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Anônimos e belos! A poesia detrás das janelas. (Publicação II -Rubens Jardim) [Ivana Schäfer]
Anônimos e belos! A poesia detrás das janelas. (Publicação II -Rubens Jardim)
Como prometi, estou seguindo a série da publicação dos bons poetas. Nesta segunda viagem trago para vocês um poeta generoso, talentoso, atencioso, o poeta da Catequese, das
ruas, das praças,da emoção pura, apresento a vocês Rubens Jardim.
Rubens Jardim, 67 anos,
jornalista e poeta. Foi redator chefe Gazeta da Lapa e trabalhou no Diário
Popular, Editora Abril e Gazeta Mercantil. Participou de várias antologias e é
autor de Quatro livros de poemas: ULTIMATUM (1966), ESPELHO RISCADO (1978)e
CANTARES DA PAIXÃO (2008) e Fora da Estante (2012). Rubens Jardim, entre
tantas demonstrações de amor à poesia e engajamento na sua popularização,
promoveu e organizou o ANO JORGE DE LIMA em 1973, comemorando os 80 anos do
nascimento do poeta. Presente ao evento ninguém mais que Carlos Drummond de
Andrade, Menotti del Pichia, Cassiano Ricardo, Raduan Nassar e outras figuras
importantes da literatura do Brasil que o apoiaram nesse intento. Rubens
integrou o movimento CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964, cujo
lema era: o lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos
os lugares.. Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília (2008)
com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional. Fez também leituras
no café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília. E participou da Mini Feira do
Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do Sertão, livro-homenagem ao
centenário de Guimarães Rosa. Rubens Jardim é um
ativista cultural que, quando ainda não se falava em inclusão literária,
engajava-se em torno de publicações acessíveis e divulgação da arte poética.
Muito além de participar de publicações coletivas, reúne um rico acervo de
poesias, que mostra seu desinibido olhar sobre as coisas da vida. Sua poesia
transita os mais diversos temas; vai da crítica social à evasão. Por vezes
trabalha com esmero sua criatividade e mostra total informalidade no trato
verbal, outrossim dedica-se à formalidade de um soneto em toda sua
peculiaridade. Essa versatilidade o torna um autor com grande literacia e faz
sua poesia transitar facilmente entre os novos poetas contemporâneos. Affonso
Romano já havia refletido sobre o seu fazer poético, dizendo: "... Rubens
Jardim solucionou, ao seu modo, e de maneira criativa uma série de impasses
vividos pela poesia nas últimas décadas..." e, é por isso que fazemos nota
desse grande artista que, além de seu tempo, na melhor forma de dizer a arte,
não a discute mais do que a produz. O poeta tem se dedicado em revelar talentos
femininos em mais uma iniciativa inclusiva de fomento a produção e divulgação
poética no seu Diário; entre os grandes talentos Márcia Maranhão de Conti,
maranhense que já soma feitos no universo literário. Convidado a fazer parte do
Projeto na Coletânea "Cumplicidade das palavras", Rubens Jardim
mostrou-se, não só acessível, como dono de uma grande generosidade; o que faz
dele um artista completo. “Rubens é o poeta de hoje,
definitivo e consumado. Ele só seria o poeta do futuro - como gostam de prever
os críticos de rugas e casaca - se a arte admitisse progresso. Flávio Márcio,
(dramaturgo) Affonso
Romano de Sant’Anna diz que “Rubens Jardim pode tanto produzir um poema com o
mínimo de palavras ou letras, como um magnífico soneto. Pode compor um poema
voltado para problemas sociais ou para a repressão política, ou pode dedicar-se
à sua infância e a temas subjetivamente familiares. E tudo com a desenvoltura
de quem sabe o que está fazendo. Claudio
Willerclassifica Rubens Jardim“desde já, entre os mais confessionais dos poetas
contemporâneos brasileiros; pelos mesmos motivos, entre os mais honestos Páginas na Internet: Site: Rubens Jardim Facebook: Rubens Jardim
Boa leitura!
POEMA
DO AVESSO
O que há em mim
é a lenta preparação
do que há em ti
sombra segada
sangrada
e sagrada
até nos olhos dos meninos
que nasceram sem olhos
vidência única
(vide o verso)
visão múltipla
(vede o anverso)
e tudo que está
do outro lado
do espelho.
EXERCÍCIOS
DE VIAGEM
1
entre a via veneto
e a peixoto gomide
existe um fosso
e nenhum castelo
existe um poço
e nenhuma água
existe eu posso?
2
entre Roma
e São Paulo
eu fico com Cotia
sem caos aéreo
e sem palavras importantes
como Campidoglio
Coliseu, Piazza Navona
ou Fontana di Trevi.
Eu quero as palavras sem
gala
as palavras simples
que nomeiam a
maria-sem-vergonha
e um pássaro que passa
sem nome
– mas voa!
FLAGRANTE
O morto na avenida
está livre da sepultura.
Não sei se é desaforo
ficar assim estendido
no chão. Mas a morte
é a quebra de protocolo,
a entrega de uma carta
endereçada ao nada.
Mulher
é linguagem
toda mulher é uma viagem
ao desconhecido. igual
poesia
aversa ao verso e à
trucagem
mulher é iniciação do dia
promessa, surpresa,
miragem.
de nada adiantam mapas,
guias,
cenas ensaiadas ou
pilhagens.
controverso ser, mulher é
via
de mão única, abismo,
moagem.
é também risco máximo,
magia,
caminho íngreme e
paisagem.
simplificando: mulher é
linguagem,
palavra nova, imagem que
anistia
o ser, o vir-a-ser e
outras bobagens.
[viagem ao desconhecido -
Rubens Jardim]
Provocações - Toda Mulher
é (Rubens Jardim)
A
DESEJADA
Onde está a desejada da
minha alma,
a mulher que criou
janelas, portas e abismos
e se escondeu de todos os
meus caminhos?
Antes que o tempo destrua
minha calma
Eu quero me debruçar sobre
sua presença.
Ou sobre sua lembrança.
Preciso de um prisma
Para celebrar as suas
cóleras, as suas cismas.
A desejada da minha alma é
uma sentença
Que ficou no avesso
controverso do fichário,
é o verso rabiscado em um
momento raro,
é a urgência escrita desta
brasa imaginária.
Sou o construtor desta
mulher lendária
que me habita como
botequim ignaro
e me faz louvar até as
mágoas mais ordinárias.
CORAÇÃO
DO MUNDO
No pulso da palavra
sinto bater
o coração do mundo.
PAIXÃO
1
Nunca mais vou sair
do Ajuntament de Girona.
Estou à mercê dessa
cidade e não vou
abandonar aquilo que fui
dentro de suas muralhas
para penetrar no futuro
essa fogueira escura.
Não quero novos
itinerários.
Sei que existem nuevos
rincones
y nuevos descobrimientos.
Mas eu quero ficar em
Girona.
Preciso descobrir
entre a luz e a pedra,
a mão que prende
a eternidade ao nada.
2
Me deixem ficar na
Catedral
de Girona rodeado de vidrieras,
platas repujadas, anjos e
esculturas.
Sei que os toques manuais
dos sinos
desapareceram da torre
e os bronzes sagrados
já não vibram ritmos
tradicionais.
Mas o que importa isso
se aqui encontrei a
proporção
exata dos homens e de
Deus..
3
Em nenhum outro templo
gótico eu percebi pulsar
tanto
a serenidade e o silêncio.
Aqui até os santos
imploram
para não sair dos altares.
4
Nesta Igreja de Sant Feliu
entre sarcófagos pagãos e
cristãos
eu permaneço de mãos dadas
com o impossível. Até o
Cristo
de alabastro se comove com
as palavras que ainda
vivem
na boca do padre e
irrompem
resolutas, sagradas,
sangradas.
É pela boca que começa
o juízo inicial . E final.
5
Como se fosses minha e
jamais me abandonasses,
Assim te busco, impossível
cidade que me liberta do
chão, do céu, desse canto
desse beco e dessa esquina
escondida nos mil
disfarces
da palavra.
Versos da solidão,
cotovia sagrada.
Eu te sagro nesta praça
Eu te sangro nos beirais
precipitados do meu amor
xxxxxxxx
Nesta janela aberta
meu olho devassado
meu espírito movediço
meu gesto imperfeito.
Nesta janela aberta
minhas celebrações
minha província
minha referencialidade.
O
POEMA
O poema é
isso e aquilo
(o verso
e o reverso)
O poema é
disso e daquilo
(objeção
e objeto)
O poema é
síntese e sintaxe
(iluminação
e eliminação)
O poema é
língua e linguagem
(construção
e desmoronamento)
Através disso
consagro a travessia:
o dever de ir
e o devir.
Seresta
Uma corda
Um cardo
E o som desse rosto
sem arestas.
Acho
que a poesia sendo a antimercadoria por excelência é a última trincheira
de
resistência ao leque de bugigangas da sociedade de consumo.
RUBENS JARDIM
Os
dez poemas, acima, foram uma escolha minha e se alguém tem algum poema
deste poeta e não está na lista, nos mande e terei o prazer de
acrescentar.Espero que tenham gostado desta linda viagem nos versos do poeta Rubens Jardim. Fonte:
Ivana Schäfer
- Pedagoga com Habilitação em Orientação Educacional, Especialização em
Psicopedagogia e Cerimonialista. Sou Cuiabana de "tchapa e cruz", amo
minha terra, meu povo e a nossa cultura. Sou do Mato ....de Mato Grosso.
Página na internet:
Anônimos e belos! A poesia detrás das janelas. (Publicação II -Rubens Jardim) [Ivana Schäfer]
Reviewed by Revista Biografia
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julho 03, 2014
Rating: 5
Maravilhosa viagem ao não menos maravilhoso, e por vezes instigante e tenso, mundo do poeta que traz um jardim, de flores e espinhos também, no nome! Adorei!
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Um comentário
Maravilhosa viagem ao não menos maravilhoso, e por vezes instigante e tenso, mundo do poeta que traz um jardim, de flores e espinhos também, no nome!
Adorei!
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