 |
Colagem de Erika Stránská,
garota presa em campo
de concentração nazista
(Foto: Divulgação)
|
Desenhos de crianças que
viveram em campo de concentração nazista são exibidos em SP
Mostra ‘As meninas do
Quarto 28’ traz réplica em tamanho real do espaço onde ficavam as garotas
Por Edson Caldas
Era 1974. Karen Zolko
tinha 13 anos e viajava com sua família para a então Checoslováquia. Durante um
passeio ao Museu Judaico de Praga, em uma exposição de desenhos feitos em um
campo de concentração, sua mãe, Monika, de repente tem uma enorme surpresa. Ela
olha fixamente para um dos quadros. Aquela era a assinatura de sua irmã, morta
em uma câmara de gás durante a Segunda Guerra Mundial.
A história que mais parece
fazer parte de um roteiro cinematográfico é real. E hoje, Karen traz os
desenhos da tia e de diversas outras garotas do mesmo campo de concentração, em
Theresienstadt (cidade localizada onde hoje fica a República Tcheca), pela
primeira vez ao Brasil.
Não foi uma tarefa fácil:
na época, a família teve dificuldade de conseguir informações sobre as obras.
“Nós sabíamos que tinha esse desenho, mas não sabíamos o porquê dos desenhos de
crianças, toda a história por trás deles”, diz Karen, em entrevista à GALILEU.
Há dois anos, no entanto, ela resolveu tentar outra vez. Enviou uma carta ao
museu contando sua história e solicitando uma cópia da obra. “Queria dar de
presente para minha mãe, fazer uma surpresa.”
Poucos dias depois,
recebeu a resposta. O diretor do museu se disse emocionado e informou não ter
apenas um desenho de sua tia, Erika Stránská, mas 30. Ele enviou o link das
imagens, além de nomes de obras relacionadas aos desenhos, como livros e
documentários. Karen então contatou a escritora responsável por As Meninas do
Quarto 28. “Descobrimos que a Erika era uma das meninas.”
O poder terapêutico da
arte
Por meio do livro de
Hannelore Brenner, com depoimentos das poucas garotas que sobreviveram ao campo
nazista, a família soube como foram os dois últimos anos de vida de Erika. Foi
aí que Karen decidiu se juntar à amiga Dodi Chansky e trazer o livro, além de
uma exposição com os desenhos, para o Brasil. No País, a mostra ganhou a força
de organizações que lidam com arte-terapia.
Das 15 mil crianças do
campo, apenas 93 sobreviveram – 15 delas eram do Quarto 28. Apesar da situação
extremamente precária em que viviam, as garotas entre 12 e 14 anos que moravam
no quarto tiveram contato com professores, compositores e artistas, que também
estavam presos. Eles tentavam minimizar o sofrimento com atividades lúdicas.
A artista plástica Friedl
Dicker Brandeis, deportada para Theresienstadt em 1942, levou poucos pertences
pessoais para prisão, mas muitos materiais artísticos. Friedl percebeu que a
arte poderia ser uma importante ferramenta terapêutica. Antes de morrer em uma
câmara de gás, a artista escondeu milhares de desenhos em uma mala, achada dez
anos depois da guerra. Hoje, os desenhos estão expostos em Praga.
"Os desenhos são
depoimentos de um dos maiores genocídios da História"
Karen Zolko
Pela primeira vez no
Brasil
“As meninas do Quarto 28”
entrou em cartaz sexta-feira, 23, no Museu Brasileiro de Escultura
(MuBE), em São Paulo. A exposição conta com uma réplica do quarto em tamanho
real, que pode ser explorada pelos visitantes, além de painéis e réplicas dos
desenhos que narram a realidade do período. A entrada é gratuita.
“A importância do resgate
é que, em primeiro lugar, os desenhos são depoimentos de um dos maiores
genocídios já vistos na História. Isso é uma forma de documentação. Relatos em
forma de arte de crianças que passaram por isso”, afirma Karen. “E para mim, especificamente
falando, se não houvesse esses desenhos não teria encontrado essa história. Foi
o fechamento de algo que estava em aberto.”
Fonte:
Revista Galileu
Nenhum comentário
Postar um comentário