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A rotina de um casal de religiosos é alterada pela
chegada de uma cunhada. Crônica baseada na música "Sob medida" de
Chico Buarque, na voz de Fafá de Belém
Casaram-se em uma cerimonia discreta, mas com muita
alegria. Jussara e Amilton ainda
seguiram o protocolo da orientação religiosa que tinham e chegaram a
noite de núpcias sem qualquer tipo de experiência sexual anterior, coisa rara
nos dias de hoje.
Haviam se conhecido há alguns anos na igreja evangélica
que frequentavam, ali próximo aos trilhos da Mooca, bairro bucólico da capital
paulista. Foi aquela coisa de paixão a primeira vista.
Assim que a avistou, mesmo sem falar uma palavra,
Amilton decidiu que ela seria sua esposa. Ambos de famílias simples e muito
jovens. Ele não tinha mais do que vinte anos e ela, dezesseis.
Sobre o rapaz pesava o fato de ser filho do pastor e
ter que servir de exemplo. Todos os dias desejava ter tido uma sorte diferente,
queria poder se divertir mais, como outros jovens faziam, mas diante dos fatos,
resignava-se ao seu destino.
Jussara, filha de um comerciante local, era uma moça
bem recatada, não gostava de música que não fosse da igreja e não era dada as
vaidades muito comuns em adolescentes. Da sua família, bastante numerosa, era a
mais carola. Repreendia a mãe quando esta usava qualquer tipo de maquiagem e
controlava a presença de todos nos cultos.
Para namorar Amilton, não ofereceu qualquer tipo de
resistência, apenas deixou claro que seguiria virgem até o altar e disso não
abriria mão. Não seria ela a dar motivos para os outros falarem.
Se alguém pudesse monitorar e medir a intensidade
daquele namoro, com toda certeza, teria dificuldades para escolher uma escala
adequada. Era uma relação xoxa. Muito xoxa.
Andavam de mãos dadas apenas e não ficavam por mais que
cinco minutos sozinhos. Pareciam mais irmãos do que namorados, toda a vez que
algum toque ou beijo mais voluptuoso esquentava o casal, Jussara pedia para
parar.
— Lembra do que combinamos, Amilton! — dizia a moça.
Amilton pensou em desistir, era um homem e tinha lá
seus desejos, mas ficou com medo da reação da comunidade e decidiu manter a
relação. Cada dia de vontade passada causava um tipo de raiva nele. “Ela me
paga! Na lua de mel farei com que a cidade inteira escute seus gritos!”,
pensava como uma forma de se consolar.
Com tantas restrições, o casamento acabou acontecendo
antes do idealizado por Jussara, apenas dois anos após se conhecerem, se é que
alguém pode afirmar que se conheceram até aquele momento.
Finalmente, a tão esperada lua de mel chegara! Mas, as
coisas não foram bem como Amilton havia pensado que seria.
Mesmo virgem, o rapaz esperava um pouco mais de calor
da experiência. Jussara não mostrou praticamente nenhum desejo. Assim que
chegou ao quarto, pediu para ir ao banheiro e, após demorar por quase uma hora,
voltou com uma camisola que parecia ter herdado da avó. Não é que era uma
camisola feia, era horrível.
Sem o menor constrangimento ou excitação, deitou-se na
cama e disse:
— Agora é com você.
“Como assim? Agora é comigo?”, pensou o rapaz. Estava
claro que ele teria que fazer todo o trabalho sozinho. A falta de experiência
dele também o deixou perdido, mas como não havia muito o que se fazer, partiu
para cima da moça.
— Calma! Apague a luz primeiro! Não quero que me veja
nua.
Como se a apatia de Jussara não bastasse, agora ele
também teria que lidar com a vergonha. Ia reclamar e pedir para que a luz
ficasse acesa, mas olhou novamente para a camisola e, prevendo o que estaria
por baixo, desligou o interruptor. Preferiu não arriscar.
Para sua infelicidade, o sexo foi uma espécie de
continuação do namoro.
Quando levantou na manhã seguinte, apenas o sangue no
lençol o deixou feliz. Chegou até a desconfiar que não o encontraria, visto que
a moça não fez ruído nenhum durante o ato.
As noites que se seguiram confirmaram aquilo que temia
e resolveu ter uma conversa com seu pai.
— Fale logo o que é, meu filho. Daqui a pouco tenho que
voltar e ministrar um culto.
— Pai, minha mulher está morta!
— Meu Deus! Como é que isso aconteceu? Algum acidente?
— questionou seu pai, mostrando-se perplexo pela revelação.
— Não, pai! Não é como está pensando! Ela não morreu,
ela só não tem vida, entende?
— Não! Nem um pouco!
— Minhas noites de intimidade entediariam até um garoto
de quinze anos.
Não há intimidade. Ela chega, deita e, praticamente, se faz de
morta!
Já mais calmo e agora entendendo do que se tratava, achou
por bem aconselhar o rapaz:
— Que benção, meu filho! Que benção! Prova de que sua
esposa é uma mulher honesta! Você queria uma mulher do mundo para lhe passar
para trás?
— parou por um segundo, colocou a mão no seu ombro e continuou —
Agradeça a Deus!
Como Amilton viu que não encontraria apoio algum após o
seu desabafo, fez cara de quem concordou e foi embora.
Meses se passaram. Nada mudou a não ser o desejo do
rapaz, que caiu drasticamente. O sexo do casal passou a ser um evento
esporádico e, como a esposa não se queixava, chegavam a passar semanas sem se
tocar.
Um dia, Amilton chega em casa e é surpreendido por duas
malas estacionadas bem no meio da sala. Por um momento pensou que sua esposa
estaria o deixando, o que não seria lá um grande problema para ele. Mas, era algo
muito pior.
Foi apresentado à uma cunhada que sequer sabia que existia
até aquele momento. Maíra vivia na sombra da família. Acabou excluída do grupo
por ter decidido cair no mundo e se desligar da igreja. Por esse motivo,
ninguém tocava em seu nome.
— Amilton, quero que você arrume o quarto dos fundos
para minha irmã. Eu não queria abrigá-la, mas não posso vê-la sem ter onde
ficar e mesmo discordando de suas atitudes, não lhe negarei um teto.
Não era só nas atitudes que elas não combinavam, se
ninguém falasse que eram irmãs, não haveria como saber.
Maíra era quente. O jeito de olhar mostrava que se o
Diabo de fato existisse, iria querer ter algo com ela. Ela não fazia o menor
esforço para ser sensual, era natural. Qualquer movimento, por mais simples que
fosse, parecia recheado de más intenções. O levantar de uma xícara, por
exemplo, chegava a provocar frio na barriga de Amilton.
Todos as noites, o marido tinha seu momento de oração
interrompido pelo barulho do secador de cabelos que vinha dos fundos. Era o
suficiente para desvirtuá-lo da fé e colocá-lo a pensar na cunhada, nua, secando
o cabelo após sair do banho.
Em um domingo, não estava se sentindo bem e acabou por
ficar em casa, enquanto Jussara achou melhor não faltar no culto.
Ao levantar foi até a cozinha e deparou-se com uma
visão que confirmou tudo o que pensava de Maíra. Com uma camiseta pequena e uma
calcinha minúscula, ela estava preparando um café. Como a cunhada estava de
costas para a porta, não percebeu a sua chegada, o que deu-lhe a chance de
admirá-la por algum tempo. Para não dar na vista, Amilton voltou para o quarto
silenciosamente e quando caminhou novamente para a cozinha fez questão de fazer
barulho para que ela percebesse.
— Eu sei que estava aí me olhando, Amilton. Pode parar
de fingir. — disse ainda em pé, e apontando uma das cadeiras continuou — Fique
tranquilo! Eu sei guardar segredo. Não contarei a ninguém que estava me
olhando.
O rapaz ficou completamente sem jeito. Não sabia onde
enfiar a cara. Contudo, já que não seria denunciado, sentou-se.
— Eu soube do seu desejo por mim no dia em que vi seus
olhos. É isso mesmo? Você estaria disposto a arriscar seu casamento por uma
mulher do mundo como eu?
— Que casamento? — respondeu com um sorriso irônico.
A resposta foi o que Maíra precisava ouvir. Naquele
dia, Amilton finalmente soube o que era ser feliz com uma mulher. Fez tudo o
que tinha vontade e descobriu que havia muito mais do que imaginava. Por
insistência da cunhada, usaram todos os cômodos da casa, não escapando nem a
cama do casal.
Daquele domingo em diante, bastava qualquer saída,
mesmo que curta, de Jussara, para que a pouca vergonha e a luxúria tomasse
conta da casa.
Não levou muito tempo para que o marido considerasse
sua esposa um verdadeiro purgante. Mesmo sabendo que as aparências deveriam ser
mantidas para o bem de todos, um dia Amilton não aguentou.
— Vou abrir o jogo com sua irmã, Maíra! Não aguento
mais viver essa mentira! Largo dela, pegamos nossas coisas e fugimos.
A cunhada parou o que estava fazendo e, aproximando-se,
olhou nos olhos do amante e foi seca:
— Nunca mais tenha a coragem de propor uma coisa dessa!
Você está achando o quê? Se você largar da minha irmã, nunca mais encostará as
mãos em mim! Entendeu?
Amilton não teve alternativa a não ser concordar e
continuar mantendo aquela farsa. Em alguns domingos os três eram vistos nos
cultos, em outros só a esposa.
Sob Medida Fafá de Belém
Se você crê em Deus Erga as mãos para os céus E agradeça Quando me cobiçou Sem querer acertou Na cabeça Eu sou sua alma gêmea Sou sua fêmea Seu par, sua irmã Eu sou seu incesto Sou igual a você Eu nasci pra você Eu não presto Eu não presto
Traiçoeira e vulgar Sou sem nome e sem lar Sou aquela Eu sou filha da rua Eu sou cria da sua Costela Sou bandida Sou solta na vida E sob medida Pros carinhos seus Meu amigo Se ajeite comigo E dê graças a Deus
Se você crê em Deus Encaminhe pros céus Uma prece E agradeça ao Senhor Você tem o amor Que merece
Marcelo Vitorino-
Trabalho com publicidade desde 1999 e, depois de um tempo, acabei indo
naturalmente para o marketing e desde 2007 passei a integrar o pessoal
do marketing digital.
Como
produtor de conteúdo na internet estreei escrevendo o Pergunte ao Urso,
um projeto que visava entender como funcionava o consumo de conteúdo
pelo público feminino. A ideia deu certo, o blog virou dois livros, teve
presença em rádio, mídia impressa e até na televisão. Chegou a ter um
milhão de acessos mensais.
No
final de 2012 decidi que era a hora de virar a página e encerrar o
projeto. Publiquei todo o meu aprendizado em um documento que está
disponível na internet, portanto, se você quer começar um blog, sugiro
que leia.
Acabei
me viciando em escrever e interagir com o público. Já que não fui forte
o bastante para largar o vício, entendi que o melhor caminho era
começar outro projeto.
Sou
fruto de uma família muito numerosa e como acabei chegando por último
tive uma formação muito diferenciada. Aos 14 anos escutava muita Bossa
Nova e MPB, depois passei a escutar Samba, Blues, Jazz e Soul. Fui
escutar Rock e outros gêneros musicais bem mais velho.
O fato é que sempre gostei de música. Para mim, todo grande momento da vida tem uma trilha sonora.
Como
referências literárias tenho dois modelos: Nelson Rodrigues e Luís
Fernando Veríssimo. O primeiro pela ambientação perfeita que há nos seus
textos, o segundo pelo diálogo e reflexões de seus personagens.
Por que ainda produzimos literatura? Cassio Pantaleoni Dia desses, um jornalista amigo meu me perguntou sobre o sentido ...
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