O
Avesso, de Walfrido Nacimento
Por Isabela Lapa
Em um mundo marcado por
diversos conflitos raciais e infinitas lutas por poder e dominação social, nós
crescemos sabendo da triste e injusta diferença entre negros e brancos. Do
prisma conhecido na história e vivenciado por todos, os brancos, por um grande
período, reduziram nos negros à condição de escravos, colocando-os em situações
sub-humanas e degradantes.
Pois bem... Nesse livro o
que acontece é exatamente o contrário! Com muita originalidade e criatividade,
o escritor Walfrido Nascimento narrou a história do mundo colocando os negros
como poderosos e os brancos como escravos. Exatamente por essa inversão da
realidade que o livro foi intitulado de O Avesso, tendo o escritor explicado,
logo no Prefácio, que tudo o que escreveu surgiu a partir da sua constante
mania de questionar os acontecimentos e tentar imaginá-los sob outra
perspectiva. Por tudo isso, entendo que a premissa básica da história foi o
eterno e incansável "e se"?
E então, já imaginou como
seria o mundo se lá no passado as coisas tivessem sido diferentes? Ora, a ideia
de poder, superioridade, controle, dominação e exclusão é típica dos brancos ou
é simplesmente natural à condição de todo ser humano, independente da cor?
Todas essas questões foram
abordadas na história a partir do momento em que um navio que transportava uma
família de nobres e que conduzia escravos que seriam comercializados, se perdeu
e chegou a uma ilha deserta.
Sem saber como solucionar
a questão até que fossem encontrados, os negros foram obrigados a aceitar a
convivência com os brancos e, para isso, decidiram estipular regras e limites.
Acontece que mesmo diante das normas e dos limites impostos, a desconfiança
nunca deixou de existir entre os grupos.
Após um longo período no
local, convictos de que morreriam por lá, decidiram se reunir para discutir a
questão e, ao final da conversa, optaram pela tentativa de uma convivência em
comum entre os grupos.
"Daí para frente nada
mudou nas relações entre os dois grupos. Na semana seguinte, tomariam a difícil
decisão: viver brancos e negros numa ilha deserta, tendo que dividir o mesmo
espaço, a mesma comida e as mesmas regras. Será isso possível? Só o futuro
diria."
"E assim a vida vai
correndo na ilha. Desconfiança, esperança, medo, ódio, saudade e solidariedade
se misturam, se confundem e se afloram a cada momento, como vulcões, como
furações que açoitam aqueles seres que o destino, Olorum ou Jesus resolveram
juntar numa aventura única, onde cada passo é uma longa e sofisticada
caminhada. Rumo a quê?"
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Acontece que como em todos os momentos polêmicos em uma
sociedade, independente do tamanho da mesma, existem os que concordam com a
mudança, os que não concordam e aqueles que fingem concordar, para em seguida
mudar as táticas do jogo.
A verdade é que
independente dos posicionamentos, em pouco tempo começaram a surgir os
"mulatos". Essa situação, ao mesmo tempo em que pacificou a relação
entre alguns, intensificou o ódio de outros, criando um universo de intrigas,
mentiras, guerras e tentativas incansáveis pela manutenção do poder ou pela
conquista do mesmo.
Todos esses problemas, que
se tornavam mais intensos na medida em
que a "República dos Mulatos", como denominaram o local, ia se
ampliando e se desenvolvendo, tornaram-se ainda maiores e mais complexos quando
o local foi descoberto.
"-
Meu plano não permite testemunhas. Ninguém, jamais, poderá saber da existência
da ilha nem da República dos Mulatos. Vocês, vivos, não somente revelariam a
história dos teutos como me denunciariam pelo assassinato dos tripulantes e
passageiros do navio, portanto, vocês morrerão."mo a quê?"
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Dizer mais que isso é
estragar a história do livro, que foi construída com uma riqueza incrível de
detalhes... Os cenários foram bem descritos e bem caracterizados, os personagens
e os locais receberam nomes característicos de épocas mais remotas e o escritor
cuidou até mesmo de criar um possível linguajar diferenciado para enfatizar o
distanciamento entre os negros poderosos e os brancos escravos.
"As estranhas
palavras usadas pelos teutos são de seu dialeto e servem para designar alguns
nomes e coisas. A forma escrita é como os negros entendiam a pronúncia daquelas
palavras, embora não soubessem o significado. Somente muito mais tarde viriam
saber que Cônigue significa rei; Erzogue, barão; Faiden se referia a inimigos;
(...)"
Também é preciso destacar
a narrativa inteligente e original, que apresenta um texto coerente, sem pontas
soltas e muito bem escrito... Sem dúvida um livro original, que superou as
minhas expectativas do início ao fim. Ou melhor, como dito na última linha da
história "Fim?".
Ah, um destaque para a
capa linda e com cores vibrantes que caracterizou com perfeição a ideia do
livro. Um mérito do ilustrador Geraldo Martins. Alem disso, a impressão está em
folhas amarelas que facilitam (e muito) a leitura, já que não cansam as vistas.
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Confiram...
Isabela Lapa e Kellen Pavão – Administradoras do blog Universo dos Leitores,
que fala de livros e de tudo que estiver relacionado a estes pequenos
pedaços de papel que nos transferem do mundo real para o universo dos
sonhos, das palavras e da felicidade!
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