Transeunte
Se eu pudesse escolher uma
palavra que me definisse, essa seria: transeunte.
A escolha se dá pela
consciência de que tudo passa e de que eu passo por tudo: pelas horas
enfileiradas, pelas sensações indescritíveis e abstratas.
Sou transeunte de mim
mesma, em mim mesma. Transito pelo corpo que vai crescendo, que é formoso e que
decairá. Transito por minhas lembranças, vivas, irradiantes, que vão esmorecer e
um dia se apagarão.
Não pertenço a nada e não
poderei desejar nada que faça ficar em nenhum lugar, porque a vida é movimento
e se o é, que a estrada caminhe sob meus pés.
Não sou e nem serei nada,
uma vez que logo desfarei minha existência em pó, tão seco e leve como as
areias do deserto. Tão facilmente carregado pelo vento que o mundo será
pequeno.
Por ser transeunte,
passante, não me restam lamentos de horas tristes e nem grandes comemorações
para as horas felizes. Passo por elas como quem anda em um corredor de uma
galeria de obras de arte: pouco se sabe do autor, mas admira-se a beleza, a dor
ou a potencial alegria, mas jamais se fixa naquele momento, naquele lugar.
Precisamos passar. Para que outros possam vir. Para que novidades se
descortinem.
A certa altura pouco
importa para onde vou, apenas o ato de ir me é lícito e válido e merece o
reconhecimento. É como nasci, passando de minha mãe para o mundo, é como
terminarei, passando do mundo para o descanso eterno, se assim o merecer.
Transeunte. Passante. Ser
que caminha. Pés que andam e pouco param. Pessoa que aprendeu a amar as
partidas com a mesma intensidade das chegadas e que acha as despedidas tão
nobres quanto as boas-vindas.
Eis que sou caminhante da
vida e que me perdendo nos caminhos, crio novos atalhos e me acho. Eis que me
acho definida: transeunte.
Dy Eiterer -
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de
novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora,
escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa
mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu,
seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do
ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada
morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando
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