escondido. Volto a pegar um esquecido pendrive e ponho para
ouvir novamente no carro.
Subitamente o stressadinho no trânsito vai embora e
passa horas de engarrafo sorrindo, embalado aos hits mais meloso de James
Blunt, Robbie Williams e Dido. Dou aquele sorriso discreto, bobo, apaixonado.
Falando em sorrisos, não escondo que sou um admirador
do teu, iluminado pelos teus olhos claros, valem mais do que a bunda de panicat
e peitos siliconados das outras, embaladas em curtíssimos vestidos, que
insistem me provocar toda vez em que resolvemos curtir uma balada. Redescubro que amar não é somente quando te
acho linda, mas quando acho todas as outras feias.
Quero por fim agradecê-la, não é tarefa fácil aguentar
alguém tão cheio de manias como eu. Pode ter certeza que embora ranzinza e
resmungão, se chegou até aqui é porque de você não abro mão.
Quero que perceba, não foi você que me transformou, mas
o sentimento que sinto por você. Por me conhecer tão bem e sem ao menos saber
quem você é, consigo amá-la desse estranho jeito,minha futura mulher.
Allan Bohn Apter é Curitibano, Finlandês e Engenheiro.
Assumidamente burguês neo-liberal tem por hobbie discutir relacionamentos e
futilidades. Meio ogro, meio romântico: suas bebidas favoritas são shots de
vodka com pickles e Moët Chandon Nectar Imperial.
Fonte:
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário
Postar um comentário