AS MULHERES POETAS NA
LITERATURA BRASILEIRA (27ª)
Mais uma vez, saímos fora
do esquema de reunir aqui os poemas de 4 poetas brasileiras. Mas temos boas
razões pra isso: Helena Kolody, como tantas outras vozes da poesia brasileira,
merece esse tratamento especial. Além disso, está sendo comemorado, este
ano, o seu centenário.
HELENA KOLODY (1912-2004)
poeta paranaense, professora e presença atuante no meio cultural, foi a
primeira mulher brasileira a publicar haicais. No seu primeiro livro, Paisagem
Interior(1941), entre os 45 poemas
estavam 3 haicais. O mais conhecido era este: Arco-íris/ Arco-íris no céu./Está
sorrindo o menino/Que há pouco chorou/. Já nesse livro de estréia, com poemas
voltados aquilo que está mais oculto em cada ser, Helena conquista o prêmio de
poesia no Concurso Nacional dos Homens de Letras do Brasil. Admirada por
Drummond e Leminski, deixou vasta e expressiva obra poética, que merece ser
conhecida e divulgada. São mais de dezoito livros que foram reconhecidos e
aplaudidos por poetas e críticos como Tasso da Silveira, Walmir Ayala, Andrade
Muricy e muitos outros. Pra se ter uma idéia da importância e da dimensão da
linguagem dessa poeta, ai vai o depoimento de Paulo Leminski, em artigo que
aborda o lançamento de Sempre Palavra(1985): “Santa Helena Kolody –padroeira da
poesia em Curitiba—acaba de fazer mais um milagre. Chama-se Sempre Palavra; tem
apenas cinquenta páginas e uns quarenta pequenos poemas. Mas tem luz para
iluminar esta cidade por todo um ano...Helena passou esses anos todos meio
intocada pelas novidades que fervilham no eixo Rio-São Paulo, alquimista
mergulhando sozinha até a essência do seu livro, até o momento em que, como
diz, o carbono acorda diamante”.
Felizmente, neste ano de
2012 em que se celebra seu centenário de nascimento, uma série de comemorações
e ações culturais procuram resgatar o seu nome e dar visibilidade ao seu
trabalho poético. Muitas dessas ações foram desenvolvidas pelas secretarias de
cultura e de educação do Paraná. Esse trabalho envolveu a rede de bibliotecas,
as escolas e os alunos que puderam realizar atividades de declamação e
interpretação de poemas. Foram produzidos, também, livros e cadernos ilustrados
com poesias, haicais e frases da autora, murais e trabalhos artísticos
utilizando materiais alternativos. Enriqueceu o panorama de homenagens a
exposição Helena Kolody 100 Anos, com fotografias, poemas e depoimentos da
autora que foram dispostos nas escadas no prédio da biblioteca pública do
Paraná. Essa mostra ainda pode ser vista, pois fica em cartaz até o dia 26 de
outubro.
Outra homenagem foi a
apresentação da peça Helena, inspirada na obra da poeta, e que reuniu o
dramaturgo Edson Bueno e o Grupo Delírio Cia. De Teatro. Edson teve a
oportunidade de conhecer a escritora pessoalmente, e diz que retomou a leitura
da obra literária para a montagem. “Fizemos com a preocupação de ser algo lindo
e interessante, passar a ideia de quem era ela. Eu a conheci quando ainda
trabalhava na Gibiteca, ela tinha um olho brilhante, que parecia de criança. E
seu texto tem a simplicidade dos sábios.”
Segundo o diretor da
Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira, “A obra dela tem muita
importância, mas é pouco discutida e lida. A imagem foi o que ficou de mais
forte, o que de certa forma acabou ofuscando a sua obra, que é muito rica. Ela
não era uma professorinha, era uma poeta que se preocupava com as questões da
literatura. Temos de desmistificar essa figura romântica que existe sobre ela.”
O jornal Cândido,
publicado pela BPP, também dedicou capa e parte significativa da edição de
outubro ao percurso da autora, com reportagens, depoimentos, poemas,
ilustrações, fotos e um importante resgate da participação de Helena no projeto
Um Escritor na Biblioteca. No primeiro
semestre deste ano, a secretaria de estado da cultura do Paraná lançou a
revista Helena, com periodicidade trimestral, que além de fazer referência à
civilização helênica, homenageia o centenário de Helena Kolody, talvez a mais
importante poeta da história do Paraná, mas que não teve grande destaque
nacional. E três escolas de educação especial, no bairro de Santa Felicidade,
inauguraram este mês o Circuito Helena Kolody, um trajeto em um pequeno bosque
onde foram distribuídos poemas e haicais da poeta paranaense. Está na
programação, ainda, a exibição do curta-metragem A Babel da Luz, do cineasta
Sylvio Back, feito em comemoração aos 80 anos da poeta.
OBRA POÉTICA - Paisagem
Interior (1941);Música Submersa (1945);A Sombra no Rio (1951);Poesias Completas
(1961);Vida Breve (1965);Era Espacial e Trilha Sonora (1966);Antologia Poética
(1967);Tempo (1970);Correnteza (1977, seleção de poemas publicados até esta
data);Infinito Presente (1980);Poesias Escolhidas (1983, traduções de seus
poemas para o ucraniano);Sempre Palavra (1985);Poesia Mínima (1986);Viagem no
Espelho (1988, reunião de vários livros já publicados);Ontem, Agora
(1991);Reika (1993);Sempre Poesia (1994,antologia poética);Caixinha de Música
(1996);Luz Infinita (1997, edição bilíngüe);Sinfonia da Vida (1997, antologia
poética com depoimentos da poetisa);Helena Kolody por Helena Kolody (1997, CD
gravado para a coleção Poesia Falada);Poemas do Amor Impossível (2002,
antologia poética)
PRÊMIOS E HOMENAGENS --
1985 - Recebe o "Diploma de Mérito Literário da Prefeitura de
Curitiba".1987 - Recebe o título de "Cidadã Honorária de
Curitiba".1988 - Criação do "Concurso Nacional de Poesia Helena
Kolody", realizado anualmente pela Secretaria da Cultura do Paraná, em sua
homenagem.1989 - Gravação e publicação de seu depoimento para o Museu da Imagem
e do Som do Paraná.1991 - Eleita para a Academia Paranaense de Letras.1992 - O
filme A Babel de Luz, do cineasta Sylvio Back, homenageia os 80 anos da
poetisa, tendo recebido o prêmio de melhor curta-metragem e melhor montagem, do
25° Festival de Brasília.2002 - Exposição em homenagem aos 90 anos da poetisa,
na Biblioteca Pública do Paraná.2003 - Recebe o título de "Doutora Honoris
Causa" pela Universidade Federal do Paraná.
POETA
O poeta nasce no poema,
inventa-se em palavras.
RETRATO ANTIGO
Quem é essa
que me olha
de tão longe,
com olhos que foram meus?
LIÇÃO
A luz da lamparina dançava
frente ao ícone da
Santíssima Trindade.
Paciente, a avó ensinava
a prostrar-se em reverência,
persignar-se com três
dedos
e rezar em língua eslava.
De mãos postas, a menina
fielmente repetia
palavras que ela ignorava,
mas Deus entendia.
POESIA MÍNIMA
Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.
AREIA
Da estátua de areia,
nada restará,
depois da maré cheia.
PÂNICO
Não há mais lugar no
mundo.
Não há mais lugar.
Aranhas do medo
fiam ciladas no escuro
Nos longes, pesam
tormentas.
Rolam soturnos ribombos.
Súbito,
precipita-se nos
desfiladeiros
a vida em pânico.
JOVEM
Suporta o peso do mundo.
E resiste.
Protesta na praça.
Contesta.
Explode em aplausos.
Escreve recados
nos muros do tempo.
E assina.
Compete
no jogo incerto da vida.
Existe.
GRAFITE
Meu nome,
desenho a giz
no muro de tempo.
Choveu,
sumiu.
MERGULHO
Almejo mergulhar
na solidão e no silêncio,
para encontrar-me
e despojar-me de mim,
até que a Eterna Presença
seja a minha plenitude.
JORNADA
Tão longa a jornada!
E a gente cai, de repente,
No abismo do nada
LOUCURA LÚCIDA
Pairo, de súbito,
noutra dimensão
Alucina-me a poesia,
loucura lúcida.
SEM AVISO
Sem aviso,
o vento vira
uma página da vida
Rubens Jardim,
67 anos, jornalista e poeta. Foi redator chefe Gazeta da Lapa e
trabalhou no Diário Popular, Editora Abril e Gazeta Mercantil.
Participou de várias antologias e é autor de três livros de poemas:
ULTIMATUM (1966), ESPELHO RISCADO (1978)e CANTARES DA PAIXÃO (2008).
Promoveu e organizou o ANO JORGE DE LIMA em 1973, em comemoração aos 80
anos do nascimento do poeta, evento que contou com o apoio de Carlos
Drummond de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Raduan
Nassar e outras figuras importantes da literatura do Brasil. Organizou e
publicou JORGE, 8O ANOS - uma espécie de iniciação à parte menos
conhecida e divulgada da obra do poeta alagoano. Integrou o movimento
CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964, cujo lema era: o
lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os
lugares... Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília
(2008) com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional.
Fez também leituras no café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília. E
participou da Mini Feira do Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do
Sertão, livro-homenagem ao centenário de Guimarães Rosa. Teve poemas
publicados na plaquete Fora da Estante, (2012), coleção Poesia Viva, do
Centro Cultural São Paulo. Páginas na Internet: Site: Rubens Jardim e Facebook: Rubens Jardim
Nenhum comentário
Postar um comentário