O artista é um criador de silêncios e de nadas [Janne Alves de Souza]
Artista não dá para descrever, conceituar. Mas é aquele que sente de um modo arrebatador um ímpeto por fazer arte, de modo que ele não consegue não fazer arte, não consegue não ser artista. Porque é como se não ser artista o ferisse mortalmente e ele seria então qualquer coisa quase-morta que só tem ainda fôlego de vida porque esse desejo ardente que o fere como na carne o mantém vivo. Artista é aquele cuja pele - pele é o que o artista é - é sensível de tal forma que qualquer coisa o pode ferir e, ferindo-o, desperta o ímpeto por fazer arte. Arte não dá para descrever. Mas é aquilo que expõe a ferida do criador, que fende sua pele de forma que através da ferida se vê aquilo que despertou a sensibilidade do artista, aquilo que o feriu.
A arte é a liberdade plena. A liberdade criada. O impossível impede-nos de ser completamente, e de ser livres. Ser livre é uma utopia. Fazer arte é ser livre. É criar o nada. É, não tornar o impossível possível, mas experimentá-lo. É ser Deus. Deus é silêncio. Eu é silêncio. Eu me encontro com Deus no silêncio. Eu me encontro no silêncio. Porque eu participo da existência divina. Todo ser humano é destinado a ser Deus. A arte é silenciosa. Qualquer expressão do eu que não seja o silêncio, por que o silêncio é a ausência de expressão - porque é anterior -, é corrompida - porque é passível de interpretação. Só o silêncio é verdade. O silêncio não é significável. Porque na sua eterna mudez significa todas as coisas, todos os tempos. Silêncio é nada. Não existe nada maior, mais abundante que o nada - porque o nada, pela sua negação, é tudo. O artista é um criador de silêncios e de nadas.
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